Produtores brasileiros se preparam para semear uma área recorde com soja na safra 2018/19, mas os trabalhos devem se desenvolver, a partir de setembro, em condições consideradas mais desafiadoras, com incertezas domésticas e externas, e em meio a custos elevados.
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Por ora, ainda há poucas estimativas sobre o próximo ciclo, mas já se forma um consenso de que o plantio de soja crescerá em cerca de 1 milhão de hectares, para pouco mais de 36 milhões, apesar de receios quanto a entrega e uso de insumos, da alta do dólar ante o real, dos fretes mais caros e da disputa comercial entre Estados Unidos e China.
“O solo ainda tem boa reserva de nutrientes graças ao bom nível de tecnologia na última safra. Ninguém vai deixar de plantar, mas pode ter variabilidade na produtividade”, avaliou o diretor de agronegócios do Itaú BBA, Pedro Fernandes, em entrevista à Reuters.
Em estudo, o banco aponta que os custos para a implantação da soja, o principal produto do agronegócio do Brasil, tendem a subir em 2018/19 justamente por causa do câmbio e de seus reflexos sobre os preços dos insumos, desde fertilizantes a agroquímicos no geral, muitos dos quais importados.
Em Mato Grosso, maior produtor do país, a tendência é de que os custos cresçam cerca de 10%, para R$ 2,1 mil por hectare, mas com as margens de ganhos podendo cair pela metade ante a última safra, para algo entre R$ 1,2 mil e R$ 1,5 mil por hectare, segundo o trabalho do Itaú BBA.
“A rentabilidade da soja em 2018/19 voltará à média de cinco anos. Será uma safra rentável ainda, mas não como foi 2017/18. Essa queda nas margens virá do aumento do custo e da diminuição da receita por saca, por causa da queda dos preços na Bolsa de Chicago”, destacou Fernandes.
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Tendo-se por base o contrato mais negociado na CBOT, as cotações da oleaginosa acumulam perda de mais de 10% em 2018 em razão da escalada da tensão entre Estados Unidos e China, o maior importador mundial da commodity.
O recuo se acentuou após Pequim anunciar tarifas sobre as importações de soja norte-americana, o que fez disparar os prêmios do produto do Brasil, líder mundial em exportações da commodity e principal fornecedor do mercado chinês.
“A queda dos preços em Chicago foi parcialmente compensada pelos prêmios mais altos. Mesmo assim, nesses últimos três meses o preço FOB de exportação de soja (do Brasil) caiu 15%”, disse nesta semana o chefe do setor de grãos da Datagro, Flávio França Júnior, minimizando ganhos para o país em meio à disputa entre as duas maiores economias do mundo.
Para ele, o maior risco para o produtor ainda é o dólar, que deve ter forte volatilidade em razão das eleições de outubro. Segundo o analista, dependendo do vencedor do pleito, o câmbio pode estar no momento de venda da colheita em um patamar totalmente diferente do observado na época do plantio.
“O produtor pode plantar com o dólar a R$ 3,80 e, se alguém comprometido com o mercado, com reformas, vencer as eleições, poderá vender a soja a R$ 3,20 lá na frente”.
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Logística
Outra frente de preocupação para os produtores diz respeito aos fretes, que agora seguem uma tabela instituída pelo governo na esteira dos protestos de caminhoneiros, em maio. O receio não é só com o transporte da soja que será colhida no verão, mas com a oferta de insumos para o plantio ainda neste ano.
No primeiro semestre, por exemplo, as entregas de fertilizantes ao mercado brasileiro caíram 2,3% na comparação anual, de acordo com a Associação Nacional para Difusão de Adubos.
“Definitivamente o mercado de grãos não está nada satisfeito com as novas regras”, afirmou o diretor da corretora Cerealpar, Steve Cachia.
“Apesar de o mercado internacional estar conspirando para que o Brasil registre uma explosão na área de soja, não acho que isso vai acontecer neste ano. Acho que as outras incertezas pesam para que o produtor brasileiro tenha mais cautela e cuide mais do patrimônio”, avaliou ele.
Em uma projeção preliminar, Cachia diz esperar que a área de soja no Brasil cresça entre 1% e 3%, de 35 milhões de hectares em 2017/18. A próxima colheita somaria um recorde de 121 milhões de toneladas, ante cerca de 119 milhões de toneladas estimadas pelo governo brasileiro no ciclo anterior, segundo a Cerealpar.
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A Safras & Mercado tem previsões semelhantes, apostando em semeadura de 36 milhões de hectares e colheita de quase 120 milhões de toneladas.
“Nesta nova temporada, notamos mais uma vez um quadro bastante favorável ao cultivo da oleaginosa. As grandes produtividades registradas em todo o país na temporada 2017/18 aliadas à elevação dos preços praticados ao longo de todo o ano de 2018 culminaram na manutenção de uma margem razoável para os produtores, mesmo com o crescimento dos custos de produção”, afirmou o consultor da Safras, Luiz Fernando Roque, em nota.
Mas ele reconhece que a forte alta do dólar e a questão dos fretes são fatores que inicialmente impedem uma expansão ainda maior da área plantada.
“Neste primeiro momento, nota-se uma grande incerteza em torno desses fatores fundamentais, o que traz insegurança para a decisão produtor. Aliado a isso, a recuperação dos preços do milho nos últimos meses também deve impedir um maior avanço da área de soja”, completou.
Por outro lado, o plantio de soja do Brasil poderia crescer até 5%, na avaliação da Corteva Agriscience, divisão agrícola da DowDuPont, uma das maiores companhias de insumos agrícolas que atuam no país.
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O fato é que, caso a produção prevista para o Brasil em 2018/19 se concretize, o país deve se firmar como maior produtor mundial da oleaginosa.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) prevê uma safra de 120,5 milhões de toneladas de soja para o Brasil em 2018/19, ao passo que a colheita daquele país está estimada em pouco mais de 117 milhões.