Ele era conhecido na Amanco, fabricante de tubos e conexões, como Mister Ebitda. O famoso indicador financeiro que significa lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização era uma das obsessões do então controller Maurício Harger. Especializado em projeções econômicas e financeiras, o engenheiro mecatrônico sempre gostou de ter tudo na ponta do lápis. Virou gerente de planejamento, depois CFO (chief financial officer) Brasil e, na sequência, CFO da América Latina. Hoje, aos 38 anos, é dono da cadeira de CEO da Mexichem Brasil, o grupo mexicano de empresas químicas e petroquímicas que adquiriu a Amanco em 2007. E orgulha-se de ter aumentado o Ebitda da companhia por seis vezes em um período de cinco anos.
Harger é tão preciso em suas planilhas que foi eleito em 2010 o melhor CFO da Mexichem, numa disputa acirrada com mais de 30 executivos das subsidiárias da multinacional. Mas mesmo com seu talento para os números, ainda existe uma conta mal resolvida em sua cabeça. Dona de uma participação de mercado de 33%, a Mexichem Brasil fica atrás da Tigre, com 41%. Quando perguntado sobre qual seria a solução para o problema, sua resposta poderia ter sido dada por um CEO de qualquer outro ramo da indústria: “Continuar inovando nos produtos”. O executivo não gosta de dar a mínima pista de suas ações para a concorrência. Fica desconfortável até mesmo para assumir o interesse em comprar outras empresas.
“A companhia quer crescer por aquisições em âmbito mundial”, resume, indicando a estratégia global da Mexichem. Das nove fábricas que a Mexichem tem no Brasil, quatro foram agregadas ao portfólio por meio de aquisições. O próprio Harger, quando era CFO, liderou duas importantes negociações: a compra da Plastubos, fabricante de tubos e conexões, e da Bidim, líder no mercado nacional de geotêxteis do tipo não-tecido. “Fiz a renegociação posterior nos dois casos. Esse é aquele momento em que entramos na empresa e encontramos divergências entre o que está no contrato e o que existe na prática. Diferenças no estoque são comuns, por exemplo. É uma situação delicada, pois um novo valor deve ser definido para aquela transação”, afirma.
O executivo assumiu a presidência da Mexichem com apenas 35 anos. Um de seus segredos para tal façanha: interessar-se por temas diferentes, seja na faculdade ou no trabalho. Enquanto seus colegas da PUC de Minas Gerais passavam madrugadas decifrando livros de mecatrônica, ele procurava publicações sobre inteligência emocional, numa época em que o tema ainda não havia virado moda. Livros sobre liderança também tinham lugar garantido em sua estante.
No início da carreira, o interesse pelo diferente foi fundamental. Ao conseguir emprego em uma consultoria, o engenheiro teve de descobrir o ponto fraco da equipe formada por dezenas de contadores para conseguir se sobressair. Em vez tentar aprender o que os colegas já dominavam, Harger mergulhou nos estudos sobre projeções econômicas e financeiras. Com pouco mais de um mês no escritório, ele conseguiu liderar o projeto de um importante cliente que precisava de um especialista no tema.
Em 2013, o faturamento global da Mexichem foi de US$ 5 bilhões e a operação brasileira respondeu por US$ 672 milhões (R$ 1,6 bilhão), aumento de 13% em relação ao ano anterior. Para 2014, a expectativa é de alta de 10%. Será uma oportunidade para saber se as planilhas de Harger continuam afiadas como na época em que ele entrou na Amanco, em 2004. E não tem como falar da marca sem lembrar de seu pegajoso comercial de TV. O “Amanco! Amanco!” contribuiu para a empresa ampliar significativamente sua participação de mercado, que há cerca de dez anos era de 17%. A campanha publicitária teria sido mais uma proeza do menino prodígio? Não, embora ele se recuse a ficar de fora dessa. “Dei apoio ao marketing para conseguir a verba”, sorri.