Sasha Meneghel nos recebeu em seu apartamento cheio de luz no Itaim, para um bate-papo daqueles que fluem de forma natural e sincera. Foi a primeira vez que a diretora criativa da Mondepars abriu as portas de sua casa e compartilhou um pouco da sua intimidade com a imprensa. Para minha surpresa, ela e o marido, o cantor João Lucas, não contam com staff todos os dias – foi a própria Sasha quem preparou o cafezinho. Eles adoram cozinhar e aproveitar o tempo juntos – ou, melhor, a três, já que a Goldendoodle Bela também faz parte da família. “Somos supercaseiros. Trocamos fácil uma festa por uma boa jogatina com amigos e família”, ela confessa com um sorriso. E o jogo preferido do casal? “Buraco é um clássico da nossa família.”
Hoje com 26 anos, Sasha demonstra uma maturidade admirável. Como diretora criativa da Mondepars, ela desenha e desenvolve todas as peças da marca, lançada com grande sucesso em julho. De novembro a dezembro, a Mondepars ganha uma pop-up no Shopping JK. O nome da marca é um neologismo que junta “monde” (mundo, em francês) com “pars” (parte, em latim), simbolizando que “fazemos parte de um grande ecossistema e temos que ter consciência do nosso impacto no planeta”, como ela mesma explica.
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Sasha se define como sonhadora apaixonada pelo que faz, algo que fica evidente no brilho de seus olhos ao falar sobre seu trabalho. A influência de sua mãe, a apresentadora Xuxa Meneghel, é enorme em sua vida, especialmente no que diz respeito ao amor pela natureza e à importância de preservar sua privacidade. A casa da família em Angra dos Reis é seu refúgio emocional, onde guarda lembranças especiais com a avó e do seu casamento, em 2021.
Ela não esconde as dificuldades que enfrentou por crescer sob os holofotes, especialmente as críticas na internet, que culminaram em uma luta contra a bulimia. Sasha compartilha que foi por meio da terapia e de muito amadurecimento que aprendeu a lidar com essas inseguranças, especialmente após sua temporada em Nova York, onde viveu sozinha, encontrou sua independência e mergulhou na moda – sua grande paixão. Foi lá que se formou na prestigiada Parsons.
O início da carreira como modelo e influenciadora foi desafiador, mas hoje Sasha equilibra tudo isso com a gestão da Mondepars, participando de cada detalhe, desde a criação das peças até a produção e logística. Ela é firme no seu compromisso com a sustentabilidade, usando materiais como o couro de cacto do deserto mexicano, sempre com a preocupação de fazer escolhas conscientes.
Durante a conversa, ela também compartilhou seu amor pela alfaiataria e por marcas com identidade forte e autêntica, além da busca por peças versáteis e atemporais. Sasha faz questão de promover a inclusão com o design “genderless”. Otimista quanto ao futuro da Mondepars, ela está determinada a explorar ainda mais alternativas sustentáveis e fortalecer a ideia de consumo consciente aqui no Brasil.
Confira a conversa exclusiva com Sasha Meneghel a seguir.
Forbes – Primeiro, quero agradecer por nos receber na sua casa e compartilhar este espaço tão pessoal pela primeira vez com a Forbes. A ideia aqui é conhecer não só seu lado profissional, mas um pouco mais da Sasha por trás dos holofotes. Se você pudesse se descrever em poucas palavras, como seria?
Sasha Meneghel – Me considero uma pessoa sonhadora. Sempre fui assim, e acredito que isso veio muito da forma como minha mãe me criou. A família sempre foi uma prioridade para mim, é o meu alicerce. Não sou o tipo de pessoa que gosta de ter muitas pessoas ao redor o tempo todo. Prefiro estar cercada por poucos e bons amigos. E eu sou extremamente apaixonada pelo meu trabalho. É difícil separar a vida pessoal do trabalho, porque estão muito conectados. Recentemente, me dei conta de que sou uma “workaholic”.
Gosta de se isolar na natureza. Isso está ligado à sua criação?
Com certeza. Minha mãe sempre me levou para lugares onde eu podia me desconectar, e esses momentos foram muito valiosos. Adoro estar em contato com a natureza, especialmente em lugares onde não há Wi-Fi. É algo que me recarrega profundamente. Nos finais de semana, gosto de ir para Angra, onde posso me desconectar e aproveitar a tranquilidade.
