
“A gente passa a vida pelejando com o dilema de existir ou desistir, com o que é bom e o que é ruim, o certo e o errado, a morte e a vida. Essas coisas não se separam. O lugar que dói é o mesmo que sente arrepios.” A frase, presente no livro “Tudo é Rio”, sintetiza a intensidade emocional das histórias de Carla Madeira. A escritora mineira conquistou milhares de leitores ao explorar, com sensibilidade e crueza, as relações humanas. Agora, sua trajetória ganha um novo capítulo: a adaptação de uma de suas obras, “Véspera”, para uma série da Max, estrelada por Gabriel Leone, Bruna Marquezine e Camila Márdila.
Nascida em Belo Horizonte em 1964, Carla sempre esteve ligada às palavras. Jornalista e publicitária, é diretora de criação da agência Lápis Raro. No entanto, sua incursão na literatura aconteceu quase por acaso. “Sempre me envolvi com linguagens artísticas, mas achava mais provável me tornar cantora do que escritora”, conta. Um exercício de escrita resultou em Tudo é Rio, seu primeiro romance, publicado em 2014.
Inicialmente discreto, o livro ganhou força no boca a boca e conquistou leitores pelo Brasil. A história do triângulo amoroso entre um casal e uma prostituta, narrada com intensidade visceral, tornou-se um fenômeno literário. Em 2021, Carla foi a segunda autora mais lida do país, atrás apenas de Itamar Vieira Junior.
“Tudo é Rio poderia ter sido um conto, uma anotação sem futuro, mas virou livro porque foi muito bom escrevê-lo”, relembra. O romance nasceu de uma imagem forte: a de um pai atirando um bebê contra a parede. Ao longo de 14 anos, a narrativa amadureceu até sua versão final.
O reconhecimento veio aos poucos. “Foi especial porque a história cresceu no leitor: o boca a boca trouxe visibilidade e a imprensa ampliou o alcance. Martha Medeiros, presenteada com o livro por Leila Ferreira, escreveu sobre ele na revista Ela, de O Globo, e tudo mudou”, conta.
O que torna uma história marcante?
Os romances de Carla são intensos e mergulham na complexidade da experiência humana. Para ela, a conexão com o leitor é essencial. “Um livro acontece no leitor porque aquela história já está dentro dele de alguma forma. Toca em algo que já lateja.”
Seus enredos surgem de acontecimentos que a intrigam. “Quando algo me fisga, me interessa entender as personagens e suas circunstâncias. Por que chegaram ali? O que farão a partir disso?” Assim nasceu Tudo é Rio, em que uma prostituta se torna obcecada por um homem que não a deseja.

Além de “Véspera”, que será estrelada por Gabriel Leone, Bruna Marquezine e Camila Márdila, Carla Madeira conta: “meus três romances já tiveram os direitos de adaptação vendidos”
A adaptação de Véspera
Com o sucesso de seus livros, o interesse do audiovisual foi natural. “Meus três romances já tiveram os direitos de adaptação vendidos”, revela a autora. Agora, Véspera ganha vida como série da Max, sob direção de Joana Jabace.
O elenco reúne nomes como Gabriel Leone, Bruna Marquezine e Camila Márdila. “Fiquei impressionada com a entrega deles, a inteligência sensível que trouxeram para os personagens”, elogia Carla. Ela destaca ainda Yara Novaes, que interpretará Custódia: “Disse a ela: sua Custódia é melhor do que a minha. E não menti.”
Acompanhando de perto o processo, a escritora se mostra entusiasmada com as escolhas feitas. “Adaptações exigem decisões, e as que estão sendo feitas me animam.”
O futuro dos universos de Carla Madeira
Com os direitos de Tudo é Rio e A Natureza da Mordida já vendidos, novas adaptações podem surgir. Enquanto isso, Carla trabalha em seu quarto romance, que seguirá sua linha narrativa densa e emocionalmente envolvente. “Será uma polifonia e se passa dentro de uma família. Me interessa a dinâmica familiar como espaço essencial na formação das nossas potências humanas”, adianta.
Para ela, a escrita é um processo de entrega. “O livro só é seu enquanto está sendo escrito. Deixo o mundo do lado de fora e me divirto, mesmo quando sofro.” Com histórias que conquistam leitores e agora chegam às telas, Carla Madeira reafirma seu lugar na literatura brasileira contemporânea.