Quando Marcio Kogan nasceu, no começo da década de 1950, surgiam também, pelas mãos de seu pai, o engenheiro Aron Kogan, os primeiros arranha-céus da cidade de São Paulo (um deles, o Edifício Mirante do Vale, preservou o título de prédio mais alto do Brasil até 2014). “Minhas lembranças mais vivas com meu pai [Aron faleceu quando Marcio tinha 8 anos] eram ir às obras e visitar as lajes – que eram todas abertas e davam muito medo”, conta Marcio, em uma tarde chuvosa no seu Studio mk27, escritório fundado no fim dos anos 1970 nos Jardins. Apesar de crescer sem a presença física do pai, ele viveu até os 30 anos em uma obra de sua autoria, uma casa de caráter ultramodernista: “Ela era muito parecida com a Villa Arpel, do filme ‘Meu Tio’, do francês Jacques Tati. Era um lugar extremamente tecnológico para a época. Eu brinco que o Tati copiou minha casa.”
A CASA QUASE CAIU
“Com dez anos de formado, fiquei desesperado: eu tinha toda a instrumentação para fazer um trabalho melhor, mas não tinha um cliente que me proporcionasse isso, o que criava um círculo vicioso”, lembra Marcio. Na sequência, filosofa: “Muitas vezes, acontecimentos randômicos são capazes de reverter uma situação”. E foi o que aconteceu com ele no início dos anos 2000: “Comecei a fazer obras com mais relevância. Uma delas foi a casa Gama Issa, premiada dentro e fora do país, além de ser finalista do World Architecture Award, em Berlim. Depois disso vieram a loja Uma do Shopping Higienópolis, um museu em São Paulo… É coisa do destino. Me formei querendo trabalhar com habitação social e a vida foi me levando para esse outro caminho”, analisa. Desde 2001, seu escritório recebeu mais de 250 prêmios, entre os mais recentes o Prix Versailles e o IAB SP.
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“Todo projeto sai da prancheta com nota sete; o cliente é quem decide se vai ser quatro ou dez. Ele tem esse poder”, diz Marcio Kogan
Mesmo com todas as conquistas, Marcio, que é conhecido por seu perfeccionismo, considera que em todos os projetos “sai um pouco de sangue”: “Na hora de fazer, é preciso ter a paciência de estudar muito, se dedicar totalmente. Depois vem a realização, que também é penosa. E, é claro, tem o cliente, que pode te jogar para cima ou para baixo – costumo dizer que todo projeto sai da prancheta com nota sete; o cliente é quem decide se vai ser quatro ou dez. Ele tem esse poder”.
E LA NAVE VA
Fascinado pelo cinema autoral de Federico Fellini (1920-1993), Marcio flertou com a sétima arte: “Houve um tempo em que eu não sabia se ia ser cineasta ou arquiteto, mesmo já formado em arquitetura. E depois de fazer o longa “Fogo e Paixão” [de 1988], junto com [o arquiteto] Isay Weinfeld, defini minha carreira. Não gostei do filme, acabou o dinheiro e fiquei seis meses fora da minha profissão, voltei para a estaca zero”, lembra. “No fundo, foi bom. O cinema me trouxe elementos que entram na arquitetura, como as proporções alongadas, a importância da luz e o trabalho em equipe”.
Com 67 anos e “casado” com a capital paulista, de onde “não pensa em se mudar nunca”, Marcio também se casou com a artista Raquel Kogan. Dessa união nasceu Gabriel, hoje com 35 anos. Gabriel lembra como a profissão dos pais influenciou sua vida: “As viagens com meus pais giravam em torno da arquitetura. Eu ia para a Disney para ver prédios. Uma criança fazer ‘arquiturismo’ é meio bizarro, não?”, diverte-se.
Para o pai coruja, “a arquitetura veio de forma natural para Gabriel”: “Ele tem um olhar muito melhor que o meu na idade dele, uma visão apurada que se reflete nos projetos. Além disso, é muito estudioso”. Apesar de ter seguido esse “caminho natural”, à semelhança do pai, Gabriel também teve seus momentos de dúvida em relação à carreira. “No começo, eu não queria estudar arquitetura. Por algum tempo, pensei em fazer jornalismo. Também quis estudar história. Por fim, acabei entrando na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Trabalhei com Paulo Mendes da Rocha e depois vim para o Studio mk27”, conta Gabriel, que paralelamente se desenvolveu como pesquisador, teórico e professor (acaba de iniciar um mestrado na USP sobre as relações entre as arquiteturas japonesa e brasileira).
Coincidentemente, a “segunda cidade no mundo” de seu pai é Tóquio: “Em dezembro, fui pela sexta vez. É meu destino de férias de fim de ano. Na primeira vez que cheguei lá, me senti descendo de uma espaçonave em um planeta onde ninguém te entende – mas no fim tudo se encaixa, tudo dá certo. E você fica encantado pela civilização, pela sofisticação e pela educação do povo japonês”.
Marcio Kogan é membro honorário do AIA (American Institute of Architects) e professor da Escola da Cidade, em São Paulo, e do Politecnico di Milano. Uma carreira construída com pedras, suor e um pouco de sangue.
Veja, na galeria de fotos abaixo, obras projetadas por Marcio e Gabriel Kogan:
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Fernando Guerra Casa Redux foi assinada por Marcio Kogan e Samanta Cafardo. Projeto Casa Redux: Diana Radomysler, Beatriz Meyer, Carlos Costa, Laura Guedes, Mariana Ruzante, Mariana Simas, Oswaldo Pessano, Suzana Glogowski, Henrique Bustamante
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Fernando Guerra micasa Vol. C foi assinada por Marcio Kogan e Marcio Tanaka, ganhadora do Prix Versailles 2019. Projeto micasa Vol. C: Carlos Costa, Diana Radomysler, Laura Guedes, Mariana Simas, Oswaldo Pessano e Tamara Lichtenstein
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Fernando Guerra Casa na Mata foi assinada por Marcio Kogan e Samanta Cafardo
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Fernando Guerra Projeto Casa na Mata: Diana Radomysler, Carlos Costa, Eline Ostyn, Laura Guedes, Mariana Ruzante, Mariana Simas, Oswaldo Pessano e Fernanda Neiva
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Victor Affaro Projeto da lanchonete do Z Deli, no centro de SP, assinado por Gabriel Kogan e Guilherme Pianca
Casa Redux foi assinada por Marcio Kogan e Samanta Cafardo. Projeto Casa Redux: Diana Radomysler, Beatriz Meyer, Carlos Costa, Laura Guedes, Mariana Ruzante, Mariana Simas, Oswaldo Pessano, Suzana Glogowski, Henrique Bustamante
Reportagem publicada na edição 75, lançada em março de 2020
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