Elas estão em todos os espaços quando o assunto é motor. Talvez ainda não com a merecida atenção, mas cada vez mais ocupam posição de destaque na área automotiva. São pioneiras, extremamente competentes, corajosas e criativas.
Desde os primórdios da história dos veículos com motor a combustão, as mulheres vêm oferecendo contribuição indispensável para o desenvolvimento da indústria automotiva. Como ignorar, por exemplo, a importância de Bertha Benz, o verdadeiro alicerce para a implantação dos conceitos do marido Carl Benz, que, desanimado, quase abandonou suas ideias de criar o primeiro carro do mundo?
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Já Helene Rother teve de fugir duas vezes das garras do nazismo no auge da Segunda Guerra Mundial. A primeira em seu país de origem, a Alemanha, e a segunda no exílio na França. Acabou desembarcando nos Estados Unidos, onde virou uma primorosa designer da General Motors.
Se a situação exigir, elas comandam as operações de suas marcas com mão de ferro. A CEO global da GM, Mary Barra, está conduzindo a transição da fabricante na era da eletrificação e sem fazer escala na produção de carros híbridos. Os casos são inúmeros e em várias áreas. A motociclista Elspeth Beard colocou à prova uma moto BMW para dar a volta ao mundo, ao passo que a piloto Bia Figueiredo já conheceu as pistas de kart, Fórmula Indy e Stock Car. Hoje, disputa a Copa Truck em paralelo a atividades em prol do crescimento da presença da mulher no automobilismo nacional.
Felizmente, não só nas corridas, mas na indústria automotiva em geral, elas são cada vez mais requisitadas.
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Elspeth Beard – Arquiteta e motociclista
Em 1982, a inglesa Elspeth Beard resolveu subir numa motocicleta e saiu por aí. O resultado da aventura virou a autobiografia “Lone Rider”, que relata o dia a dia dos 55 mil quilômetros rodados mundo afora, a bordo de uma BMW R 60/6. Na época com 23 anos, a estudante de arquitetura juntou dinheiro trabalhando em um pub londrino.
A jornada de Elspeth começou em Nova York e prosseguiu no Canadá, México e seguiu para a América, via Los Angeles. De lá, embarcou para Sydney (Austrália) e partiu rumo a Cingapura, onde viveu um contratempo: todos seus pertences foram roubados. Restabelecida, conheceu Malásia, Bangkok e Tailândia. “Outras lembranças bem vivas aconteceram quando precisei usar meu capacete como burca no Irã pós-revolução de 1979”, afirma.
Elspeth deixou a Inglaterra forte e saudável, mas, na reta final da jornada, na Turquia, estava com 41 kg. Hoje, ela possui uma BMW R 80 GS Basic modelo 1998.
Marília Machado dos Santos – Diretora Geral da VW Portugal
Com mais de 20 anos de experiência do setor automotivo, Marília Machado dos Santos dirige a Volkswagen Portugal desde 2021. Marília é licenciada em Ciências Matemáticas, pela Universidade de Coimbra, e tem mestrado em Estatística e Gestão da Informação, pela Universidade Nova de Lisboa.
No entanto, seu percurso profissional começou na área de marketing de produto na Citroën. Transferiu-se para a Fiat Portugal e, em 2015, regressou ao Grupo PSA como diretora de marketing da Citroën e da DS. Naquele ano, assumindo três anos depois a direção comercial.
Desde 2019, era responsável pela marca francesa no mercado nacional, até aceitar o desafio de conduzir os destinos da Volkswagen. A missão: reforçar a posição da marca no mercado português, em estreita parceria com a rede de concessionários. “A chegada à Volkswagen representou o passo mais importante da minha trajetória profissional”, garante.
Helene Rother – Designer automotiva
Nos anos 1930, a jovem alemã Helene Rother ganhava a vida fazendo ilustrações para livros infantis. A carreira sofreu uma guinada porque, com o avanço do movimento nazista em seu país, ela decidiu fugir para a França, onde começou a desenhar acessórios de moda. Mas, observando que o nazismo também ocupava as ruas francesas, Helene radicalizou e se mudou para os Estados Unidos, em 1941.
Dois anos depois, se inscreveu para uma vaga de designer de interiores da General Motors. Não só foi aprovada como recebeu uma proposta de Harley Earl, vice-presidente de estilo da fabricante, para trabalhar ao seu lado. Helene tornou-se a primeira mulher a ingressar na GM como designer automotiva. Contribuiu na modernização de modelos da Buick, Chevrolet, Cadillac e Pontiac, trazendo mais elegância e requinte para o padrão de design automotivo.
No fim da década de 1940, Helene abriu sua própria empresa de design, para atuar como consultora na Nash Automotive.
Bia Figueiredo – Piloto da Copa Truck
Em um meio predominantemente masculino, o automobilismo nacional se acostumou a ver Bia Figueiredo nas pistas. Mas não só no Brasil. De 2008 a 2013, ela disputou as Fórmulas Indy e Indy Lights, nos Estados Unidos. Também fez parte do grid da Stock Car e, neste ano, começou sua trajetória na Copa Truck, pilotando o caminhão Mercedes da equipe ASG Motorsport.