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Arquivo pessoal Foto da infância ao lado da mãe Xuxa, em 2003
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Arquivo pessoal Foto da infância ao lado da mãe Xuxa, em 2004
Foto da infância ao lado da mãe Xuxa, em 2003
Angra dos Reis é seu refúgio, então?
Sim, Angra sempre foi um lugar muito especial. Lembro muito da minha avó quando estou lá. Foi ela quem me ensinou a pintar e introduziu a arte na minha vida. Sempre que volto para Angra, sinto que estou voltando às minhas raízes. Tenho muitas memórias afetivas, desde momentos com minha avó e minha mãe até o meu casamento, que aconteceu lá. É um lugar cheio de significado e afeto.
Que lindo! Quais são os principais traços que acha que as pessoas talvez não conheçam sobre você?
Desde muito nova, minha vida sempre foi pública, apesar de todos os esforços da minha mãe para me proteger. Ela fez de tudo para me preservar, mas foi inevitável que minha vida fosse exposta. No entanto, o que as pessoas talvez não saibam é que, apesar de toda essa exposição, eu sou uma pessoa que valoriza muito os momentos de privacidade e conexão real, especialmente com a família e a natureza.
Quais áreas da sua intimidade que gosta de manter fora dos holofotes?
Sou muito exigente comigo mesma, especialmente no trabalho. Não sei se me definiria como perfeccionista… Acho que já fui mais, mas hoje entendo que o perfeccionismo pode ser algo tóxico. Ele te impede de avançar, porque nada parece estar bom o suficiente. Com muita terapia, tenho trabalhado isso, mas ainda me cobro bastante.
É interessante ver como o perfeccionismo pode ser uma barreira. Mencionou também que prefere programas mais tranquilos, como receber pessoas em casa.
Sim! Sou muito caseira. Prefiro muito mais estar em casa, receber amigos e família, do que sair para festas ou eventos. Adoro uma noite de jogos em casa, com aqueles momentos mais íntimos. Não diria que sou reservada, mas, definitivamente, sou mais família. Gosto desse ambiente acolhedor, de ter as pessoas próximas.
E que tipo de jogo você costuma jogar nessas noites?
Ah, minha família sempre jogou buraco! É um clássico para nós, amo. Além disso, adoro jogos de mímica e o Nintendo.
E no dia a dia, como é a gestão da sua casa? Pelo que vi, vocês se viram bem sem ajuda constante.
Sim, nós realmente nos viramos bem. Temos pessoas que ajudam, mas não são todos os dias. Cozinhamos bastante; eu sei preparar alguns pratos simples, como tabule, legumes grelhados, guacamole e massas. Não sou a melhor chef, mas me viro com o que sei fazer. Acho que preservar o nosso espaço e não ter alguém 24 horas na casa é muito característico de Nova York e da nossa geração.
Então, a vida em Nova York te ensinou a se virar sozinha e a valorizar a independência?
Exatamente. Nova York é uma cidade que te desafia a ser autossuficiente e a se adaptar e carrego isso para meu crescimento pessoal e profissional.
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Divulgação Looks da Mondepars desfilam na loja de mobiliário Mula Preta (SP), em junho
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Divulgação Looks da Mondepars desfilam na loja de mobiliário Mula Preta (SP), em junho
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Looks da Mondepars desfilam na loja de mobiliário Mula Preta (SP), em junho
Falando agora sobre um tema mais profundo, que é a insegurança. Cresceu sendo uma pessoa pública. Como você lida com as suas próprias inseguranças?
Crescer sendo uma pessoa pública definitivamente me trouxe algumas inseguranças. Eu me lembro de, aos 12 ou 13 anos, ler comentários sobre mim e não entender por que as pessoas tinham uma opinião formada sem ao menos me conhecer. Isso me afetou bastante, porque, nessa idade, você ainda está formando sua identidade, e não tem discernimento para entender que aqueles comentários não te definem. Por mais que minha mãe sempre me orientou, especialmente sobre a internet, foi difícil.
Imagino que a transição da sua infância para o mundo das redes sociais tenha sido um desafio.
Com certeza. Quando eu era criança, a internet não era tão presente quanto hoje. Tive o privilégio de crescer em uma época com menos exposição online. No começo, havia o Orkut, depois o Twitter, e por fim o Instagram. Peguei essa fase de transição, e com ela vieram os comentários, as críticas. Houve um momento em que esses comentários me afetaram tanto que desenvolvi bulimia. Não entendia por que as pessoas eram tão críticas em relação à minha aparência, e isso gerou uma insegurança grande em mim.
