Toda fashion week tem seu lado glamouroso. Mas nada se compara à Semana de Moda de Paris, onde desfilam as marcas mais tradicionais do mercado de moda, que reúne gente do mundo todo e que, enfim, acontece na cidade mais charmosa do globo. Para uma criadora de conteúdo de moda, esse é o lugar e o momento para estar – e registrar. Aí é que entra o trabalho de Pamela Ferreira.
Em 2022, vivendo na capital francesa, a então maquiadora ajudou uma marca brasileira de pincéis de maquiagem a montar um showroom durante a Semana de Moda de Paris. Funcionou. E foi uma experiência definitiva para a sua transição de carreira: de maquiadora, ela passou a PR assim que entendeu que podia unir a boa capacidade de comunicação e a agenda com ótimos contatos para fazer pontes entre pessoas e marcas.
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Em seu showroom LMÀV, sigla para La Maison est à Vous – uma brincadeira com a expressão “a casa é sua” –, Pamela passou a reunir marcas de beleza e moda daqui, que ficam expostas durante as fashion weeks parisienses. Em seguida, montou um squad de influencers brasileiras que assessora e acompanha durante o evento, transformando em realidade o sonho de vivenciar a temporada.
No showroom, além das marcas, monta um camarim e disponibiliza fotógrafo e transporte. Dessa maneira, cria um serviço 360º: as criadoras de conteúdo se vestem e maquiam no próprio showroom, com marcas nacionais, e, de lá, saem por Paris e pelos eventos já entregando conteúdo. O pulo do gato foi incluir mais conteúdo nessa experiência. As “meninas”, como ela se refere às influenciadoras – nesta temporada foram 12, incluindo a modelo Raissa Santana e a atriz Cris Vianna –, recebem aulas sobre a história das maisons que ela vai visitar com as profissionais, além de uma orientação sobre como se comportar em uma sala de desfile.
A seguir, uma conversa com a profissional.
Como você chegou a esse modelo que aprofunda a relação com as influencers?
Pamela Ferreira: No contexto do universo da moda francês, o PR é como um fiador; eu me responsabilizo pelas pessoas que apresento às marcas. Por isso, não estão no meu radar as personalidades que querem apenas vir a Paris, tirar fotos, postar e ir embora. Se eu vou levá-las à Schiaparelli, elas precisam ao menos conhecer a história da marca. Defini que interessar-se por moda é pré-requisito para entrar para o meu squad. E como venho da área de pedagogia – dava aulas de informática –, passei a ajudar as influenciadoras a criar esse repertório.
Elas precisam?
Mostro que elas precisam ir preparadas, pois assim podem entregar um bom conteúdo. Há quem se apresse em dizer que um vestido é feio… Será? Ajudamos a treinar o olhar, mostramos que há mais sabores do que apenas o doce e o salgado. Não adianta correr lá no perfil do Instagram da Silvia Braz e fazer algo parecido. As pessoas querem ver um olhar próprio. Além de talks de moda, falamos também de comportamento. Em uma sala de desfile, é preciso ter uma conduta – como, por exemplo, não ficar o tempo todo no celular. As pessoas estão vendo; o francês preza muito pela boa educação.
Como você enxerga o mercado das influencers?
Há muitas que vêm despreparadas, que compram uma realidade vendida na internet. Então mostro que é preciso construir um caminho e, principalmente, viver a Semana de Moda, que vai além do calendário. Em um desfile, é para ficar de olho na passarela, mas também observar as pessoas, os ambientes, criar repertório; a parte mais interessante da moda são os questionamentos que ela traz.
A rotina nesses dias é bem corrida, não é?
Muito, nem durmo direito. As confirmações para a solicitação de convites vêm, muitas vezes, na madrugada anterior. O motivo é que existe um mercado paralelo de venda de convites, e os franceses abominam isso. Oriento as meninas a nunca comprar convite de desfile, a marca não é boba. Ao fazer o caminho correto, há mais chance de receber um convite para uma próxima vez.
Como você organiza o calendário de eventos da semana?
Tudo começa com um encontro em que uma profissional com experiência nesse mercado transmite a orientação sobre comportamento e produção de conteúdo. Depois armo um jantar em que o objetivo é fazer as pessoas se conhecerem e se relacionarem. No dia seguinte, monto para as meninas mais um talk de moda, com speakers do mercado, como o professor João Braga [autor de livros de História da moda]. Enquanto isso, estamos organizando o showroom. Nos dias seguintes, elas se produzem lá, seja para ir a um desfile, um resee, um coquetel.
Elas produzem conteúdo vestindo marcas brasileiras.
Dou prioridade àquelas geridas por mulheres. Nesta temporada, foram 20 marcas de segmentos diferentes – a Anne Fontaine é francesa, mas criada por uma brasileira. Acredito que, quando uma mulher brasileira veste as marcas de seu país, está dando valor ao patrimônio cultural nacional. Os franceses não têm medo de perguntar de onde é uma peça de roupa. Se na rua acontece, na Semana de Moda acontece muito mais.
Qual é o segredo da PR de sucesso?
Todos os dias eu acordo e imagino que é o meu último dia de vida. O que eu quero desse dia? O que quero de mim? Penso que precisamos de humanidade; quero que lembrem de mim por bons motivos, não apenas por ter colocado uma pessoa num desfile importante. Por isso, a resposta é: tem que ter alma.
Com Antonia Petta e Milene Chaves
Donata Meirelles é consultora de estilo e atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle.
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