“Te ensino a ser popular!” Para quem já assistiu ao musical Wicked, essa frase de Glinda é o ponto de partida para uma das canções mais emblemáticas – e queridas – do espetáculo. Com coreografia cativante e cheia de carisma, a música “Popular” tornou-se um ícone da busca por aceitação e pertencimento. Mas, afinal, o que é ser popular em um mundo cercado por padrões e expectativas como o de Oz?
Desde sua estreia na Broadway, em 2003, Wicked conquistou milhões de fãs ao reimaginar a história de Elphaba e Glinda, duas jovens que se tornariam as bruxas mais famosas – e incompreendidas – da Terra de Oz. O musical firmou-se como um fenômeno cultural global, ganhando admiradores no Brasil, onde retornará aos palcos em março de 2025.
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O impacto do espetáculo foi ampliado com o lançamento da primeira parte do filme “Wicked”, em novembro de 2024. Estrelada por Cynthia Erivo e Ariana Grande, a adaptação cinematográfica não só alcançou sucesso de bilheteria, como também dominou as redes sociais. Canções virais no TikTok e em outras plataformas mantiveram o filme em evidência, enquanto sua indicação a dez categorias do Oscar de 2025 – incluindo Melhor Filme, Melhor Canção Original e Melhor Atriz Principal e Coadjuvante – consolidou o fenômeno. A segunda parte do longa já é aguardada com grande expectativa para o final deste ano.
Em meio a esse cenário, Fabi Bang e Myra Ruiz, intérpretes de Glinda e Elphaba na versão brasileira do musical, compartilham com a Forbes reflexões sobre popularidade, tanto no palco quanto fora dele. Em uma conversa descontraída, as atrizes exploraram temas como carreira, moda, amizade e autoconfiança.
“Uns truques de quem testou e aprimorou”
Para Myra, as redes sociais mudaram a forma de entender a popularidade. “Se Wicked fosse ambientado hoje, a popularidade estaria ligada a viralizar”, diz. “Se você vira meme, já é popular.” Fabi, por sua vez, vê uma ironia na música “Popular”: “Ela sugere que ser popular é seguir padrões, mas a história mostra como isso pode ser ingênuo e até prejudicial.”
Apesar disso, ambas concordam que popularidade vai além da superficialidade. “Ela está ligada à gentileza, autenticidade e talento”, afirma Fabi. “Não se trata apenas de aparência ou dinheiro.” E Myra complementa: “Ao longo da história, a Glinda amadurece e passa a entender isso.”
Com a fama, surgem situações inesperadas. Myra relembra uma experiência curiosa: “Estava em uma sessão de depilação a laser e, ao mencionar meu nome, a atendente disse que era minha fã. Foi engraçado, mas também constrangedor.” Fabi compartilha uma história inusitada: “Um vendedor de carros me reconheceu porque usava meu cupom de desconto. Foi curioso ver como meu trabalho alcança públicos tão diversos.”
No palco e fora dele, as lições do teatro são valiosas. Myra se inspira na coragem de Elphaba: “Ela dá uma segunda chance à Glinda, e isso transforma a vida das duas.” Fabi destaca a força da amizade entre as personagens: “Elas mostram que, com confiança e generosidade, é possível superar qualquer diferença.”
“Escolho o seu batom, vou achar seu tom”
A moda sempre foi uma grande aliada das atrizes, mas para Fabi e Myra, a verdadeira chave está em se sentir autêntica. Fabi, com seu estilo próprio, compartilha uma visão clara sobre como se vestir: “Minha dica número um é você se olhar no espelho e achar que está incrível. Não importa se está na moda ou não, o importante é se sentir bem com o que veste”, afirma. Ela acredita que a liberdade de não se prender às tendências é essencial, e recorda com bom humor uma situação recente em que, ao chegar para gravar em um estúdio, seu ex-marido comentou sobre a jaqueta que ela usava.
A peça causou estranhamento, mas foi elogiada pela ousadia: “Eu me acho linda com a jaqueta! Ele disse isso sem zombar, depois até comentou: ‘Nossa, muita atitude, super atitude!'”, lembra. Para ela, o mais importante é estar bem consigo mesma, independentemente da opinião dos outros.
Myra, por outro lado, aposta no conforto como segredo da moda. “A maior dica de moda é você estar feliz com o que veste, seja o que for. Quando vemos alguém usando algo que talvez não usaríamos, mas ela sustenta aquilo com confiança, você pensa: ‘Nossa, irado! Eu não usaria, mas não dá nem para julgar.’ Estar confortável transparece e faz toda a diferença”, afirma.
