A Odebrecht Engenharia & Construção (OEC) definiu meta de conquistar uma carteira de cerca de US$ 18 bilhões em projetos no Brasil e no exterior nos próximos dois anos, enquanto avança na preparação para listar ações em bolsa até o início de 2020, disse o presidente da companhia, Fabio Januário. “Nossa meta é ganhar uma a cada quatro concorrências de que participarmos”, disse em entrevista à Reuters.
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A declaração vem à medida que a maior empreiteira do país tenta se reerguer pouco após sua dona, a Odebrecht SA, ter acertado um empréstimo bilionário de bancos locais e selado um acordo de leniência com o governo federal, na esteira da Lava Jato, que investiga o maior escândalo de corrupção da história do país.
O plano da OEC também avalia atrair um sócio estrangeiro estratégico como forma de diminuir a dependência do setor de óleo e gás, disse o executivo. “Estamos abertos a ter sócios, mas tem que ser alguém que nos agregue algo”, disse.
A crise deflagrada pela queda das commodities em vários mercados nos quais a empresa opera e pelos desdobramentos da Lava Jato fizeram a carteira de projetos da OEC despencar mais da metade desde o fim de 2014, para US$ 14 bilhões. A empresa também reduziu seu quadro de pessoal de 100 mil para 35 mil funcionários atualmente.
Segundo o executivo, a recuperação dos preços das commodities e o aumento da capacidade de investimento no Brasil, em um cenário de aprovação de reformas como a da previdência no começo de 2019, podem criar um cenário mais promissor para a retomada de obras, principalmente do governo federal.
Enquanto isso, a empresa tem avançado para reabrir portas ainda fechadas após escândalos de corrupção no Brasil e no exterior.
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Após ter assinado acordo com a Advocacia-Geral da União (AGU) e o Ministério da Transparência e Controladoria-Geral em julho para ressarcir a União por desvios de recursos, a OEC pretende concluir acordos similares em todos os demais mercados onde atua até o final do ano, que lhe permitam concentrar todos os esforços na recomposição da carteira de projetos.
Uma primeira consequência desse movimento foi a suspensão do bloqueio para prestação de serviços à Petrobras, no mês passado, o que deve ser oficializado nas próximas semanas.
Além do Brasil, a OEC já fez acordos com Equador, Panamá, Guatemala, República Dominicana e Estados Unidos. As operações da OEC também incluem Venezuela, Angola, Colômbia, México, Argentina, Peru, Portugal e Moçambique.
A empresa acabou de assinar um acordo com o equivalente ao ministério público (Fiscalia) do Peru, um de seus principais mercados fora do Brasil, para um acordo final em até 45 dias. “Vamos resolver os problemas respeitando o calendário processual de cada país”, disse Januário. “Mas não vamos sair de nenhum mercado onde estamos.”
Na verdade, o plano da OEC contempla até ampliar seus mercados internacionais. Um novo destino mais imediato pode ser a Tanzânia, no oeste da África, que define em outubro o vencedor para a construção de uma hidrelétrica, um contrato avaliado em cerca de US$ 3 bilhões.
Mudanças
Há 25 anos no grupo, Januário foi nomeado para presidir a OEC no fim de 2016, quando o conglomerado enfrentava um dos piores momentos de sua história de 73 anos. Desde então, o executivo vem liderando os esforços para tentar desassociar o nome da empreiteira dos escândalos de corrupção revelados pela Lava Jato.
Como parte do processo de limpeza da imagem, a OEC se obrigou a abrir mão de concorrências públicas nas quais identificasse vícios. Segundo o presidente da empreiteira no Brasil, José Eduardo Quintella, no último ano a companhia fez mais impugnações de concorrências públicas do que venceu licitações. Uma das mais recentes foi o pedido de suspensão feito pela própria OEC da licitação do governo do Ceará para a expansão do metrô de Fortaleza, uma obra estimada em US$ 1,7 bilhão.
Enquanto se adapta a padrões de conformidade e governança, a companhia está na fase final de montagem de um conselho de administração com quatro membros independentes de um total de sete, incluindo o ex-presidente da Eletropaulo, Britaldo Soares, e Ana Novaes, ex-diretora da CVM.