Os empresários do país não investem, pois não enxergam uma direção clara nas ações da classe política nacional; com isto, a crise econômica se agrava e, quanto piores os dados econômicos, menor é a base de apoio do Poder Executivo no Congresso.
Por quanto tempo este estado de coisas se perpetuará? FORBES Brasil colheu a resposta de líderes econômicos e especialistas para tal questão.
Veja na galeria de fotos:
-
Carlos Wizard Martins – Presidente do Mundo Verde
“A história de nosso País mostra que a economia brasileira é cíclica. Em alguns momentos o cenário é favorável e, em outros, como o atual, estamos com certo grau de preocupação. Acredito que a escalada da retomada do crescimento econômico irá acontecer mais rapidamente se houver um acerto entre as forças políticas do País para que medidas de ajuste fiscal necessárias sejam aplicadas e a inflação controlada. A consequência disso será a retomada da confiança por parte de investidores brasileiros e estrangeiros.
Quando essa situação passar, a economia brasileira vai voltar a se deparar com o potencial que realmente tem, vide o imenso mercado consumidor de nosso País. Também ressalto que quem afirma que o período atual é de uma crise sem precedentes está se esquecendo de um passado não muito distante: a década de 1980. Naquela época enfrentamos uma sucessão de planos econômicos frustrados e a inflação batia na casa de 60, 70, 80% ao mês.
No passado dizia-se que o Brasil era o país do futuro. Hoje, eu posso afirmar, com toda certeza, que o Brasil é o país do presente, uma vez que existe uma infinidade de possibilidades para aqueles que são visionários e almejam um futuro de sucesso e realizações”.
-
Hélcio Takeda – Diretor de Pesquisa Econômica da Pezco Microanalysis
“O instável quadro político em vigor já contaminou grande parte do ano de 2016. A não aprovação de medidas importantes de política econômica (sobretudo nas questões fiscais), em consequência da ausência de governabilidade, impacta negativamente as expectativas dos agentes econômicos – que já esperam pelo pior. Ainda pairam dúvidas sobre a condução da política econômica em 2016: Joaquim Levy continuará à frente da Fazenda? Se não, há alguém com responsabilidade e senioridade disposto a assumir essa responsabilidade? Qual seria o mandato? Tudo isso em um contexto em que não sabemos se haverá ou não governabilidade no próximo ano.
Eliminar a incerteza no quadro político é um elemento importante para incentivar a retomada da atividade econômica. Os eventos mais recentes sugerem que ao menos um dos principais protagonistas do embate entre a Câmara dos Deputados e o Poder Executivo neste ano (se não ambos), deve sair de cena em 2016. Mas isso não significa, necessariamente, que as incertezas serão eliminadas. A saída de um ou de ambos vem acompanhada de novas dúvidas: a) Quem será (ão) o (s) sucessor (es)? b) Estarão do mesmo lado ou serão antagonistas? A capacidade de articulação política do Executivo vai melhorar? A governabilidade será restabelecida? Eliminar a incerteza, portanto, não significa simplesmente substituir uma ou mais pessoas. Demanda um esforço maior para a construção de uma coalizão ampla e forte, o que não parece estar claro neste momento.
Há que se reconhecer que ajustes importantes foram realizados no âmbito econômico em 2015. Os preços de energia, da taxa de câmbio e do custo do capital foram corrigidos ou seguem em correção. A equipe econômica, liderada por Levy, se esforçou para tornar as contas públicas mais transparentes. Se, de um lado, a fotografia piorou bastante (com inflação elevada, moeda desvalorizada, déficit primário e dívida pública maior), por outro lado contribuiu para adequar os preços dos ativos brasileiros à realidade. Portanto, com a eliminação das incertezas no quadro político, penso que a economia esteja preparada para a retomada – mesmo em condições distantes da ideal”.
-
Frederico Araujo Turolla – Sócio da Pezco Microanalysis e vice-coordenador do Mestrado e Doutorado em Gestão Internacional da ESPM
“A origem estrutural da crise brasileira está em uma sequência de desaforos à produtividade que foram praticados pelo governo federal nos últimos dez anos. A lista de desaforos é ampla, mas inclui manobras macroeconômicas desastradas, desonerações tributárias mal planejadas, aumento de burocracia, criação de proteções e margens de preferência que premiam ineficiência, ação anticompetitiva de empresas estatais, deterioração da qualidade dos mecanismos de regulação, posicionamento ruim em relações internacionais, aumento da corrupção, apenas para citar algumas. Tudo isto comprometeu seriamente a capacidade de crescimento da economia brasileira.
