
A Copa do Mundo de 2026 vai repetir o que ocorreu em 2002, quando a bola rolou nos campos do Japão e da Coreia do Sul: o torneio está agendado para ser disputado em três países, Estados Unidos, México e Canadá. No entanto, muito antes do primeiro apito, já entrou em campo uma preocupação: se o endurecimento das políticas de imigração do governo de Donald Trump não deverá desestimular o comparecimento às partidas.
O temor não é trivial: em uma reunião no fim de abril, o senador democrata Ron Wyden, do Oregon, pediu a autoridades do governo que reconsiderem as políticas que estão impactando viajantes que chegam aos Estados Unidos. Ele citou textualmente eventos esportivos como a Copa do Mundo em um ofício enviado ao secretário de Estado Marco Rubio e à Secretária de Segurança Interna, Kristi Noem.
“[As medidas] transformaram viagens comuns em uma provação desnecessariamente exaustiva para turistas, viajantes a negócios, residentes permanentes legais e cidadãos norte-americanos”, afirmou Wyden no documento. O deputado também mencionou as Olimpíadas de Los Angeles em 2028 e a Copa Interclubes que ocorrerá no verão no Hemisfério Norte em 11 cidades americanas.
Queda do turismo
Não é por acaso. A empresa de previsão de turismo Tourism Economics revisou sua perspectiva anual em abril, passando a prever uma queda de 9,4% nas chegadas internacionais neste ano na comparação com 2024.
O pedido de Wyden veio após uma agência do governo, o Escritório Nacional de Viagens e Turismo, divulgar números preliminares mostrando que as visitas aos EUA caíram 11,6% em março na comparação com 2024. Entre janeiro e março, 7,1 milhões de visitantes chegaram aos EUA vindos do exterior, 3,3% a menos do que nos três primeiros meses de 2024.
Essa queda tem consequências financeiras. A Tourism Economics prevê que os gastos de visitantes internacionais nos EUA diminuam em US$ 9 bilhões (R$ 50,85 bilhões) este ano.
“Antes desses eventos, seus departamentos experimentarão um aumento significativo de viajantes buscando entrada nos Estados Unidos, incluindo atletas extraordinários, equipes de apoio, autoridades governamentais, jornalistas, empresários e espectadores”, escreveu Wyden.
Temor com restrições
Viajantes internacionais parecem cada vez mais receosos das políticas de imigração e fronteira do governo. Diversos países atualizaram as diretrizes de viagem para seus cidadãos que pretendem visitar os Estados Unidos. A atacante venezuelana Deyna Castellanos, que atua na Liga Nacional de Futebol Feminino, não se juntou à seleção de seu país para duas partidas recentes devido ao receio de não conseguir voltar.
A seleção feminina de Zâmbia não convocou quatro jogadoras que atuam nos Estados Unidos para partidas na China, por preocupações semelhantes.
Sem impacto no Brasil
Segundo Siderley Santos, vice presidente do grupo Arbaitman, a demanda de viagens de brasileiros para os Estados Unidos não tem sido afetada pelas medidas restritivas do governo. “Os números recentes demonstram que ninguém deixou de voar para os Estados Unidos, pois as viagens de negócios ou por lazer já tinham sido planejados com antecedência, até antes da vitória de Trump”, diz ele.
O executivo afirma que a Maringá Turismo, uma das empresas do grupo Arbaitman, registrou um crescimento de 12% na demanda por viagens para os Estados Unidos no primeiro trimestre de 2025 na comparação com 2024. Mas a imprevisibilidade de novas medidas tem preocupado os clientes. “A maior parte das consultas questiona a possibilidade de mais exigências de documentação e medidas de controle de acesso de estrangeiros”, diz Santos.