Apesar da enorme tradição de títulos e vitórias do Brasil na F1, o País não tem um piloto titular começando a temporada desde 2017, última temporada completa de Felipe Massa na Williams, e não tem representação no grid desde 2020, quando Pietro Fittipaldi competiu as duas últimas provas da temporada pela Haas.
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Um dos pilotos que luta para colocar o Brasil de volta na elite do automobilismo mundial é Felipe Drugovich. Campeão da divisão de acesso em 2022, na F2, ele é o atual piloto de testes e reserva da equipe Aston Martin e ficou perto de uma estreia na F1 no ano passado, quando o titular Lance Stroll se machucou em um acidente de bicicleta na pré-temporada e por pouco não ficou de fora da abertura do campeonato no Bahrein.
Para este ano, a categoria teve um recorde ruim para jovens talentos como Drugovich: pela primeira vez em mais de 70 anos de F1, nenhum time mudou seu quadro de pilotos de uma temporada para outra. O campeonato de 2024, porém, começou com uma bomba: Lewis Hamilton estará na Ferrari em 2025, o que vem provocando diversas especulações no mercado de pilotos e é algo que pode render uma boa posição de negociação para Drugovich.
“De 2023 para 2024, foi a primeira vez que o grid não teve mudanças na história. É algo complicado estar nessa situação, não ter uma oportunidade. Mas acho que para o ano que vem temos 13 contratos se encerrando, e vamos ter uma chance sim. Quanto mais contratos se mexerem no grid, acho que aumentam minhas chances para o ano que vem”, disse Drugovich em entrevista exclusiva a FORBES.
Enquanto a titularidade da F1 não aparece, o brasileiro se destaca em competições como a 24 Horas de Le Mans, que será disputada na semana que vem na França. E outros treinos de F1 devem aparecer ainda neste ano. Confira a seguir os principais trechos da conversa:
Como está sendo seu trabalho para estar em breve no grid da F1?
Meu trabalho começa estando aqui na pista e mostrando a cara o tempo inteiro para o paddock da F1, mostrando que estou dedicado e fazendo o que deve ser feito. Em todas as vezes que entrei no carro de F1, eu andei bem. Então eu acho que isso é o mais importante para mim: fazer o melhor com o que eu tenho em mãos. É um teste de paciência no final das contas. É quase uma tortura ver todos os pilotos andando e eu aqui, esperando. Mas eu tenho fé que esse dia vai chegar e que a gente vai representar o Brasil na pista.
Neste ano, já tivemos um caso de piloto reserva substituindo um titular (Oliver Bearman em Jeddah na Ferrari). Como é sua preparação caso isso seja necessário?
Tudo pode acontecer. Não vou dizer que é o que a gente espera, mas é quando a gente pode mostrar nosso potencial, quando a gente tem uma oportunidade para mostrar o que tem em mãos. Pode ser complicado pular para a F1 de última hora, mas o Bearman fez um bom trabalho e eu acredito que também posso fazer, e até melhor, na verdade. É um jogo de paciência. É esperar para ter a oportunidade e mostrar serviço para ter a chance de conseguir um contrato para um ano inteiro.
Pela primeira vez em 70 anos, o grid não trouxe nenhuma mudança de pilotos. É algo a ser questionado pela F1, pois o público quer ver novos talentos. Para 2025, as coisas estarem bem bagunçadas pode te ajudar?
Eu acho que sim. De 2023 para 2024, foi a primeira vez que o grid não teve mudanças na história. É algo complicado estar nessa situação, não ter uma oportunidade. Mas acho que para o ano que vem temos muitos contratos se encerrando, e vamos ter uma chance sim. Quanto mais contratos se mexerem no grid, mais aumentam minhas chances para o ano que vem. A gente tem que ver o que isso vai mexer na Aston Martin, que é onde a gente está focando para ver se conseguimos uma vaga aqui, mas temos que ficar espertos com as outras equipes também.
Depois de ser campeão da F2, você recebeu um bom suporte de patrocinadores. Isso te coloca em uma posição boa no mercado de pilotos?
Acredito que sim. Desde a F2, e até na F2 é difícil encontrar investidores e parcerias, mas depois de conquistar o título, sempre tive uma boa posição com relação a parcerias e patrocínios que a gente teve. E no momento eu acho que estou em uma posição muito boa, seja com o Brasil me apoiando, e a equipe também. Esses fatores são importantes para conseguir um contrato no fim do ano.
Você tem um programa de testes definido para esse ano, com o carro desse ano?
Estou em uma condição muito melhor do que eu estive no ano passado. Depois do treino livre que fiz ano passado, o respeito aumentou ainda mais e o pessoal vê que eu tenho que estar lá no futuro. Esse ano vou ter algumas oportunidades com o carro atual. Talvez alguns treinos com o carro de 2022, pois temos que treinar com o carro de duas temporadas atrás. E isso é positivo para me manter preparado para o futuro.
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Como é sua relação com os titulares Fernando Alonso e Lance Stroll?
No final do dia, cada piloto vê o outro como concorrente, mas há muito respeito entre os companheiros de equipe e entre os reservas. Pois a gente ajuda na evolução da equipe, seja no simulador ou em treinos com o carro. O ambiente na equipe é muito bom e o respeito é o mais importante, e a gente tem isso aqui.
A nova leva de torcedores da F1, a geração pós “Drive to Survive”, do Netflix, nunca viu o Brasil no grid. Isso cria ansiedade nos fãs também?
Acho que é uma ansiedade muito boa para esses fãs que começaram a acompanhar a F1 em uma época em que já não havia brasileiros no grid. Saber que eu posso ser o primeiro brasileiro que elas vão realmente torcer na F1 é um prazer enorme. É uma ansiedade boa e tento levar isso como algo positivo.
*Rodrigo França é repórter especializado em esporte a motor desde 1997. Em 25 temporadas, cobriu mais de 1.000 corridas de F1, Indy, Le Mans, Formula E, Nascar, Stock Car e Truck, acompanhando GPs em mais de 20 países diferentes. Também é autor do livro “Ayrton Senna e a Mídia Esportiva”, apresentador do programa “Momento Velocidade” na TV Gazeta e do canal Senna TV. Em 2023, cobriu 8 GPs da F1 por Forbes Motors.