A deterioração do ambiente econômico causada por essa sequência de desaforos, juntamente com os processos anticorrupção que abalaram agentes políticos de relevo, formaram o caldo de cultura perfeito para a crise política atual. Há uma clara interdependência entre as conjunturas política e econômica. No âmbito político, a remoção dos atores dessa crise não será suficiente para a sua resolução, pois suas causas estruturais, de fundo econômico, continuarão presentes. Dessa forma, o ambiente político brasileiro tende a continuar turbulento em 2016, independentemente dos rumos que a conjuntura tomar. Apesar disto, como a economia já caiu abaixo de seu potencial, eu espero que o ano marque o início de uma trajetória de recuperação, ainda que sem qualquer exuberância. Essa recuperação pode se antecipar caso se obtenha um encaminhamento mais suave do ambiente político, seja através de um superministro que seja empoderado para retomar uma estratégia mais responsável, ou por uma substituição do cargo máximo”.
-
Cleveland Prates Teixeira – Coordenador do curso de MBA de Regulação Econômica da Fipe e professor de economia da pós FGV Law
“Ao continuar a polarização política e social que estamos vivendo, a tendência é que o próximo ano seja ainda pior do que o ano que estamos. Neste cenário não haverá consenso sobre a necessidade de se implementar reformas estruturais que possam nos tirar deste atoleiro. Mesmo em um cenário político mais positivo de recomposição da base no Congresso, que parecer pouquíssimo provável, a presidente já está dando sinais claros de que dobrará a aposta em um modelo econômico baseado no intervencionismo sobre setores chaves e descontrole total das finanças públicas.
As disputas políticas nada mais são do que um reflexo da crise econômica que vivemos, criada pelo próprio governo. Isto porque, quando o dinheiro acaba, fica difícil contemplar as demandas de todos os políticos e partidos que apoiam o governo. Vale ressaltar que nosso modelo político-eleitoral favorece fortemente o populismo e o fisiologismo, baseado no toma lá dá cá, e determinados grupos da sociedade em detrimento do todo.
No fundo o governo se colocou numa situação de ´se correr o bicho pega e se ficar o bicho come`. Para eliminar a crise política Dilma precisaria buscar mais apoio no Congresso, por meio de manutenção do processo de fornecimento de cargos públicos, elevar verbas para emendas de políticos e contemplar grupos de interesse que têm forte influência no Congresso. Mas o dinheiro acabou. E para contemplar esta meta teria que elevar o déficit público e criar mais ineficiências em vários setores econômicos. Por outro lado, para resolver os problemas na economia teria que dar uma guinada de 180 graus, cortando gastos ineficientes, estimulando investimentos privados em infraestrutura e principalmente, fazendo reformas estruturais, como da previdência e tributária. Só que isso é atualmente contraditório com a recomposição da base política, dado nosso modelo político vigente.
De maneira resumida, me parece que até 2018 nós enfrentaremos um longo período de recessão, ou mesmo de estagnação somada à recessão. Ainda mais lembrando que, sem entrar no mérito da recente decisão do Supremo, o efeito prático do rito definido pela Corte favorece a manutenção da Dilma no cargo e a limitação de qualquer encaminhamento do processo de impeachment”.
-
Anúncio publicitário -
José Roberto Securato Junior – Diretor da Saint Paul Advisors
“O ano de 2015 foi daqueles para ser esquecido, e alguns já comemoram que ele acabou. Eu não. Pois 2015 parece não acabar e vai se estender por todo 2016, infelizmente. A crise brasileira é política, não econômica mas, uma hora, a primeira impacta a segunda. Nos próximos meses a crise política vai continuar comprometendo a economia brasileira e inviabilizando a sua retomada.
O principal elemento da crise brasileira é a incerteza que posterga investimentos dos nossos empresários e afugenta o capital internacional. Essa indefinição, por sua vez, aumenta a precaução dos bancos enxugando a liquidez do mercado. Sem investimentos e com pouco capital, não há crescimento, emprego e consumo. Porque crescimento gera empregos, que paga salários, que gera consumo. Não é tão complicado.
Não vejo um cenário que se resolverá no curto prazo, fazendo 2016 uma extensão de 2015. Mas há uma diferença para doze meses atrás: em dezembro de 2014 acreditávamos que a eleição da presidente Dilma havia resolvido a incerteza do ano eleitoral. Para o bem ou para o mal, as expectativas para 2015 estavam definidas, essa oscilação virara risco. E com risco, os empresários e investidores sabem lidar. Começamos 2015 acreditando que seria melhor que 2014 (aquele ano com onze meses porque pouco se somou ao PIB no mês da Copa) – não foi assim. E agora, estamos em dezembro de 2015 pensando em 2017. É bastante diferente. É um tanto pior.
