A escolha de Pedro Parente para o conselho de administração da BRF ajudará a pacificar entreveros entre grandes sócios, mas esperar que o executivo seja o motor para colocar a maior exportadora de carne de frango do mundo de volta nos trilhos pode ser uma aposta exagerada, disseram fontes à Reuters.
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Parente, presidente-executivo da Petrobras,aceitou na semana passada a indicação para integrar o conselho da BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão e que fechou 2017 com prejuízo líquido de cerca de R$ 1 bilhão. A expectativa é que, uma vez eleito, seja o presidente do colegiado. Como há consenso entre os principais acionistas da BRF – Petros, Previ, Tarpon e Aberdeen, além do empresário Abilio Diniz –, a expectativa do mercado é que o nome de Parente seja confirmado na assembleia de acionistas marcada para amanhã (26), em Itajaí (SC).
Para além do consenso dos acionistas em torno do nome de Parente, e de outros executivos que vão compor o futuro conselho da empresa, está sua experiência na presidência executiva da operação brasileira da empresa de commodities Bunge, entre 2010 e 2014, disseram fontes próximas da BRF e do executivo.
“Ele [Parente] tem uma competência reconhecida”, disse uma fonte próxima da BRF à Reuters, acrescentando, porém, que o mercado pode estar exagerando na importância isolada dele para a BRF, já que outros indicados na composição do futuro conselho incluem o ex-Ministro da Agricultura Roberto Rodrigues e não devem ser menosprezados.
“Ele tem um perfil bastante conciliador, tem sensibilidade.Vai apaziguar os ânimos, consolidar alguém (como presidente-executivo) e dar tempo e espaço para que essa pessoa faça seu trabalho. Parente não fará ‘turnaround’ da BRF, mas vai acalmar o conselho, que hoje está vivendo uma guerra de nervos”, disse um executivo que conhece de perto o trabalho de Parente.
Desde quarta-feira passada (18), quando os principais acionistas da BRF manifestaram apoio ao nome de Parente, as ações da BRF acumularam alta de 23%, recuperando parte da queda de 56% acumulada desde o início de 2017 até então.
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As fontes ouvidas ponderaram que Parente não tem conhecimento detalhado dos negócios da BRF, mas avaliam que o executivo pode ajudar a dar um choque de gestão na empresa com a definição de metas claras para o grupo que emprega no mundo cerca de 100 mil funcionários, mais que os cerca de 70 mil da Petrobras.
As fontes também citaram uma certa similaridade entre o que Parente encontrou na estatal e o que vai encontrar na BRF, no que se refere aos impactos da operação Lava Jato, no caso da Petrobras, e da Carne Fraca, na BRF.
Um dos desafios similares de Parente nessa direção será o de liderar a escolha de um novo presidente-executivo, já que José Aurélio Drummond Jr. renunciou ao cargo na segunda-feira 23), posição que será ocupada interinamente pelo diretor financeiro e de relações com investidores, Lorival Nogueira Luz Jr.. Drummond havia ingressado na presidência da BRF em dezembro passado.
LASTRO
Na avaliação de uma das fontes, que também conhece o trabalho de Parente, a passagem dele por uma trading o credencia a enfrentar os desafios da BRF, principalmente no que diz respeito à estratégia de compra e estocagem de milho, o que é vital para uma empresa de alimentos.
Com as mudanças recentes na dinâmica de oferta e demanda do cereal, diz esta fonte, a BRF ainda não foi capaz de reciclar “o velho conhecimento” nesta área.
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“No modelo antigo, o mercado interno de milho não tinha as tradings como competidores. Então, ter dinheiro e alguma estrutura de recebimento tornava a estratégia segura. Hoje as cooperativas, empresas de ‘barter’ (troca de insumos por grãos) e tradings se fortaleceram muito”, afirmou a fonte, destacando a importância de ter um bom desempenho na compra de milho para o negócio da BRF.
Além disso, os compradores de grãos enfrentam um mercado em que os vendedores estão mais estruturados, o que permite que os agricultores não vendam seu produto a qualquer preço.
“Hoje o produtor já tem boa capacidade de armazenagem, a comercialização é antecipada e a logística está comprometida com acordos de ‘take or pay’. Isso mudou tudo, obriga as indústrias de alimentos a sair de uma posição reativa e confortável para uma proativa e de muita competitividade”, acrescentou a fonte.
A BRF teve suspensas suas exportações de carne de frango para a União Europeia, um de seus principais mercados, depois que o bloco de países levantou suspeitas sobre a qualidade dos produtos brasileiros como consequência do escândalo da Carne Fraca.
A empresa deve dar férias coletivas a, pelo menos, três fábricas a partir de maio e considera adotar o regime para uma quarta, após a deflagração da segunda fase da operação da PF em março.
Questionada se não seria muito trabalho para uma pessoa só,presidir a Petrobras e o conselho da BRF, a primeira fonte discordou, comentando que a situação da estatal está encaminhada.
Na BRF, os conselheiros da companhia costumam se reunir uma vez por mês. No entanto, vários deles fazem parte de comitês,como o de estratégia e o de finanças, que assessoram a tomada de decisões do próprio colegiado.