A sala do motorhome da equipe Toro Rosso, como era chamada a subsidiária da Red Bull, estava com um movimento tranquilo naquela tarde de quinta-feira em Spa-Francorchamps, onde seria realizado naquele final de semana o GP da Bélgica de 2014.
Alguns jornalistas, no entanto, fizeram questão de estar lá no horário do anúncio do novo piloto do time para a temporada seguinte.
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Convenhamos: um novato num time pequeno nem sempre chama a atenção, mas eu, como muito dos colegas ali presentes em Spa, sabia que aquele dia poderia ser um divisor de águas na história da F1.
E de fato foi: naquela acanhada sala seria apresentado Max Verstappen como piloto titular da Toro Rosso em 2015, fazendo dele o piloto mais jovem da história a competir na F1, com apenas 16 anos de idade.
Apesar de estar na Bélgica para cobrir a briga pela vitória naquele GP e pelo Mundial daquele ano, a memória da entrevista coletiva em Spa é uma das mais marcantes daquela temporada. E olha que estamos falando de um ano histórico, o primeiro da nova era híbrida, com o início do domínio da Mercedes encerrando justamente um período de conquistas da Red Bull.
Havia uma boa quantidade de jornalistas, afinal, um recorde seria batido. Mas certamente seriam centenas se todos soubessem que estaríamos diante de um dos nomes com maior número de vitórias e título da história (Max já é o quinto maior vencedor da F1, tendo superado Ayrton Senna).
Verstappen estava bem tímido, algo a ser esperado por um adolescente que até o ano anterior só competia no kart. Mas deu uma boa risada quando perguntei, em tom meio de brincadeira, se o estilo dele era diferente do pai, Jos Verstappen (que ficou conhecido por seus acidentes na F1 nos anos 1990).
“Ah, não, com certeza meu estilo é diferente do meu pai”, brincou Max. A esta altura, já eram conhecidas as histórias de uma criação austera por parte de Jos – que inclusive “largou” o filho para voltar a pé ao hotel em uma competição na Itália após um erro na corrida.
Também estive presente na primeira vitória de Max Verstappen na F1, justamente em sua estreia com a Red Bull, no GP da Espanha, em Barcelona. Sim, as duas Mercedes colidiram na frente e abriram o caminho para o holandês, mas é fato que a rápida adaptação a uma equipe de ponta ficara evidente.
E foi justamente na pandemia que este fator ficou ainda mais sobressalente: Max é assumidamente um “viciado” em esportes online, mais precisamente corridas virtuais. Perguntei a Verstappen sobre isso após mais uma vitória na F1, desta vez no GP da Espanha de 2023.
“É como meu hobby, mas eu o levo muito a sério. E acho que nunca é demais porque você sempre se testa. Eu dirijo principalmente outros tipos de carros em plataformas online e sempre pensando sobre o que posso melhorar também em termos de direção e em termos de configuração. É disso que eu gosto. Vou para a cama provavelmente pensando mais no simulador do que no que às vezes faço na F1”, disse Max.
O piloto inclusive aproveitou o período sem corridas na pandemia para organizar com outras estrelas da F1 corridas virtuais e até hoje é “figurinha” frequente nos simuladores online, especialmente na plataforma iRacing, considera a mais realista pelos pilotos.
“Às vezes leva muito tempo, mas eu adoro isso. E é difícil dizer se isso realmente me ajuda na Fórmula 1, mas definitivamente acho que não faz mal. E também no período de entressafra você faz isso, mas quando volto para um F1, parece que nunca parei”, completa.
A julgar pelo que Max Verstappen está fazendo no Mundial 2023, inclusive parando para trocar pneus na última volta só pra fazer o giro mais rápido na Áustria, definitivamente o mundo real parece estar no “modo fácil”. Talvez o campeão da nova era da F1 só encontre adversários em 2023 na vida virtual…