Apesar da rotina agitada, ambas encontram tempo para relaxar e se reconectar consigo mesmas. Para Myra, seu refúgio é em casa. “Criar um espaço aconchegante é essencial para recarregar as energias. Minha casa virou um lugar muito especial para mim, um lugar de luxo, na verdade. Tem vela de lavanda por toda parte e tudo que me faz sentir em paz”, compartilha. Já Fabi revela que, ao lado do namorado, descobriu um novo prazer: cozinhar juntos em casa. “A gente está mais feliz em casa do que saindo para comer. A comida fica melhor e, além disso, gastamos menos”, brinca, destacando que seu lar tem sido o centro da sua felicidade.
Ambas compartilham a ideia de que o verdadeiro luxo está nos momentos simples, rodeadas de pessoas queridas. Bang complementa: “Os eventos mais legais são quando você reúne pessoas com afinidade, mas de mundos diferentes, em um ambiente mais íntimo, como na casa de um amigo. É aí que a verdadeira diversão acontece, longe da agitação das baladas.” Ruiz ainda cita sua ideia de reunir amigos para noites de jogos e petiscos: “Uma noite com comida mexicana e jogos em casa é o tipo de rolê que me faz feliz.”
“Tem que aproveitar a bênção que a vida te deu: eu”
Quando questionadas sobre o significado de ser popular hoje, Fabi foi direta: “Popularidade, para mim, é inspirar e impactar positivamente. Estar neste lugar de privilégio, onde alguém quer ouvir o que eu tenho a dizer ou aprender com o meu trabalho, já é algo muito especial.” Myra concorda, acrescentando que “não é só ser conhecida, mas ser admirada pelo que você entrega ao mundo. Quem é popular nem sempre é admirado, mas quem é admirado, muitas vezes, tem algo mais profundo a oferecer.”
Essa distinção entre ser popular e ser admirada reflete a essência de suas carreiras. Fabi acredita que a admiração vem do trabalho dedicado e autêntico: “Não somos conhecidas em um nível nacional, mas quem nos acompanha no teatro e nas redes sociais valoriza o que fazemos. Essa troca é muito gratificante.” Myra reforça que o ideal é o equilíbrio entre os dois conceitos, mas não tem dúvidas de sua prioridade: “Se tivesse que escolher, prefiro ser admirada. A admiração vem de uma conexão mais verdadeira.”
As reflexões das atrizes se conectam diretamente com suas personagens em Wicked. Em sua visão, Elphaba e Glinda ensinam que a popularidade nem sempre está em sintonia com os valores pessoais e que abraçar quem você realmente é pode ser mais poderoso do que seguir padrões impostos. “A Elphaba me ensinou que aquilo que nos torna diferentes é, na verdade, o que nos destaca. É uma questão de coragem: não apagar o que te faz autêntico, mesmo que pareça mais fácil se encaixar no esperado”, conta Myra.
Fabi, por sua vez, destaca a mensagem de gentileza e conexão genuína de Glinda: “Ela não entende muito sobre humilhação pública porque vive em um mundo onde tudo gira ao redor dela, mas, ao mesmo tempo, trata os outros com uma elegância natural, sem recorrer à crueldade. Acho que esse é um ponto importante que ela ensina: popularidade não precisa ser às custas de alguém.”
“Você vai ser tão popular!”
E se Popular, a música icônica de Wicked, fosse adaptada para refletir essas visões? Fabi e Myra se divertem ao imaginar uma nova versão. “Seria sobre inspirar as pessoas, ensinar que a verdadeira popularidade está em ser gentil, tratar os outros com respeito e olhar para o mundo com generosidade”, diz Fabi. “Talvez envolvesse até tutoriais de maquiagem e ‘get ready with me’, porque eu adoro consumir esse tipo de conteúdo”, brinca Myra.
Assim como Elphaba e Glinda, as atrizes também aprenderam a importância das amizades verdadeiras. “Nossa relação começou com um pacto: ou a gente dava as mãos e crescia juntas ou deixava que as dificuldades nos separassem. Escolhemos nos apoiar, e isso fez toda a diferença”, revela Fabi. “A nossa amizade é um reflexo do que aprendemos no palco. Quando uma está mais fraca, a outra ajuda. É esse tipo de parceria que transforma tudo.”
Assim, como em Popular, a jornada de Elphaba e Glinda continua a ser um convite para abraçar as diferenças e celebrar a autenticidade – uma mensagem que ressoa tanto nos palcos quanto fora deles.