Foi uma eleição apertada, na qual Aécio Neves conseguiu a maior votação já conferida a um candidato do PSDB desde 2002. Isso, contudo, não quer dizer que ele seja o candidato natural do partido em 2018. Geraldo Alckmin e, correndo por foram, José Serra também estão de olho nesta candidatura. A turma do meio copo cheio enxerga o desempenho de Aécio como sua maior credencial para pleitear uma segunda chance daqui a quatro anos. Já o pessoal do meio copo vazia acredita que o desempenho foi apenas quatro pontos superior ao de Serra, em 2010, quando o Brasil estava com a economia bombando. Ou seja, atingir a marca de 48 % dos votos válidos numa economia em recessão e em meio a denúncias de corrupção na Petrobras seria pouco.
Por que Aécio perdeu? São algumas as razões.
Em primeiro lugar, sua equipe não conseguiu rebater à altura a artilharia comandada pelo marqueteiro João Santana, do PT. Um ex-assessor de Aécio, na quinta-feira à noite, dizia que Aécio não costuma contratar marqueteiros de peso, pois não é de seu feitio seguir ordens. Já Dilma Rousseff acatava todas as orientações de Santana. Pude conferir isso de perto no debate da Band. A candidata do PT usava todos os intervalos para ouvir o que seu marqueteiro tinha a dizer. Já Aécio ouvia rapidamente seus assessores e ficava a maior parte do intervalo comercial sozinho, se concentrando. Esse comportamento pode ter contribuído para sua derrota.
Outro problema foi a atitude de Aécio nos primeiros três primeiros debates. Seu tom de voz agressivo, ao final de três horas, acabava caindo mal nos ouvidos dos eleitores indecisos. Além disso, o sorriso irônico que endereçava a Dilma também acabou ferindo sua imagem. No último embate, conseguiu se segurar por um bom tempo, mas retomou a atitude agressiva no final. Sua verve é imensamente superior à de Dilma, que engasgou e gaguejou em todos os debates. Mas sua postura, aliada à propaganda negativa gerada pelo PT, colocou seu índice de rejeição acima do da candidata do PT. Isso também pode ter interferido no pleito.
Fica uma pergunta: quantos votos Aécio ganhou ao anunciar que nomearia Armínio Fraga para o Ministério da Fazenda? Zero. Porém, com essa nomeação ele abriu as portas para um bombardeio fortíssimo na campanha petista, que apresentou sem parar números ruins da economia do governo Fernando Henrique Cardoso, que teve Armínio na presidência do Banco Central. Essa nomeação antecipada, ainda, deu um mínimo de credibilidade aos argumentos de que os programas sociais seriam sacrificados em função de uma economia pró-mercado. Obviamente, ninguém poderia afirmar que isso aconteceria com certeza. Mas, na cabeça dos menos favorecidos, a presença de Armínio poderia significar que o PSDB pensaria primeiro na estabilidade da moeda.
Dilma, eleita, fez um discurso conciliatório que destoou da atitude da militância na plateia. Eufóricos, os petistas ironizaram os tucanos e provocaram a Rede Globo. O fato é que o país dividiu-se ao meio – mas não vale colocar a culpa nos nordestinos. As vitórias de Dilma no Rio e em Minas Gerais foram cruciais para o triunfo do PT. E, ao contrário do que diz a lenda urbana, a de que os eleitores do norte de Minas é que foram responsáveis pela vitória de Dilma no estado de Aécio, vale lembrar que há menos que 2,5 milhões de habitantes na região próxima à Bahia, contra mais de vinte milhões em todo o estado.
De qualquer maneira, a eleição de Dilma traz um novo jeito de fazer campanha política, o de bater impiedosamente no adversário, algo que existe há tempos nos Estados Unidos. Com essa estratégia, a rejeição a Aécio foi crescendo até ultrapassar o índice da própria Dilma na semana que precedeu o pleito. João Santana provou que estava certo e seu trabalho – goste-se ou não dele, uma vez que houve exageros – foi fundamental para a vitória do PT.
Ultima constatação: dessa vez, as pesquisas presidenciais do Datafolha e do Ibope acertaram em cheio, errando o percentual final por casas decimais. Apesar da volatilidade na escolha dos votos, o saldo final para os institutos foi bem diferente do apresentado no Primeiro Turno, quando acertaram a tendência e erraram feio os números finais.