Com a morte de Alain Delon, ídolo da minha geração, fiz um flashback e revi filmes seus que adoro, O Sol por Testemunha (1960), quando ele, novinho, bomba; o sofisticado O Leopardo (1963) de Luchino Visconti com a bela Claudia Cardinale; A Piscina (1969) ao lado da paixão de sua vida, Romy Schneider; e alguns que nunca havia assistido, como os de gângsteres, que Delon interpretava com louvor e fez aos montes.
Numa dessas imersões, assisti a Os Aventureiros (1967), onde ele com Lina Ventura – outro que adoro – buscam um tesouro ao lado da novata Joanna Shimkus, ótima no papel de uma escultora vanguardista. Certamente, a dupla Delon/Ventura fez filmes superiores, mas esse explora a ebulição criativa da vanguarda francesa dos Anos 60 e tem uma cena aos 45 minutos de um vernissage moderníssimo que me fez imaginar a Paris dos jovens artistas como na ocasião era Julio Le Parc, pioneiro da arte óptica e cinética, que mais uma vez expomos em nossa sede nos Jardins.
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O interesse poético de Le Parc, ainda ativo, hoje, aos 95 anos, gira em torno do movimento e da cor. Sua obra é um inesgotável exercício de fenômenos ótico-cinéticos em diferentes mídias: pintura, desenho, experimentações com espelhos e superfícies reflexivas, desenvolvimento de motores para suas obras, instalações e móbiles. Esse impulso surgiu antes de se estabelecer em Paris, onde vive e trabalha até hoje. O jovem Le Parc, ainda em sua Argentina natal, cursou a Academia de Belas Artes de Buenos Aires, onde teve como professor nada menos que Lucio Fontana, um dos expoentes da arte abstrata mundial.
A primeira vez que participou em uma exposição foi na Bienal de São Paulo de 1957. Três anos depois, já morando em Paris, ele se torna um dos membros-fundadores do coletivo G.R.A.V. de experiências visuais de vanguarda, que abre um leque de possibilidades para sua curiosidade explorar efeitos visuais com a nova tecnologia do pós-guerra utilizando materiais industrializados para criar a simbiose inédita da arte, ciência e tecnologia, que fincou seu nome na história da arte.
Na 33ª Bienal de Veneza, em 1966, expôs uma instalação inspirada em um parque de diversões, firmando sua contribuição no grupo de visionários que introduziu o conceito da participação do espectador. Não mais um mero observador, o espectador vira um participante ativo da experiência artística, tendo como fundamental sua interação com a obra para ela acontecer na plenitude. Foi o momento da virada na sua carreira. Recebe o Grande Prêmio de Pintura na 33ª edição – uma ironia pois Le Parc não fazia pintura, não fazia escultura… Fazia o quê? Os juízes se viram diante de um impasse.
A polêmica quebrou a hegemonia da Arte Pop norte-americana e comprovou que a nova arte não mais se centrava nas duas modalidades tradicionais, a pintura e a escultura. Sua arte se insere numa ação contemporânea que, a partir da ruína da modernidade, apropria-se de técnicas e ações.
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Ao questionar os alicerces da poderosa Bienal de Veneza, a obra gerou um bafafá no meio artístico internacional, o evento se viu obrigado a rever conceitos e a mudar regulamentos para incorporar a nova linguagem. Nesse mesmo ano, Le Parc, que prefere ser chamado de experimentador, realizou a primeira individual em Nova York, consagrando-se entre os mais revolucionários artistas/experimentadores do século 20.
SERVIÇO
Julio Le Parc: Ondas e cores
Até 19 de outubro de 2024
Galeria Nara Roesler, São Paulo
Com colaboração de Cynthia Garcia, historiadora de arte, premiada pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) [email protected]
Nara Roesler fundou a Galeria Nara Roesler em 1989. Com a sociedade de seus filhos Alexandre e Daniel, a galeria em São Paulo, uma das mais expressivas do mercado, ampliou a atuação inaugurando no Rio de Janeiro, em 2014, e no ano seguinte em Nova York.
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