Ernesto Zarzur, o patriarca da EZTec Empreendimentos e Participações, é (junto com sua família)dono de um patrimônio de R$ 2,03 bilhões — o que o torna um dos 11 bilionários brasileiros oriundos da construção civil e/ou do mercado imobiliário. Ele teve seu perfil publicado na edição de agosto do ano passado de FORBES Brasil, mas os tempos eram outros. Desde então, a situação da construção civil no país mudou, o estado da economia também e até o clima político alterou-se sensivelmente. Mas algo permanece: a postura sóbria e conservadora do empresário – que só atua na capital paulista, em sua região metropolitana e algumas poucas cidades próximas; evita ao máximo contrair empréstimos bancários; e paga em dinheiro por todo terreno que adquire, sem recorrer a permutas ou acordos.
Graças a tal abordagem, os negócios da EZTec constituem uma rara ilha de solidez no hoje agitado setor nacional de imóveis. Em uma época na qual a bolha imobiliária brasileira parece, enfim, estar perdendo gás, a companhia de Zarzur felicita-se por jamais ter nela embarcado. “Por volta de 2007, reuni meus filhos e disse: vamos ficar em São Paulo. Era o começo do boom no setor, e quase todos os concorrentes estavam indo construir em cidades a milhares de quilômetros de seu raio de ação. O resultado é que acabaram com estoques enormes de unidades que não conseguiam vender e só geravam despesas”, lembra.
Quando a companhia abriu seu capital, também em 2007, ele mais uma vez nadou contra a corrente ao recusar-se a aplicar boa parte do dinheiro obtido com o IPO na expansão do negócio. “Mas eu sabia o que estava fazendo”, observa. “Na época era dono de ações de alguns bancos americanos, e percebi que o valor delas estava derretendo na minha carteira. Na hora, tive uma intuição: ‘Vem aí um aperto na economia dos Estados Unidos que vai repercutir no mundo todo’. Desacelerei as construções. Alguns de nossos investidores ficaram furiosos. Pois, no ano seguinte, estourou a crise dos empréstimos subprime nos EUA e todas as empresas sofreram – mas a EZTec, bem menos, justamente porque eu havia feito os ajustes necessários de antemão.”
Atualmente Zarzur tem dois empreendimentos pelos quais nutre especial entusiasmo. Um deles é o Le Premier, um condomínio residencial que será erguido pelo grupo em Campos do Jordão (SP) em uma área de mais de 32 mil m² situada ao lado do centro da cidade (“Para conseguir a autorização de construção, tivemos de garantir que não derrubaríamos as araucárias enormes que existem no terreno. E eu concordo com a exigência: são árvores que estão ali há décadas e precisam, de fato, ser preservadas”). O outro são as chamadas EZ Towers, na Chácara Santo Antônio, em São Paulo – maior projeto da história da companhia. O empreendimento terá duas torres corporativas (a primeira a ser entregue em dezembro deste ano; a segunda, em dezembro de 2015).
A EZTec divulgou neste mês mais alguns bons números. No acumulado do primeiro semestre de 2014, por exemplo, a empresa obteve R$ 217,8 milhões de lucro líquido. Algo que chama a atenção é que a companhia vem, discretamente, alterando o perfil de seus empreendimentos. Sem deixar de lado os imóveis sofisticados e caros pelos quais é conhecida, ela tem erguido prédios residenciais voltados à classe média em locais como Guarulhos (cidade de perfil industrial que abriga o maior aeroporto do país, Cumbica) e a Zona Leste de São Paulo. Zarzur diz estar atento ao surgimento de uma multidão de novos compradores de imóveis devido ao aumento da renda da população. Mas ele lamenta, por outro lado, que talvez essa vaga de mobilidade social, que tanto beneficiou o país, esteja caminhando para seu fim.
“O desemprego no Brasil, que há um bom tempo permanecia baixo, começou a subir. As indústrias, em especial, não aguentam mais, estão demitindo mesmo. A tendência, se nada for feito, é o comércio seguir na mesma linha”, observa. Questionado sobre o porquê disso, ele aponta questões estruturais, e não conjunturais, como resposta: “O Brasil, na década de 1990, cometeu um erro ao apostar no Mercosul – e até hoje pagamos caro por esse erro”, afirma. “Acabamos amarrados a nações sem peso econômico, pois o tratado praticamente nos impede de firmar acordos comerciais com países ricos como os da Europa ou os Estados Unidos. Então, cada vez mais, vamos ficando para trás”. Zarzur afirma que o crescimento econômico brasileiro, durante alguns anos, foi rápido, mas, até por isso, ainda não se consolidou. “Para que isso aconteça, o país tem de gerar divisas exportando para o mundo todo, e não só para a China e América do Sul, como hoje em dia.” Outro fator que ajudaria, em sua opinião, seria uma maior pulverização do mercado de capitais local. Caso os papéis de nossas empresas estivessem espalhados entre muitos milhares de pequenos acionistas, a economia de mercado seria percebida como algo positivo por uma parcela mais expressiva da população, que também se interessaria mais de perto pela saúde dessas companhias.
Ernesto Zarzur – que criou a EZTec em 1979 e nela trabalha até hoje, todo dia útil e também aos finais de semana, do alto de seus 80 anos de vida – repete sempre um lema que adotou: “Só construo até onde minha vista alcança”. Mas, pensando bem, se ele seguisse-o à risca, certamente ergueria edifícios muito mais longe do que o faz; afinal, este católico melquita descendente de imigrantes libaneses, que cumprimenta com beijos seus parentes e funcionários (“´E um costume árabe”), já demonstrou, sem sombra de dúvida, que enxerga longe.