
A Prada surgiu como a principal candidata para adquirir a Versace da Capri Holdings por cerca de € 1,5 bilhão (R$ 9,31 bilhões), em um movimento que combinaria duas das marcas de moda de luxo mais icônicas da Itália.
Após meses de negociações intermitentes entre a Prada, sediada em Milão, e a Capri, que é dona de marcas como Michael Kors e Jimmy Choo, as duas empresas estão se aproximando de um acordo, que pode ser concluído “dentro de semanas”.
A Prada teve acesso às informações financeiras e aos dados de vendas mais recentes da Versace após concluir a primeira fase da análise da empresa. As negociações avançaram após a primeira fase da due diligence não identificar riscos.
O preço inicial pedido pela Capri para vender a Versace, também sediada em Milão, era de € 3 bilhões (R$ 18,62 bilhões) e o interesse de outros compradores prolongou as negociações.
O valor e o prazo do acordo ainda podem mudar, acrescentaram as fontes. O grupo Prada divulgou seus resultados de 2024 na terça-feira (4) e anunciou um faturamento de € 5,43 bilhões (R$ 33,72 bilhões), alta de 17% ante 2023, e lucros de € 839 milhões (R$ 5,21 bilhões), avanço de 25% ante o ano anterior.
Miuccia Prada, cofundadora e acionista controladora da Prada, afirmou na quinta-feira (27), durante o desfile da marca em Milão, que “todos estão de olho” na Versace, em sua primeira declaração pública sobre a possível aquisição.
Resultados fracos
A Capri era anteriormente conhecida como Michael Kors, mas mudou de nome após adquirir a fabricante de sapatos Jimmy Choo em 2017 e a Versace em 2018. A aquisição da marca italiana fundada pelo falecido Gianni Versace foi fechada por € 1,85 bilhão (R$ 11,49 bilhões), incluindo dívidas.
A Capri, sediada em Nova York, vem tentando vender a Versace há algum tempo. O plano foi acelerado em 2024. Um juiz dos Estados Unidos proibiu sua aquisição pela Tapestry, dona da Coach e de outras marcas de luxo acessível. O negócio movimentaria US$ 8,5 bilhões (R$ 52,79 bilhões), mas foi impedido por questões antitruste.
Se a venda for concluída pela estimativa de R$ 9,31 bilhões, isso representará um prejuízo para a Capri. A marca italiana enfrentou dificuldades nos últimos anos. A Capri divulgou que a receita da Versace nos últimos três meses de 2024 foi de US$ 193 milhões (R$ 1,20 bilhão), uma queda de 15% em relação ao mesmo período do ano anterior.
A Capri afirmou que está otimista quanto ao potencial de crescimento da Versace no longo prazo, mas suas previsões mostram que as vendas devem cair de US$ 810 milhões (R$ 5,03 bilhões) neste ano fiscal para US$ 800 milhões (R$ 4,97 bilhões) no próximo.
A S&P Global Ratings rebaixou a classificação da dívida da Capri em fevereiro, alertando que as dificuldades operacionais e o alto endividamento podem dificultar o pagamento de suas obrigações.
Tradição
A Prada foi fundada em 1913 em Milão por Mario Prada, mas tem sido liderada desde os anos 1970 por sua neta, Miuccia Prada. É o maior grupo de moda de luxo da Itália e manteve um bom desempenho financeiro apesar da desaceleração do setor, impulsionada principalmente pelo crescimento de sua marca Miu Miu. A Prada também é proprietária da Church’s, marca britânica de calçados.
A Versace, cujo estilo ousado contrasta fortemente com a elegância sóbria da marca principal da Prada, pode ser valiosa ao grupo milanês. A Prada está se preparando para uma transição geracional, com Miuccia Prada e seu cofundador Patrizio Bertelli planejando passar o controle para seu filho, Lorenzo Bertelli.
O grupo tem buscado aquisições como forma de ganhar escala. A compra da Versace a traria de volta ao controle italiano e fortaleceria a Prada em sua tentativa de competir com a francesa LVMH, dona de marcas de luxo como Louis Vuitton, Moët & Chandon e Hennessy.
A Versace não fabrica itens como malas, que continuam vendendo bem em períodos de desaceleração econômica e ajudam marcas como a Louis Vuitton a manterem sua receita. Também há dúvidas sobre se Donatella Versace continuará no comando da marca, já que ela a lidera desde o assassinato de seu irmão, Gianni, em 1997.
Concorrência
A compra representaria uma inversão da tendência do setor de moda italiano, após décadas em que grupos de luxo nacionais — como Gucci e Valentino — foram adquiridos por concorrentes estrangeiros. E a aquisição da marca fundada pelo falecido Gianni em 1978 criaria um grupo italiano mais capaz de competir com gigantes globais do luxo como a LVMH e a Kering.
A Prada tem se destacado no setor de luxo apesar da desaceleração global no segmento. No terceiro trimestre do ano passado, suas vendas dispararam graças ao sucesso da Miu Miu, popular entre o público jovem.
Mesmo com a aquisição, a Prada ainda valerá uma fração de seus maiores concorrentes. A empresa, listada em Hong Kong, tem um valor de mercado de cerca de US$ 21,8 bilhões (R$ 135,38 bilhões). Já a LVMH, que controla marcas como Louis Vuitton e Christian Dior, tem um valor de mercado de €347,5 bilhões (R$ 2,15 trilhões).