Foi uma fase difícil, então?
Sim, foi muito difícil. Eu tinha 12 anos e queria fazer dieta, porque achava que precisava. Lembro de ir ao shopping e ver fotos saindo nos jornais ou revistas, com comentários negativos. Isso é algo que nenhuma criança deveria passar. E, hoje em dia, é ainda pior, porque qualquer pessoa, famosa ou não, pode ser criticada na internet. Acho que precisamos ter mais consciência sobre a força dos comentários. Felizmente, a terapia me ajudou muito a superar isso, e o amadurecimento também. Hoje, lido melhor com as críticas, mas foi um processo.
E como decidiu entrar no mundo da moda e trabalhar com sua imagem, mesmo após esses desafios?
Foi algo gradual. Minha mãe sempre me preservou muito, então só comecei a trabalhar com minha imagem aos 17, quase 18 anos. Meu primeiro trabalho foi com a Coca-Cola Jeans, tinha 17 anos e aceitei começar a trabalhar com minha imagem porque sabia que iria morar fora. Tive o privilégio de poder trabalhar no Brasil e, ao mesmo tempo, viver uma vida mais anônima em Nova York, onde fui estudar. Foi lá que comecei a amadurecer de verdade, a aprender a lidar com críticas e a absorver apenas o que realmente era positivo e construtivo. Nova York foi esse lugar que me deu espaço para me descobrir e lidar com os comentários desnecessários da internet, que, infelizmente, ainda vemos muito hoje. Mas foi um privilégio ter essa “pausa” para me fortalecer.
E esse tempo fora do Brasil foi essencial, não só para sua carreira, mas para sua identidade, certo? Para você se entender como “Sasha”, fora da sombra de “Sasha, filha da Xuxa”.
Com certeza! Mais do que isso, foi um aprendizado sobre me virar sozinha. Nova York é uma cidade caótica, intensa, e isso me ajudou muito. Ou você ama ou odeia a cidade, e eu a amei. A energia lá te impulsiona a correr atrás dos seus sonhos. Tudo é rápido, não há tempo a perder. Para mim, foi ótimo, porque eu cresci no Brasil cercada de família, com contatos, médicos, apoio de todos os lados. Em Nova York, tive que aprender a fazer as coisas por mim mesma.
E essa busca por entender quem é a “Sasha” começou lá ou antes?
Acho que começou antes, quando entrei para o vôlei. Foi a primeira vez que me vi em um ambiente onde eu era medida pelo meu mérito. Se eu estava jogando bem, era porque eu merecia. Se estava no banco, também era resultado do meu desempenho. O vôlei virou minha vida durante um bom tempo. Treinava todos os dias, com 12, 13 anos, e minha mãe sempre me apoiou muito. Ela viajava para me assistir jogar, não importava aonde fosse. Foi uma fase muito especial porque, naquela época, os comentários da internet me afetavam bastante. O vôlei era meu refúgio. Depois do vôlei, decidi ir para Nova York, e essa transição foi importante para continuar me descobrindo e amadurecendo.
Nunca teve o desejo de seguir a carreira da sua mãe, como apresentadora?
Se me perguntasse isso quando eu tinha 12 ou 13 anos, diria um “não” bem rápido. Era muito tímida e achava que não tinha nada a ver comigo. Hoje, eu não digo que nunca apresentaria algo. Acho que, com o tempo, a gente vai se descobrindo. Se fosse um programa que tivesse relação com o que faço, algo ligado à moda ou ao meu universo, eu consideraria. Mas tem que fazer sentido e estar alinhado com quem eu sou. Porém, meu foco agora é a Mondepars, embora eu ainda adore trabalhar como modelo e influenciadora.
E como concilia a carreira de influenciadora e modelo com a gestão da Mondepars? Imagino que não seja fácil.
Definitivamente, não é a agenda mais fácil. A Mondepars ainda é uma empresa pequena, e eu faço muita coisa internamente. Estou envolvida em praticamente todas as etapas, o que torna o gerenciamento do tempo um desafio. Mas como eu amo o que faço, isso me motiva a continuar conciliando tudo.
Além de ser diretora criativa, o que mais você faz na Mondepars?
Além da direção criativa, faço os desenhos das peças. Gosto de acompanhar de perto a produção, visitar as fábricas e ver como as peças estão sendo feitas. Estou envolvida no desenvolvimento das coleções, desde a criação do mood board até as provas de roupas. Às vezes, quando a modelo de prova não está disponível, eu mesma faço as provas, mas sei que meu corpo não representa o da maioria das brasileiras, então também temos alguém específico para isso.
