A ideia de morar em outros países pode ser recorrente. Nos Estados Unidos, ela ganhou destaque especial após a recente eleição, que gerou uma onda de frustração entre os americanos, evidenciada por picos nas buscas no Google, como “como deixar os EUA”, “melhores países para americanos se mudarem” e “para onde se mudar no exterior”. Até celebridades, como America Ferrera, Sharon Stone e Cher, chamaram atenção com seus planos de começar uma nova vida em outra nação.
Os brasileiros não são tão diferentes. Um levantamento da RealTime Big Data mostrou que 67% das pessoas entre 16 e 35 anos sairiam do país caso pudessem, e o número cidadãos do Brasil no exterior simplesmente cresceu 47% na última década, de acordo com dados do Ministério das Relações Exteriores.
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Mas para o cidadão médio, a questão não é apenas sair do país, mas encontrar o lugar certo para viver uma vida acessível e satisfatória no exterior. É nesse contexto que o Global Retirement Index do International Living se torna relevante: o ranking identifica os países que oferecem a melhor combinação de acessibilidade, qualidade de vida e comunidades acolhedoras para se aposentar ao redor do mundo. O relatório, tradicionalmente divulgado em janeiro, foi antecipado devido à alta demanda este ano.
“Historicamente, há um aumento notável no interesse por oportunidades de vida no exterior após eleições – independentemente de quem vença”, explicou Jennifer Stevens, editora-executiva do International Living.
Embora o termo “aposentadoria” esteja no nome do relatório, ele não se limita a esse público. “Uma mudança significativa que notamos é o crescente interesse entre pessoas de 35 a 45 anos por opções de vida no exterior”, disse Stevens. “Por anos, nosso público principal era formado por aposentados, que tinham flexibilidade e economias para se mudar. Mas agora, com o aumento do trabalho remoto e horários flexíveis, esse público mais jovem está explorando a vida internacional enquanto mantém suas carreiras.”
O relatório leva em conta essas novas demografias. “Muitos de nossos correspondentes são profissionais em meio de carreira e têm famílias jovens, então avaliam os destinos de forma mais ampla”, afirmou Stevens. “Embora possam não estar totalmente aposentados, buscam as mesmas qualidades que os aposentados valorizam – como acessibilidade, segurança, infraestrutura e comunidades vibrantes de expatriados.”
Melhores países para se aposentar: a metodologia
Como o International Living determina os melhores destinos para expatriados anualmente? O índice avalia os países em sete categorias principais: habitação, vistos e benefícios, custo de vida, saúde, desenvolvimento e governança, clima e uma classificação de afinidade, que reflete a facilidade de integração à comunidade local.
O processo começa com correspondentes locais – expatriados que fornecem dados reais e insights. A acessibilidade da habitação, por exemplo, é medida pelo custo de aluguel ou compra em áreas onde os expatriados geralmente vivem, com foco em conforto e valor. De forma semelhante, a saúde é avaliada tanto em qualidade quanto em acessibilidade. O custo de vida é analisado por meio de questionários detalhados que consideram despesas diárias, como alimentação e utilidades, garantindo um panorama claro de acessibilidade.
Vistos e benefícios também são fatores cruciais. Alguns países oferecem opções de residência simplificadas, como o programa de visto Pensionado do Panamá.
Talvez a característica mais singular do índice seja a classificação de afinidade, que considera o lado humano da realocação. Quão fácil é fazer amizades, aprender o idioma ou encontrar um filme em inglês? A comunidade expatriada é acolhedora? Esses fatores – combinados com dados sobre infraestrutura, governança e clima – criam uma visão abrangente do apelo de cada país.
Veja a seguir os resultados da pesquisa para 2025:
Os 10 melhores países do mundo para se aposentar
- Panamá
- Portugal
- Costa Rica
- México
- França
- Espanha
- Malásia
- Grécia
- Itália
- Tailândia
Por que Panamá está no topo?
No relatório anterior, o Panamá ocupava o quarto lugar. Neste ano, é o líder do ranking. “A ascensão do Panamá reflete uma combinação de fatores, incluindo o aumento do custo de vida e a disponibilidade de moradias em outros destinos populares, como Costa Rica, Portugal e Espanha”, afirmou Stevens.
O grande atrativo do país é o visto Pensionado, um dos programas de residência mais generosos do mundo. Aposentados que comprovem uma pensão vitalícia de pelo menos US$ 1 mil por mês têm direito à residência permanente e acesso a benefícios significativos. “O programa se destaca com benefícios excepcionais, como descontos em serviços médicos, utilidades, transporte e entretenimento”, explica a editora. “Esses benefícios reduzem significativamente os custos de vida dos aposentados enquanto melhoram sua qualidade de vida.”
O Panamá, porém, não é apenas para aposentados. O país também oferece o visto Friendly Nations, uma opção flexível para expatriados mais jovens e famílias que buscam um novo começo, com residência através de investimentos ou oportunidades de negócios.