Mãe de dois filhos, Bia ocupa seu tempo com as corridas, com a Forte, agência de geração de conteúdo ao lado de três sócias, e com a atuação na FIA Woman, como representante da América do Sul, e na Comissão Feminina de Automobilismo, braço da CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo), onde cria projetos que incentivem mulheres a ingressar na área automotiva.
“Queremos aumentar a presença feminina nesse universo. Apenas 3% dos pilotos são mulheres. E, entre os mecânicos, só vejo homens mexendo nos carros. As portas precisam se abrir para as mulheres”, argumenta.
Ana Theresa Borsari – Diretora de Experiência Digital da Stellantis
As ondas do litoral norte de São Paulo terão de esperar. Ao ser escolhida para comandar a área global de experiência digital e do cliente para veículos comerciais leves da Stellantis, Ana Theresa Borsari precisou guardar a prancha de surfe – um de seus passatempos preferidos – e se mudar para a França.
A executiva começou sua carreira na indústria automotiva na Peugeot do Brasil, em 1995. Em seguida, foi diretora de marketing, coordenadora comercial para o Sul da França e diretora geral da marca na Eslovênia, até retornar ao Brasil para iniciar o plano de reestruturação comercial da empresa e de suas concessionárias. A partir de 2018, encabeçou a reorganização de Citroën e DS, outras duas marcas do Grupo PSA.
Vanessa Castanho – Vice-presidente da Citroën na América do Sul
O caminho de Vanessa Castanho até se tornar vice-presidente da Citroën nas operações da América do Sul foi longo. Durante 23 anos, ela trabalhou nas áreas de vendas, marketing de produto, publicidade e relações governamentais e ESG (meio ambiente, social e governança). Depois de construir uma visão global do business automotivo, tirou um período sabático para empreender: fundou uma empresa de energia solar, hoje comandada pelo marido.
Preparada para novos voos, em 2021 aceitou o convite para assumir o cargo atual. “Apesar de toda a experiência, precisei de uma dose extra de coragem para navegar por áreas inexploradas”, destaca. A tradicional marca francesa precisava de uma estratégia robusta para a chegada de produtos destinados ao público sul-americano. A primeira parte da missão já foi cumprida. “Criamos o projeto chamado C-Cubed para lançar três modelos em três anos”, diz, com orgulho.
Bertha Benz – Primeira mulher do mundo a dirigir um automóvel
O mal-humorado Carl Benz pensou em abdicar do desejo de criar um automóvel a combustão. Mas sua esposa, a enérgica Bertha Benz, o encorajou a continuar, apesar dos contratempos. Sem ela, talvez a história do automóvel tivesse sido escrita com enorme atraso.
Nascida em Pforzheim (Alemanha), em 1849, Bertha conheceu o engenheiro Carl em 1870. Ela acompanhava de perto a oficina do marido – que enfrentava muitos problemas financeiros –, a ponto de adquirir grande conhecimento técnico.
Carl começou a desenvolver seu automóvel em 1883, e Bertha sempre sentava-se ao lado dele nos primeiros test drives. Em 1888, ela pegou o carro escondida dele e percorreu 180 quilômetros. Na volta, não se importou com a contrariedade de Carl e deu sugestões para melhorar o funcionamento do veículo. A partir desse episódio, dirigir tornou-se um hábito para Bertha, que, em 1944, foi nomeada senadora honorária da Technische Universität Karlsruhe para marcar seu 95º aniversário.
Mary Barra – CEO da General Motors
Sob o comando de Mary Barra, a General Motors global vem fazendo a transição para o mundo da eletrificação automotiva com um passo ousado. A companhia nem quer ouvir falar de carros híbridos (que adotam motores a combustão e elétrico). Ela pulará esse degrau e partirá para a produção de veículos 100% movidos a bateria.
A tarefa de Mary é abrangente. Obstinada, ela está focada em melhorar a experiência do cliente e fortalecer os principais negócios de veículos e serviços da GM, enquanto também trabalha para liderar a transição da mobilidade pessoal por meio de tecnologias avançadas, como conectividade, eletrificação e direção autônoma.
Antes de se tornar CEO, Mary foi vice-presidente executiva de desenvolvimento de produto global, compras e cadeia de suprimentos e vice-presidente sênior de desenvolvimento de produto global. Nessas funções, respondeu pelas áreas de design, engenharia e qualidade dos lançamentos de veículos em todo o mundo.
Tisha Johnson – Designer de interior automotivos
“Os clientes não estão dispostos a comprometer a beleza de um automóvel por causa da praticidade.” A opinião pode soar estranha nos dias de hoje, quando os carros oferecem soluções cada vez mais práticas para um uso extremamente racional. Mas foi assim que Tisha Johnson pautou seu trabalho na Volvo até 2020, onde foi responsável por toda a área de design de interiores dos modelos da marca sueca.
Liderou, por exemplo, o desenvolvimento das cabines dos modelos S90 e V90 desde o primeiro esboço até o resultado final. Ela assinou também o projeto do protótipo 3CC, um esportivo elétrico que representou os primeiros passos da Volvo no caminho da eletromobilidade.
Tisha trabalhou em vários veículos ainda na fase de pré-produção, como C70, S40, V50, S80 e S60. Práticos, sim, mas sem abrir mão da beleza.
(Reportagem publicada na edição especial LifeMotors, acessível no aplicativo na App Store e na Play Store, no site da Forbes e na versão impressa).