Então está envolvida em praticamente todos os aspectos da marca?
Sim, 100%. Desde o marketing até as caixas no estoque, gosto de estar presente em tudo. A única área em que não me envolvo tanto é a financeira, mas ainda assim procuro aprender e estar ciente de tudo que acontece. Para mim, empreender na moda vai além da criatividade.
E todos na equipe são jovens, assim como você, ou há uma mistura de idades?
Temos um bom mix de idades, o que acho essencial. A diversidade de perspectivas é importante para manter a empresa criativa.
Quais foram os maiores desafios que enfrentou na transição para o papel de empresária? Agora, além de estilista e influenciadora, você também está imersa no business da moda.
Realmente não imaginava o quão desafiador seria empreender. Quando comecei a criar a marca, estava muito focada no desenvolvimento das peças e na identidade. No entanto, empreender vai muito além disso. É um desafio prazeroso, mas também é um grande aprendizado. Sei que ainda vou cometer muitos erros e aprender com eles. O primeiro grande desafio foi encontrar as pessoas certas para trabalhar comigo, desde colaboradores criativos até a equipe administrativa. A sinergia no escritório era algo essencial para mim.
E como montou sua equipe?
Busquei pessoas por meio de indicações e também fiz muitas entrevistas. Conheci diversas pessoas e fui ajustando minha equipe conforme as necessidades da marca. Foi um processo de muita pesquisa e descoberta.
Na Mondepars, as peças são classificadas como femininas e masculinas. Por que não optou por uma abordagem totalmente genderless?
Hoje em dia, o mercado brasileiro ainda tende a segmentar roupas por gênero. No entanto, muitas das nossas peças são desenhadas para serem unissex. Por exemplo, nossa alfaiataria e algumas peças de jeans são desenhadas para atender a todos os gêneros. A ideia é que a Mondepars possa servir os clientes da melhor forma possível, adaptando-se às suas necessidades e não o contrário. Os consumidores têm cada vez mais influência sobre o que as marcas oferecem. Quero que nossas peças sejam versáteis e atemporais, adequadas para diversas ocasiões e fases da vida.
Você não rotula a marca Mondepars como sustentável. Então, como pretende manter a empresa alinhada com práticas mais conscientes em toda a cadeia de produção?
Eu acredito que não há uma marca que seja 100% sustentável, exceto brechós ou marcas que trabalham com materiais reciclados. O objetivo é fazer escolhas mais conscientes na cadeia de produção. Estamos buscando matérias-primas de qualidade e pensando na durabilidade das peças. Um exemplo é a utilização de couro de cacto do deserto mexicano, que é uma alternativa sustentável e de alta qualidade.
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Como vê o futuro da Mondepars e o impacto que espera alcançar com a marca?
Espero que a marca continue crescendo e explorando novas alternativas sustentáveis. Queremos usar cada vez mais materiais inovadores e manter um padrão de qualidade elevado. Também aposto no tailor-made, quero criar cada vez mais looks personalizados. Estou desenvolvendo um vestido especial para minha mãe e vou fazer os looks da turnê do João [Lucas, seu marido]. Também já fiz um look especial para a Bruna [Marquezine].
E o futuro da moda?
Acredito que a moda deve se adaptar aos corpos e estilos das pessoas, e não o contrário. Em nossa loja do JK, não teremos uma divisão clara entre masculino e feminino; as peças serão apresentadas de forma integrada. Isso reflete nosso compromisso com a versatilidade e a inclusão.
Quais marcas te inspiram?
Olho para marcas que têm uma identidade forte e não seguem apenas tendências passageiras, como a Prada, que tem uma identidade bem definida, o que admiro muito. Em relação ao design, amo uma alfaiataria e o básico bem-feito. Marcas como YSL fazem ombreiras impecáveis sempre, é a marca registrada deles e me inspira muito. Admiro marcas que conseguem criar peças que vão além das tendências e permanecem relevantes ao longo do tempo.
Se tivesse que definir a Mondepars em uma frase, qual seria?
Uma marca que preza pelo design atemporal e busca sempre fazer escolhas mais conscientes no processo de produção, desde a matéria-prima até o acabamento.
Entrevista publicada na edição 123 da revista, disponível nos aplicativos na App Store e na Play Store e também no site da Forbes.