A maioria dos casais pode viver confortavelmente com US$ 2,5 mil a US$ 3 mil por mês, permitindo uma melhoria de estilo de vida. Além de acessível, o Panamá tem um sistema de saúde excelente, especialmente na Cidade do Panamá, onde os hospitais contam com tecnologia moderna. O país também possui infraestrutura confiável, incluindo internet rápida e transporte público eficiente. Há ainda diversas opções de estilo de vida, desde a área urbana da Cidade do Panamá até praias em Coronado e as montanhas de Boquete.
Os atrativos do top 10
Portugal
Na segunda posição, Portugal continua a se destacar como o país europeu de melhor desempenho no índice, tendo ocupado o primeiro lugar em 2023. Com um clima ameno durante todo o ano, paisagens costeiras deslumbrantes e rica cultura, Portugal atrai tanto aposentados quanto expatriados. “O visto D7 facilita o processo de residência”, afirma um dos colaboradores no relatório. “E o custo de vida aqui permanece competitivo, mesmo em áreas populares como o Algarve.”
O país oferece um excelente sistema público de saúde, e o seguro privado também é acessível.
Costa Rica
A Costa Rica, vencedora de 2024, ocupa a terceira posição. O país atrai expatriados com suas paisagens impressionantes, climas diversos e o acolhedor estilo de vida “Pura Vida”. Seja nas praias, montanhas ou uma combinação de ambos, a Costa Rica oferece uma qualidade de vida incrível. “Há uma calorosidade nas pessoas daqui, e a beleza natural é incomparável”, comentou Bekah Bottone, correspondente da International Living para a Costa Rica.
O país também é um refúgio para quem busca um estilo de vida sustentável e comunitário. Do turismo ecológico a mercados orgânicos, valoriza tanto a conservação ambiental quanto o estilo de vida tranquilo.
México
O México, em quarto lugar, possui uma comunidade de expatriados bem estabelecida. “O país oferece uma pitada de aventura com o conforto da familiaridade”, disse Bel Woodhouse, correspondente da International Living, no relatório.
A acessibilidade para quem ganha em dólar é um grande atrativo. Um apartamento de um quarto próximo ao litoral em Cozumel custa cerca de US$ 500 por mês, enquanto uma opção maior, com dois quartos, perto da praia, começa em US$ 1 mil. No interior, esses valores são ainda mais baixos. O custo de vida no México também é reduzido em relação a despesas diárias, como produtos frescos, refeições e viagens. “Tudo é mais acessível, então é possível sair para comer e viajar com mais frequência”, destacou Woodhouse.
A proximidade com os Estados Unidos é outra grande vantagem. O inglês é amplamente falado em polos populares de expatriados como San Miguel de Allende e Oaxaca, e produtos e referências culturais familiares estão facilmente disponíveis.
França
A França, na quinta posição este ano, é um dos países europeus mais atraentes para expatriados. Seja pela gastronomia, cultura ou pela combinação de montanhas, interior e praias, oferece um equilíbrio entre qualidade de vida e acessibilidade. O sistema de saúde do país é de classe global, estando entre os melhores do mundo. De acordo com a International Living, o sudoeste da França está se destacando como um local ideal para aposentadoria: cidades como Oloron-Sainte-Marie e Pau, nos Pirineus Atlânticos, oferecem habitação acessível e beleza natural.
Completando os 10 primeiros países da lista da International Living estão Espanha, Malásia, Grécia, Itália e Tailândia, cada um com benefícios únicos para expatriados.
A Espanha combina o estilo de vida mediterrâneo com excelente sistema de saúde, custo de vida acessível e riquezas culturais. A Malásia, o país asiático mais bem classificado, destaca-se pela acessibilidade, sociedade multicultural acolhedora e infraestrutura moderna, sendo uma excelente opção tanto para aposentados quanto para nômades digitais. A Grécia oferece paisagens impressionantes, um ritmo de vida tranquilo e custo de vida baixo, com ilhas como Corfu proporcionando refúgios serenos.
A Itália atrai pela valorização de um estilo de vida desacelerado, onde a boa comida e companhia são essenciais no dia a dia, além de iniciativas locais que incentivam estrangeiros a se estabelecerem. Por fim, a Tailândia atrai expatriados pelo custo de vida extremamente baixo, sistema de saúde de qualidade e variedade entre cidades e praias.
O impacto dos expatriados
Embora a ideia de mudar para o exterior possa ser atraente, nem sempre é bem recebida pelos locais. Em algumas áreas, há preocupações sobre gentrificação e seus impactos no mercado imobiliário e nas comunidades.
Alguns países já começaram a abordar as consequências não intencionais de políticas focadas em expatriados. O programa Golden Visa de Portugal, por exemplo, permitia que estrangeiros obtivessem residência de longo prazo comprando imóveis a partir de US$ 250 mil (R$ 1,4 milhão), precisando passar apenas duas semanas por ano no país. “Muitas pessoas aproveitaram esse programa”, explicou Stevens. “Elas alugam suas casas como locações de curto prazo — ou simplesmente as deixam vazias — o que, naturalmente, aumentou o custo da habitação para os locais. Agora, Portugal ajustou suas políticas para acabar com isso.”
Stevens destacou que ser um expatriado respeitoso e responsável é fundamental para criar boas relações. Aprender o idioma local é essencial. Embora não seja necessário ser 100% fluente, falar pelo menos o básico facilita a integração na comunidade.”