O Brasil ainda tem que resolver o novo cenário político, um grande desafio no meio desta onda de corrupção, oposição dividida e um monte de gente ´com o rabo preso`. Quando desatarmos este nó teremos condições de direcionar a economia brasileira e pensar em crescimento econômico, geração de empregos e investimentos. 2017 está logo aí…”
-
Adriano Gomes – Sócio-Diretor da Méthode Consultoria
“O ano de 2016 já está carimbado e o selo não é nada animador. Já se iniciará com uma atividade abalada e sem poder de recuperação. Nada há de concreto que mostre de forma clara algum sinal para a primeira metade do próximo ano. Inflação com marcha engatada, desemprego crescente, nenhuma reforma na agenda governamental. Enfim, nenhum vetor que puxe as expectativas e o ânimo dos empresários a investir e empregar. Há um alto endividamento das empresas no curto prazo, indicando mais restrição à renovação de linhas de crédito por parte do sistema financeiro. Além, é claro, de tornar o custo do dinheiro mais alto.
Sem nenhum recurso adicional, restará ao Banco Central tentar conter a inflação com o instrumento disponível: aumento da taxa de juros, o que nada mais é que tentar apagar o fogo com gasolina, uma vez que o aumento dos juros são traduzidos na outra ponta por inflação.
Enfim, se 2015 foi um ano muito ruim, 2016 promete ser ainda pior.
O efeito disto é a inércia total. Nada foi proposto e muito menos votado a fim de mostrar aos agentes econômicos um panorama animador. Nesta peleja só havia um propósito: cada qual marcar território e se proteger. Os interesses do Brasil e da população não estiveram em momento algum neste embate. Apenas interesses pessoais e mesquinhos. Consequências: inflação oficial acima dos 10% anuais, dólar a R$ 4, desemprego na indústria (onde há os empregos mais qualificados) e queda do PIB estimada em 3,7%. Enfim, poderíamos elencar uma plêiade de estatísticas negativas e nenhuma delas, absolutamente nenhuma, fez parte do repertório de interesses de um lado ou outro da Praça dos Três Poderes.
Não se tem no curto prazo qualquer previsão de resolução de forma pragmática do imbróglio do impeachment. Visto que a oposição, além de possuir a menor parte dos parlamentares, tampouco tem um discurso capaz de unir a sociedade civil em torno de um projeto político diferente do status quo, minha percepção é que 2016 será mais um ano perdido para o Brasil.
Mas, e a economia?
Bem, a economia vai muito mal, cada vez pior e sem que se encontre algum pilar de sustentação mínimo das expectativas de produção e consumo. Isso posto, entendo que mesmo que ocorra um pacto político, uma união de forças da situação e oposição (por mais improvável que se possa admitir essa hipótese), a economia já está tão debilitada que vai demandar muito mais tempo para sua recuperação”.
-
Claudio Felisoni de Angelo – Presidente do IBEVAR (Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo)
“Quando se quer ilustrar um dilema, frequentemente indaga-se: “O que veio primeiro, o ovo ou a galinha?”. No que se refere à política e à economia, porém, esse tipo de intercorrência não se aplica. A política pode ser traduzida pelo exercício da escolha, e não há nenhuma possibilidade para que ela caminhe separadamente da economia, uma vez que a segunda é consequência da primeira. Em outras palavras, de um ovo de galinha não se pode esperar nascer um passarinho, certo? Lamentavelmente, o cenário político é instável, isto é, paira muita incerteza sobre o horizonte do futuro imediato.
Suponha que ocorra o impeachment: como reagirão os movimentos sociais? E se não houver, isso reforçará a postura ideológica contra o mercado que marcou mais fortemente a primeira fase do atual governo? Por tudo isso, 2016 será um ano difícil. Os varejistas terão de ser criativos, assim como os consumidores. Como os preços dos produtos apresentarão variações mais centradas, os empresários terão de negociar cada vez mais com os seus fornecedores em busca de valores competitivos, enquanto cabe ao consumidor pesquisar os itens com preços mais condizentes com seu orçamento. O ano novo começa com suspense, incertezas. Mas, o brasileiro é um povo versátil, característica que nos faz sermos capazes de superar mais essa crise”.
Carlos Wizard Martins – Presidente do Mundo Verde
“A história de nosso País mostra que a economia brasileira é cíclica. Em alguns momentos o cenário é favorável e, em outros, como o atual, estamos com certo grau de preocupação. Acredito que a escalada da retomada do crescimento econômico irá acontecer mais rapidamente se houver um acerto entre as forças políticas do País para que medidas de ajuste fiscal necessárias sejam aplicadas e a inflação controlada. A consequência disso será a retomada da confiança por parte de investidores brasileiros e estrangeiros.
Quando essa situação passar, a economia brasileira vai voltar a se deparar com o potencial que realmente tem, vide o imenso mercado consumidor de nosso País. Também ressalto que quem afirma que o período atual é de uma crise sem precedentes está se esquecendo de um passado não muito distante: a década de 1980. Naquela época enfrentamos uma sucessão de planos econômicos frustrados e a inflação batia na casa de 60, 70, 80% ao mês.
No passado dizia-se que o Brasil era o país do futuro. Hoje, eu posso afirmar, com toda certeza, que o Brasil é o país do presente, uma vez que existe uma infinidade de possibilidades para aqueles que são visionários e almejam um futuro de sucesso e realizações”.