Quando Paul Tazewell foi convidado para ser o figurinista de “Wicked”, ele sabia que seria a oportunidade de sua vida. “O aspecto fantasioso e a forma como nosso diretor, Jon Chu, queria contar a história abriram um vasto leque de possibilidades criativas”, diz o premiado figurinista, vencedor do Tony e do Emmy, e indicado ao Oscar pelo filme “Amor, Sublime Amor”, de Steven Spielberg.
Essa oportunidade única na carreira é um grande desafio para Tazewell, que trabalha há três décadas criando figurinos para diversos meios, como teatro na Broadway, cinema, TV e ópera. Seus créditos incluem “Hamilton”, “Suffs”, “Ain’t Too Proud”, “MJ”, “Death Becomes Her”, “The Wiz! Live” e “Jesus Christ Superstar Live!” em concerto com John Legend, entre muitos outros.
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O tão aguardado filme da Universal Pictures conta a história das bruxas de Oz antes dos eventos envolvendo Dorothy. Elphaba (Cynthia Erivo) e Glinda (Ariana Grande) desenvolvem uma conexão complexa e multifacetada ao longo da trama. Tazewell foi responsável por criar mais de mil figurinos, com o apoio de mais de 70 pessoas de diferentes especialidades trabalhando em oito ateliês simultaneamente.
Tazewell se vê como um intermediário entre o ator e o personagem. As provas de figurino, nas quais os atores experimentam as roupas, desempenham um papel crucial para ajudá-los a construir suas interpretações. “A sala de prova é um espaço sagrado para mim, onde as pessoas podem se sentir vulneráveis”, explica Tazewell.
“Estamos descobrindo como o ator se vê visualmente como o personagem que está preparando. E estou lá para ajudá-los a chegar a esse lugar, oferecendo opções visuais que os permitam assumir esses papéis”. Ele destacou que tanto Erivo quanto Grande não só foram agradáveis de trabalhar, mas também comprometidas com o filme, sempre comparecendo às provas com figurinos fabulosos.
A experiência de trabalhar em Wicked, que será lançado em duas partes (a primeira em 22 de novembro de 2024 e a segunda em novembro de 2025), foi transformadora para Tazewell. “A vastidão do mundo que estávamos criando me deu a oportunidade de expandir minha criatividade de forma significativa”, relata o figurinista, que passou dois anos no projeto. “Fui profundamente impactado por todo o talento incrível envolvido na criação deste filme, desde os excepcionais artesãos de figurinos até o elenco épico”.
O chapéu poderoso de Elphaba
“O chapéu de Elphaba é um dos elementos mais icônicos. Ele se baseia no símbolo cultural do chapéu de bruxa e faz referência à Bruxa Má do Oeste. Pude reformulá-lo para incluir um forte elemento narrativo”, começa o figurinista.
“Ao criar o conceito, parte da ideia veio da sugestão de Jon Chu de começar o filme com uma cena à distância focada no chapéu, que se aproximaria gradualmente. De longe, é uma formação triangular que poderia parecer uma montanha ou uma construção. Só é possível identificar o que realmente é quando se está bem próximo. Isso inspirou a textura da superfície e parte do formato. O chapéu não é simetricamente pontudo, mas ganhou mais personalidade. Além disso, ele carrega um simbolismo de poder para Elphaba e sua autodescoberta. Quando ela coloca o chapéu, ela se transforma.”
O vestido de Elphaba quando encontra o Mágico
“O vestido da Cidade das Esmeraldas de Elphaba é feito de chiffon com micropregas aplicadas em um padrão ondulante. De longe, parece veludo, mas, ao se aproximar, percebe-se um padrão texturizado que envolve o corpo dela. A silhueta é limpa, com ombros marcantes, cintura ajustada e uma saia que se movimenta graciosamente. Este é um dos meus figurinos favoritos.”
O vestido de Glinda ao flutuar para Munchkinland
“O vestido rosa de bolha de Glinda é um feito de engenharia em criação de figurinos. Trabalhei com um alfaiate em Londres para criar uma forma escultural em tecido rosa iridescente que flutua e reflete a bolha em que Glinda chega a Munchkinland. Cada elemento do vestido foi cuidadosamente elaborado.”
“A inspiração original para o vestido de bolha remete à Glinda do filme de 1939, O Mágico de Oz, desenhado por Adrian e usado por Billie Burke. Adotei o mesmo tom de rosa, usado em toda a paleta de cores de Glinda no filme. A silhueta escultural exigiu suporte específico sem adicionar peso. Criamos uma combinação leve de crinolina com camadas de organza de seda, estampadas com um padrão de bolhas e adornadas com cristais e lantejoulas iridescentes. O corpete é decorado com espirais de cristais e possui um decote em forma de borboleta.”
A coroa de Glinda
“O vestido de bolha é complementado por uma coroa prateada coberta de diamantés. A coroa reflete as espirais e bolhas presentes no visual de Glinda.”
Os sapatos de Nessarose
“Outro dos meus favoritos são os sapatos prateados e cravejados de diamantes de Nessarose, que fazem referência ao tornado de O Mágico de Oz. O salto tem forma espiralada e é cristalizado, envolvendo os pés de Nessarose em ondas que remetem ao sapato prateado original do livro.”
O robe de Glinda
“Tive a oportunidade de desenhar até mesmo os trajes de dormir de Glinda. Para isso, me inspirei no glamour de Hollywood, incorporando formas circulares e detalhes em babados, como no vestido rosa de Wicked na Broadway. O resultado foi um peignoir de tule estampado e um teddy de seda bordada, finalizado com chinelos de cetim”, finaliza.