Executivos da Renault e da Nissan analisaram pelo menos duas vezes formas legais de pagar a receita não divulgada do presidente do conselho, Carlos Ghosn, por meio das finanças compartilhadas das montadoras parceiras, mostraram documentos aos quais a Reuters teve acesso.
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Os esforços discutidos nesses documentos acabaram sendo abandonados. No entanto, os registros mostram pela primeira vez que algumas discussões sobre como compensar Ghosn fora do olhar do público não se limitaram à montadora japonesa, mas também incluíram executivos da Renault.
A receita não divulgada de Ghosn na Nissan está no centro das alegações dos promotores de Tóquio contra o presidente do conselho da parceria, que foi acusado de não declarar US$ 43 milhões recebidos entre 2010 e 2015.
Desde 2010, as empresas japonesas foram obrigadas a divulgar detalhes da remuneração de executivos, incluindo opções de ações e bônus, quando exceder 100 milhões de ienes (US$ 890 mil).
Os planos, que foram discutidos em 2010 e 2017, procuraram encontrar canais legais pelos quais Ghosn poderia receber pagamentos não declarados da parceria Renault-Nissan BV (RNBV).
Ghosn e Greg Kelly, diretor da Nissan, ainda estão sob custódia e tiveram pouca oportunidade de se defender em público.
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O brasileiro, que segue como presidente do conselho e presidente-executivo da Renault, nega que os supostos acordos de pagamento quebraram qualquer lei, disse seu advogado japonês. A mídia japonesa também relatou que Kelly negou as alegações. Representantes de Ghosn e Kelly nos EUA não comentaram o assunto.
A Nissan quer examinar as finanças da RNBV e de outras sócias da aliança. A Renault, cujo maior sócio é o Estado francês, até agora ignorou o pedido de investigação independente.
SEGUNDA TENTATIVA
Em 2017, enquanto a receita diferida da Nissan devida a Ghosn continuava a subir, os executivos da aliança tentaram outra abordagem.
A Renault-Nissan desenvolveu planos para pagar milhões de euros em bônus não revelados a Ghosn e outros executivos da parceria por meio de uma empresa de serviços holandesa. Em 13 de junho de 2017, a Reuters relatou detalhes do plano contido em um documento de oito páginas. Dois dias depois, na reunião de acionistas da Renault, Ghosn negou que tal plano existisse.
Segundo documentos vistos pela Reuters, Thierry Bolloré e Mouna Sepehri, respectivamente vice-presidente-executivo e secretária geral da Renault, estão no grupo de executivos incluídos em e-mails e reuniões sobre o plano de bônus, junto com Hiroto Saikawa, agora presidente-executivo da Nissan.
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Em julho de 2017, a consultora financeira Ardea Partners, que havia trabalhado no plano, cobrou da Renault-Nissan US$ 1,5 milhão, e mais US$ 49,2 mil em despesas, por serviços prestados. Essa foi a metade da taxa de US$ 3 milhões que havia sido acordada em um contrato de maio, redigido quando o projeto avançou e foi pago quando concluído.
Em uma resolução de 26 de setembro de 2018 vista pela Reuters, o conselho da Renault-Nissan assinou uma transferência de € 30 milhões para a organização, mostram documentos.
A transferência foi aprovada por 10 executivos da aliança, incluindo Ghosn, Bolloré, Sepehri e Saikawa. Mas foi cancelada depois da prisão de Ghosn em 19 de novembro no Japão, antes de o dinheiro ser transferido, disseram duas fontes.