Entre os quase 200 países do mundo, o Brasil é o terceiro melhor colocado no ranking de todos os tempos quando o assunto é conquistas na Fórmula 1. Os pilotos nascidos no País venceram oito títulos mundiais (três com Ayrton Senna, três com Nelson Piquet e dois com Emerson Fittipaldi). A liderança é da Grã Bretanha (20 conquistas, incluindo Inglaterra e Escócia), seguida da Alemanha, com 12.
Por isso, a ausência de um piloto brasileiro no grid é incomum no esporte: há uma tradição no próprio mundo da F1 de ter o Brasil participando do esporte como protagonista, lutando por vitórias e títulos. E uma das principais promessas para o futuro está ligado a um piloto que igualou títulos de Max Verstappen no kart e que já tem contrato com a Ferrari: o pernambucano Rafael Câmara, que neste final de semana venceu a corrida de Spa-Francorchamps no Fórmula European Championship by Alpine (FRECA).
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Aos 18 anos, ele integra a Ferrari Driver Academy, que já promoveu diversos pilotos para a F1 – o atual titular do time italiano, Charles Leclerc, é o melhor exemplo. O currículo do jovem piloto brasileiro explica o porquê de tanta expectativa com sua possível chegada no topo da categoria do automobilismo mundial.
Seu início de carreira chega a ser inusitado: ele andou de kart pela primeira vez porque o irmão mais velho acabou não gostando do esporte. Melhor para Rafael – que, aos 13 anos, foi campeão brasileiro de kart e, tendo conquistado todos os títulos possíveis aqui, foi para a Europa para chamar a atenção das grandes equipes.
Deu certo: competindo no WSK (World Series Karting), uma espécie de “Champions League” do kartismo mundial reunindo os 100 melhores pilotos do mundo em competições na Europa, Câmara conquistou mais vitórias e títulos, incluindo dos prestigiados campeonatos como Champions of the Future, WSK Champions Cup e WSK Super Master Cup. Assim, ele colocou seu nome no mesmo troféu de ninguém menos que Max Verstappen, que também venceu no WSK em 2010 e 2011.
O sucesso na elite do kart mundial rendeu a Câmara o convite para uma seletiva em busca de uma vaga como piloto da famosa academia da Ferrari, a Ferrari Driver Academy.
“Sabia que esta seria minha grande chance na carreira. Nosso plano sempre foi vir até a Europa para chamar a atenção de uma equipe de F1 e fiquei ainda mais feliz por saber que esta oportunidade estava vindo justamente da Ferrari, que é o sonho de todo piloto no mundo”, disse Câmara a Forbes Motors.
Com testes dentro e fora das pistas, o time italiano avaliou diversos candidatos e, sobretudo pela sua extrema velocidade como piloto e pela frieza para a tomada de decisões, Rafael garantiu o tão sonhado título de piloto da Ferrari Driver Academy.
A ajuda italiana é enorme, pois o piloto oficial tem preferência nas vagas de times da base onde o piloto tem chance de disputar vitórias e títulos, caso da Prema, que pode ser considerada uma espécie de “parceira oficial” da Ferrari nas categorias de base . Foi com o time italiano, por exemplo, que Charles Leclerc se tornou campeão na divisão de base na F2.
A estreia como piloto da Ferrari Driver Academy na Europa não poderia ser melhor: Rafael Câmara venceu logo na sua primeira corrida da competitiva F4 Italiana, com mais de 40 pilotos na pista. O brasileiro também chamou atenção na F4 dos Emirados Árabes Unidos, onde foi vice-campeão mesmo tendo ficado de fora das três primeiras etapas do ano por ter contraído covid-19.
Em 2023, Rafael Câmara renovou seu vínculo com a Prema Racing e a Ferrari Driver Academy para mais um passo acima em sua carreira, agora na FRECA. “Fazer parte da Ferrari é o sonho de qualquer piloto. Agora e trabalhar ano a ano em busca de resultado para que possa chegar à Formula 1. Os meus resultados são bastante consistentes e a cada dia tenho me dedicado e aprendendo cada vez mais na Academia da Ferrari”, diz Rafael.
Nesta temporada, o brasileiro estreou subindo no pódio em Ímola, com um terceiro lugar e já venceu corrida em seu ano de estreia na etapa da Bélgica, no desafiador circuito de Spa-Francorchamps, o preferido da maioria dos pilotos – inclusive de seu ídolo, Ayrton Senna. Para 2024, a expectativa é que Câmara já esteja na preliminar da F1, competindo na F3, o que colocaria o piloto de vez na lista de favoritos da Ferrari para os anos seguintes, já que ele estaria a dois degraus da F1.
“Meu sonho é correr de F1 e, mais do que isso, estar na equipe Ferrari e colocar de volta o Brasil na briga por vitórias e títulos. Mas é claro que esta é uma longa jornada e tenho que pensar degrau a degrau. Foi assim quando começamos a ganhar corridas, vencer campeonatos no Brasil e depois na Europa e Mundial. Como piloto, não poderia ter melhor ajuda nesta caminhada do que a da Ferrari Driver Academy”, afirma Câmara.
Sem dúvida, é uma jornada cujo destino final ainda é difícil prever. O Brasil, no entanto, aguarda ansiosamente um jovem talento conseguir superar estes obstáculos: o País não participa de forma oficial do grid desde 2020, quando Pietro Fittipaldi substituiu Romain Grosjean na Haas. Desde 2017, com Felipe Massa na Williams, não temos um piloto titular em toda temporada. E, desde 2009, com Rubens Barrichello, o Hino Brasileiro não é executado na vitória. E desde 1991, com Ayrton Senna, o Brasil não vence um Mundial.
Quem sabe este longo jejum possa ser quebrado – primeiro com uma participação em GP, depois com uma temporada completa, uma vitória e, sonhando alto, de volta na briga pelo título. Talento e determinação para quebrar estes tabus Rafael Câmara já mostrou que tem. Em tempo: antes de Verstappen, a Holanda jamais havia vencido e conquistando um título na F1. Alguém poderia imaginar este cenário dez anos atrás, quando ele acabava de ser campeão no kart?