“A questão hoje não é se haverá recessão, mas quão preparado para esta recessão o Brasil está”; Sam Aguirre, diretor da FTI Consulting, concedeu-me um forte depoimento sobre o que espera o Brasil no ano que vem em termos econômicos. Eis o mesmo abaixo, vale a pena conhecê-lo:
“Acredito que a ´tempestade perfeita`está em formação e prestes a atingir o Brasil.
A redução da atividade econômica já está clara há algum tempo. Na prática, o Brasil vem passando por um período de ´estagflação` (baixo crescimento econômico com inflação persistente) desde 2012. A questão hoje não é se haverá recessão, mas o quão preparado para esta recessão o Brasil está.
Redução contínua da renda e consumo pessoal decrescente estão entre os principais sinais que a recessão não terá uma solução simples. A demanda chinesa por commodities, a qual balizou o crescimento brasileiro por anos, assim como o consumo pessoal, estão em uma espiral de redução. A maioria dos setores da economia está enfrentando dificuldades, e o desemprego está prestes a subir nos próximos meses. Setores-chave tal como cimento, aço e construção estão com atividade decrescente, um claro sinal de que a atividade econômica como um todo continuará a sofrer.
A indústria automotiva, por exemplo, está reduzindo a produção, lançando mão de programas de férias coletivas novamente. Geralmente tal medida é a última a ser tomada antes da dispensa definitiva de funcionários. O setor de mineração está sofrendo com a queda acentuada dos preços de seus produtos, especialmente minério de ferro, associada a custos de extração crescentes. A cadeia de óleo e gás é uma vítima de dois fatores: a derrocada da OGX e principalmente a redução dos investimentos da Petrobras. Esta tem enfrentado seus próprios problemas financeiros, em sua maioria resultantes da decisão do governo em utilizá-la como instrumento de política monetária ao invés de locomotiva da indústria. O setor de energia elétrica está enfrentando a principal crise depois do racionamento de 2002. O custo de energia (combustíveis e eletricidade) aumentará significativamente em 2015, pressionando todos os setores da economia e alimentando ainda mais a inflação.
O setor financeiro também sofrerá. Apesar da concessão de crédito por bancos privados ter sido, ultimamente, relativamente seletiva, a inadimplência deverá aumentar significativamente nos próximos meses. Sendo que os bancos já vêm alongando dívidas insustentáveis, que provavelmente já faziam jus a algum provisionamento e a uma reestruturação de fato. Assim sendo, o setor bancário não só enfrentará novos casos de inadimplência como terá que buscar solução mais estrutural para os ativos problemáticos que vem sendo carregados em seus balanços.
Considerando o acima exposto, a questão que se impõe é: quão resistente o Brasil será perante tantas adversidades? Acredito que o País esteja em uma posição muito vulnerável e lhe falte base estrutural para superar a recessão rapidamente. Altos impostos limitam o capital disponível para reinvestimento e crescimento, enquanto a legislação trabalhista severa afasta investidores. O consumo voltará somente após a redução do endividamento, porém não devemos esperar esta redução do endividamento da população em um cenário de desemprego crescente.
Quanto às expectativas do mercado financeiro, quando olhamos os dados publicados pelo boletim Focus do Bacen (Mediana Agregado ou o ´Mercado`), é latente que o mercado de maneira geral subestimou a atividade econômica durante períodos de crescimento (2003 a 2008) e na direção inversa, superestimou a atividade econômica desde 2010. A simples inferência que se pode fazer é que o PIB projetado atualmente pelo mercado para 2015 está 1% superestimado.
Acredito que a atividade econômica sofrerá ainda mais durante 2015, uma vez que todas as condições para uma recessão estão presentes localmente e não deve haver estímulos externos que colaborem para uma recuperação mais rápida. Pelo contrário, um potencial aumento das taxas de juro americanas pode resultar em recursos mais escassos ou no mínimo mais caros para o País. Francamente, devemos ser realistas e assumir que a recessão é inevitável e não será leve ou passageira. Assim sendo, precisamos tomar decisões conforme expectativas realistas. Se devemos desejar algo para 2015 é que, além dos fatores acima expostos, não tenhamos que sofrer também mais um ano de poucas chuvas, o que contribuiria ainda mais para o cenário de aumento de custos de produção e inflação. Por hora, apertem os cintos e preparam-se para anos desafiantes”.