Estamos muito felizes, nossa galeria carioca celebra dez anos na casa de dois andares no coração de Ipanema, na arborizada rua Redentor, que ainda tem a cara da Ipanema da Bossa Nova.
Amelia Toledo em Copacabana
Neste mês super corrido, tantas coisas aconteceram de bom. Uma das mais significativas foi que batemos o martelo para a doação do restauro da escultura em cristal de rocha cor-de-rosa, “Fonte de Cristal”, de Amelia Toledo (1926–2017), que viveu um bom tempo no Rio e muito amou esta cidade que tanto inspirou sua vastíssima obra.
Leia também
Com cerca de 150 centímetros de altura, a obra conceitual se resume em um cubo de quartzo sólido, sem emendas, por onde jorra um fio d’água do topo que escorre sobre ela, lembrando lágrimas, conforme a intenção da artista. Desde 1998, está instalada ao centro de um espelho d’água na Praça Cardeal Arcoverde, em Copacabana, na entrada do metrô Cardeal Arcoverde, na altura da Rua Tonelero. Este projeto público, único, o maior de sua carreira, não parou aí. Amelia, que jovem foi estagiária no escritório do arquiteto Vilanova Artigas, também projetou o colorido tratamento artístico de todo o interior da concorrida estação, uma das mais importantes da Zona Sul do Rio.
Pensando no ser humano, o espírito generoso dessa artista singular, sempre voltado para uma investigação expandida das possibilidades artísticas, criou o projeto inspirada pelas qualidades do cristal: transmitir beleza, energia de vida e afeto às pessoas que diariamente passam pelo local. Com o tempo, “Fonte de Cristal” acabou sendo descaracterizada e o espelho d’água original foi aterrado. Não mais. No ano que vem, esta obra tão significativa volta inteiramente renovada em todo seu esplendor ao local escolhido por essa mestra da Arte Brasileira contemporânea.
O restauro acontece graças também à parceria com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Clima, e ao apoio do Instituto de Arquitetos do Brasil – Rio de Janeiro (IAB-RJ). O projeto da Estação Arcoverde do Metrô é do arquiteto João Batista Martinez Corrêa, atualmente com 82 anos, irmão do finado diretor teatral e dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, grande amigo da artista, e responsável por apresentá-la ao arquiteto.
Richard Long e Not Vital em Ipanema
Ao longo de outubro, em nosso endereço carioca, apresentamos a exposição “Mães”, que reuniu obras do inglês Richard Long, 79 anos, e do suíço Not Vital, 76 anos, criadas no Rio especialmente para a mostra. Os dois artistas conceituais são amigos do peito de longa data, já expuseram juntos várias vezes e, coincidentemente, possuem ligações particulares com o Rio através de suas ligações maternas. Há dois anos, Vital tem uma casa no bairro de Santa Teresa, onde passa alguns meses do ano. “Desde que morei na África, vi que as mães são o centro de tudo. Aqui no Rio também vemos a luta diária de muitas delas”, confessou-me Vital. No caso de Long, o elo com o Rio é, literalmente, uterino: sua mãe é carioca com benção do Cristo Redentor e de Iemanjá.
Ela, Frances, nasceu no Rio durante uma viagem de negócios do avô de Long, que veio acompanhado da esposa ao Hemisfério sul – lembrando que no início do século 20 tudo era ainda muito distante no mundo e as viagens muito, muito demoradas. O avô de Long baixou por aqui para exportar aos brasileiros abastados os requintadíssimos carros Hispano-Suiza, fabricante de automóveis de luxo de antes da Segunda Guerra Mundial, do qual era agente internacional.
Para a exposição, Not Vital criou uma série de autorretratos e, também, “Pão de Açúcar” (2022), uma escultura em gesso reproduzindo o mais famoso morro do Brasil sem estátua no topo. Por sua vez, Long apresentou esculturas em madeira e pregos, e ainda criou dois site-specific (obra elaborada especificamente para um determinado local), pintados com tinta acrílica e argila com as próprias mãos do artista inglês, sem ajuda de pincéis, sobre as paredes brancas da galeria. “Meu trabalho é muito pessoal, gosto que tenha o meu gestual, as minhas impressões digitais”, revelou Long.
-
Siga o canal da Forbes e de Forbes Money no WhatsApp e receba as principais notícias sobre negócios, carreira, tecnologia e estilo de vida
Gostaria também de agradecer ao jornalista Nelson Gobbi do Segundo Caderno, do jornal O Globo, que assinou uma linda matéria sobre a mostra, terminando com depoimento meu: “Todo mundo nos perguntava como ia ser a exposição, a única coisa que sabíamos é que seria definida quando Long e Not Vital estivessem trabalhando na galeria. Mas foi justamente isso que deu a força e o frescor a essa mostra. Em todas essas décadas como galerista, ainda me emociono muito com uma exposição como esta.”
SERVIÇO
Galeria Nara Roesler, Rio de Janeiro
Rua Redentor 241, Ipanema
(21) 3591 0052
Com colaboração de Cynthia Garcia, historiadora de arte, premiada pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) [email protected]
Nara Roesler fundou a Galeria Nara Roesler em 1989. Com a sociedade de seus filhos Alexandre e Daniel, a galeria em São Paulo, uma das mais expressivas do mercado, ampliou a atuação inaugurando no Rio de Janeiro, em 2014, e no ano seguinte em Nova York.
[email protected]
Instagram: @galerianararoesler
http://www.nararoesler.com.br/
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.