SPFW: Aluf e Herchcovitch;Alexandre Abrem a Edição N59

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Dizem que coisas boas vêm aos pares. Foi esse o caso dos dois primeiros desfiles da edição N59 do São Paulo Fashion Week, que teve início no último domingo e segue até o dia 10 de abril. Aluf, de Ana Luisa Fernandes, e Herchcovitch;Alexandre, de Alexandre Herchcovitch, fizeram desfiles aplaudidos, cada um à sua maneira. O que os une? A afirmação de uma assinatura individual, que os encaminha por caminhos distintos – até mesmo literalmente: enquanto uma marca levou o público até uma tenda de circo, a outra recebeu seus convidados na boate Blue Space. 

Aluf

A cena: um respeitável público se reuniu na noite fria de domingo sob uma tenda circense feita com 1600 metros de tecido no estúdio cinematográfico Hangar. O tecido, aliás, será reaproveitado em uma coleção-cápsula da marca no futuro. Para abrir o show, uma performance das malabaristas Thais e Tati Cola (também conhecidas como “As Inigualáveis Irmãs Cola”) aqueceu o ambiente.

Na passarela: Ana Luisa diz ter pensado nos fios invisíveis que regem o malabarismo da mulher contemporânea, cumprindo seus múltiplos papeis. Criando uma relação entre a roupa funcional e a estética lúdica do circo, a estilista mostrou looks com listras retrô ou em tons sóbrios de bordô e marinho, que traziam graça e feminilidade em através dos shapes e superfícies 3D. Ficou claro no uso dos rolotês ( que se tornaram assinatura nas alças da marca e que agora surgem nas laterais dos quadris, sugerindo um esboço de anquinha moderna) e também na volumetria alcançada com um trabalho de texturas interessantes sobre vestidos decididamente dramáticos, perfeitos para os holofotes de fora da tenda. 

Para prestar atenção: desta vez, as golas ganham importância, ora em babados à la pierrô, ora em volumes românticos (e vale lembrar: golas removíveis já haviam sido anunciadas como tendência na temporada internacional, com protagonismo em desfiles como o da Dior de Maria Grazia Chiuri). 

Herchcovitch;Alexandre

A cena: aberta em 1996, a casa de shows Blue Space, na Barra Funda, foi palco de performances emblemáticas de figuras como Marcia Pantera. Interessante pensar que, no início de sua carreira ( na primeira metade dos anos 1990), a ideia de uma boate como locação de desfiles já marcava a trajetória de Alexandre Herchcovitch. Mas não seria esse o único elemento recorrente que foi visto na apresentação da segunda-feira.

Na passarela: para a maior coleção das últimas duas décadas (foram nada menos que 45 looks), o estilista apresentou um line-up de propostas que não tinham um tema único e específico – como ele prefere trabalhar –, mas incorporavam ideias de diferentes origens criativas. Está, afinal, na subversão e no deslocamento dos elementos de seu lugar esperado a maestria de Alexandre: vestidos com shape sixties em linha “A”, camisões pesados com influência esportiva do rugby e vestidos de veludo cotelê cortados no viés (com alças-joia de cristais Swarovski) se revezaram na passarela. 

Para prestar atenção: a continuidade de um trabalho especial com desenvolvimento têxtil – como Alexandre nos lembrou pelo Instagram dias antes de seu show, materiais como o látex da Amazônia não são uma novidade em seu repertório. A série de vestidos que encerrou o desfile foi feita a partir da aplicação de látex líquido sobre um manequim desenvolvido pela marca, em uma silhueta que fazia aceno ao shape do fim do século 18. Usados sem enchimento ou estrutura por baixo, os vestidos ganharam fluidez contemporânea. O acabamento final ficou por conta do fechamento por colchetes: presente desde o início do trabalho de Alexandre, o aviamento remete visualmente tanto ao romantismo do underwear quanto ao fetiche do underground. Ambos bem-vindos, sempre, na obra do artista. 

O SPFW N59 acontece de 7 a 10 de abril, com apoio da ForbesLife Fashion.

Com Antonia Petta e Milene Chaves

Donata Meirelles é consultora de estilo e atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle.

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