O presidente-executivo da sul-coreana LG Display, Han Sang-beom, estava determinado a passar uma forte mensagem quando apareceu diante de 1 mil funcionários na principal fábrica da empresa.
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Então ele colocou óculos de proteção, pegou um martelo e quebrou uma tela de cristal líquido.
O simbolismo é inesquecível: telas de LCD, o principal motor da empresa por anos, estão sendo relegadas à lixeira industrial. O futuro da companhia dependerá da mais recente tecnologia, as telas OLED.
“Eu nunca o tinha visto fazendo algo assim”, disse um representante da LG que estava presente. “Sua performance mostrou uma grande determinação para enfrentar esta crise.”
No entanto, a situação da LG foi, em muitos aspectos, uma das suas próprias criações. Menos de um ano antes, a empresa ofereceu aos funcionários benefícios e bônus à medida que os lucros cresciam, impulsionados pela liderança da empresa em telas LCD para TVs, computadores e celulares.
Mas a LG interpretou mal o mercado: os competidores chineses estavam se fortalecendo e, no começo deste ano, os preços de telas LCD despencaram. Os robustos lucros de 2017 se transformaram em grandes prejuízos em 2018 e a empresa anunciou abruptamente em julho que reduziu em US$ 2,7 bilhões os gastos de capital planejados até 2020.
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A fabricante também não revelou suas metas totais ou anteriores, mas gerou cerca de US$ 6 bilhões em despesas de capital em 2017, segundo dados do Eikon.
Os problemas da empresa são um exemplo absoluto dos riscos inerentes às empresas de tecnologia altamente competitivas que exigem investimentos maciços de capital.
“Sabíamos desde o ano passado que os preços do LCD cairiam, mas não esperávamos essa queda grande e rápida”, reconheceu um representante da LG, que se recusou a ser identificado porque não estava autorizado a falar com a imprensa. “Os clientes vinham pedindo cortes de preços, mas não agimos até que foi tarde demais.”
A LG Display registrou cinco anos seguidos de fortes lucros após Han assumir o comando em 2012, na esteira de encomendas de tela da Apple e forte demanda por telas de telefone e TV da LG Electronics, que detém mais de um terço da fabricante de display.
A empresa também começou a investir em telas OLED. No entanto, a tecnologia é cara e a LG Display estava contando com a ampla maioria de sua receita de LCD. Até os cortes recentes, a empresa estava operando oito linhas de produção LCD na Coreia do Sul e outra na China.
A LG Display foi pega desprevenida e agora está avançando na redução da capacidade de LCD. Ela fechou três linhas de produção de LCD desde o ano passado e abandonou planos para uma nova.
Três fontes da companhia disseram que a empresa não está planejando demissões com receio de perder talentos para a China, mas alguns funcionários estão frustrados com cortes em benefícios.
Agora, a LG Display está apostando em OLED e diz que pode financiar US$ 17,6 bilhões em investimentos em OLED ao longo dos próximos três anos. Ela espera que a tecnologia mais recente responda por 40% da receita até 2020, ante os atuais 10%.