
Depois de 3 décadas trabalhando com muita dedicação e de ter alcançado respeito profissional na área de organização de eventos, decidi quebrar a nossa rotina e convencer meu marido, o navegador Amyr Klink, a reunirmos nossas três filhas, ainda pequenas, para uma viagem de férias na Antártica. A viagem seria no veleiro da família, o Paratii2. Não foi fácil, e apesar de eu ter enfrentado muita resistência a uma ideia tão inusitada, finalmente o Amyr aceitou. Foi então que começou o período de um ano de planejamentos, trâmites burocráticos e muita produção, até o veleiro estar abastecido com combustíveis, óleos lubrificantes, alimentos e peças de reposição. No verão de 2006 embarcamos com nossas mochilas, onde havia inclusive um espaço importante para acomodar o material escolar das meninas, e levantamos âncora para navegar rumo ao continente gelado.
Eram muitos os sonhos e incontáveis as inquietações que vinham com as ondas que explodiam com força na proa do barco. Todas as incertezas e a exaustão da preparação foram sendo diluídas à medida em que as águas mexidas iam ficando para trás. Era uma viagem de descoberta, movida a desafios, aprendizados e diversão.
Na Antártica tivemos uma ampla compreensão de que somos parte da natureza, mesmo vivendo tão longe do continente gelado. As meninas ainda tão jovens, na época com 6, 8 e 8 anos de idade, puderam entender com clareza o rigor do clima e o ciclo da vida dos animais que sobrevivem num ambiente extremo.
Depois de um mês de experiências raras e dos inúmeros registros fotográficos que fiz, ao sentir que aquela viagem estava se encerrando decidi fazer uma última imagem, captada do alto do mastro do nosso veleiro, para ter uma fotografia com uma perspectiva diferente da Antártica. Para isso precisaria subir os 36 metros de altura do mastro do barco. Minha ascensão foi pelo cabo da adriça (nos barcos não se usa a palavra “corda”; dizemos “cabo” e “adriça” é o nome do cabo que sobe a vela principal do veleiro).
A minha emoção não era simplesmente aquela de ter subido no top do mastro, mas por toda a jornada trilhada para que aquela viagem desse certo; havia também o esforço físico de estar lá em cima e além disso, também havia muita coragem – não só aquela de subir com uma das mãos carregando uma câmera fotográfica pesada enquanto o mundo parecia balançar com o vento e com a instabilidade das ondas do mar. Foi ali que eu senti o tamanho da coragem que eu carregava dentro de mim, ao trocar a segurança da terra firme para embarcar nossas três filhas tão pequenas, num veleiro, rumo a um destino incerto. Estar ali no alto, de certo modo, era como ter escalado o meu Everest.
Desde o seu planejamento aquela viagem tinha sido desafiadora e, estar concluindo um projeto que parecia inconsequente era, na verdade, a minha consagração. Foi com esse pensamento em mente que, quando eu estava pendurada lá no alto, ouvi o Amyr, lá de baixo, gritar: “Desce daí, Marina! Suas fotos não servem para nada!”
No sentido figurado acho que eu nunca mais desci daquele mastro porque, ao contrário do óbvio, ao voltar para casa decidi encerrar a minha carreira no mundo dos eventos para me dedicar à fotografia de natureza e transformei essa prática na minha profissão. Atualmente o meu banco de imagens conta com fotografias captadas em mais de 40 países. Nesse novo capítulo da minha vida publiquei 3 livros fotográficos e 2 livros infantis, além de outros que participei em coautoria. Produzi dezenas de fotografias que ilustram veículos impressos, digitais, materiais didáticos e pedagógicos; além das exposições que apresentei para grande público no Brasil e exterior.
Hoje sei que as oportunidades para fazermos grandes mudanças nas nossas vidas dependem de coragem; e que ela, na verdade, está dentro de nós.
A partir de agora vou trazer para a Forbes fotografias emblemáticas das minhas jornadas pelo mundo, e contarei as histórias que estão por trás dos cliques.
Um abraço e até a próxima coluna!
*Marina Bandeira Klink é uma fotógrafa de natureza brasileira, com nome reconhecido especialmente por seus registros fotográficos das regiões mais remotas do globo. Atualmente, Marina propõe novas experiências para viajantes e fotógrafos que, assim como ela, deseja fazer registros em destinos não convencionais. Ela publicou 3 livros de fotografia e 2 livros infanto-juvenis – ambos adotados por escolas particulares e pela rede pública de ensino de todo o país. Além disso, seu trabalho está presente em livros didáticos, jornais e revistas e em exposições fotográficas no Brasil e exterior. Em suas palestras Marina relata experiências vividas em viagens nada usuais abordando temas como coragem para uma mudança de Mindset, desafios e superação, liderança, empreendedorismo e meio ambiente.
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