Investigadores da Nissan estão examinando o uso de um fundo interno chamado “reserva do presidente” por Carlos Ghosn e o papel de subsidiárias da montadora na Holanda e outros países como parte do inquérito que acusa o executivo de fraude financeira, disseram duas fontes com conhecimento do assunto.
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Ghosn e associados próximos usaram dinheiro do fundo para ajudar a pagar casas usadas pela família de Ghosn, bem como outras despesas pessoais, afirmaram as fontes.
Os investigadores estão checando se recursos de algumas subsidiárias também foram usados para pagar pelas casas da família de Ghosn e se tais pagamentos foram repartidos em parcelas pequenas para não dispararem controles internos e auditores, afirmaram as fontes.
O porta-voz da Nissan, Nick Maxfield, disse que a montadora japonesa está analisando a natureza e o alcance das ações de Ghosn. “Não podemos comentar sobre detalhes da investigação em curso neste momento”, disse.
Ghosn rejeita as acusações. Seu advogado em Tóquio, Motonari Otsuru, não estava disponível para comentar o assunto.
Em resposta a questionamentos da Reuters sobre o fundo e outros assuntos, dois representantes de Ghosn nos Estados Unidos disseram que não poderiam se manifestar por não estarem familiarizados com os detalhes.
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A Nissan demitiu Ghosn da posição de presidente do conselho de administração em 26 de novembro, uma semana após ele ter sido preso em Tóquio, acusado de conspiração para ocultar metade de seus rendimentos de 10 bilhões de ienes (US$ 88 milhões) obtidos por cinco anos desde 2010. Ele foi indiciado nesta semana e continua preso.
Até pouco tempo um dos mais celebrados executivos da indústria automotiva mundial, Ghosn é tido como autor da aliança da Nissan com a Renault e a Mitsubishi. Ele também foi demitido do posto de presidente do conselho da Mitsubishi e a Renault evita afastá-lo do comando da empresa.
REPARTIDOS
Um dos focos da investigação é se os pagamentos para as casas foram divididos por associados de Ghosn em porções de US$ 1 milhão e processados por uma unidade da Nissan na Holanda chamada Zi-A Capital e suas subsidiárias, que foi criada para investir em startups de tecnologia, disse uma das fontes.
A Reuters não pode verificar quem era encarregado dos pagamentos. Realizadas desta maneira, as transações podem ter passado pelos filtros da área financeira da Nissan e funcionários da aliança Nissan-Renault, disseram as fontes.
“Por que [a equipe financeira] iria verificar transações de US$ 1 milhão em uma subsidiária cinco ou seis níveis abaixo em relação à sede global? Ela não faria isso”, disse uma fonte com conhecimento da investigação. “Especialmente quando as quantias são menores do que esse valor”, acrescentou.
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A defesa de Ghosn afirma que seus rendimentos foram verificados internamente e por consultores externos, disseram fontes próximas do assunto, que não disseram quem são esses profissionais.
Ghosn deve argumentar que as propriedades espalhadas em várias cidades do mundo foram compradas pela Nissan como residências corporativas, disseram as fontes.
A Zi-A Capital foi registrada na Holanda como empresa da Nissan em 10 de dezembro de 2010, com Ghosn e o diretor da Nissan Greg Kelly nomeados como diretores de um grupo de quatro. Ghosn, que também era presidente-executivo da unidade, deixou o posto em 2 de novembro de 2011, segundo documentos da companhia disponíveis na Câmara de Comércio da Holanda.
O papel de duas subsidiárias da Zi-A Capital – a Zi-A Capital, em Dubai, e a Hamsa Holdings, nas Ilhas Virgens Britânicas – também estão sendo investigado, disse uma das fontes.
Como investimentos em startups de tecnologia são geralmente tidos como confidenciais, as subsidiárias não atraíram muita atenção do pessoal financeiro da Nissan, disseram as fontes.
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Mas a Ernst & Young ShinNihon, auditora independente da montadora, questionou a gestão da companhia várias vezes, principalmente por volta de 2013, sobre a compra de casas de luxo fora do Japão para uso pessoal de Ghosn e sobre direitos acionários conferidos a ele, disse uma fontes.
Mas a montadora japonesa afirmou que as transações e os relatórios financeiros estavam corretos, disse a fonte.
A Nissan não comentou o assunto. Um representante da Ernst & Young ShinNihon não pode ser contatado para falar sobre o assunto. Um porta-voz do auditor disse antes que não comenta casos específicos.
BATATA FRITA
O fundo reserva do presidente foi criado para pagar necessidades de negócios não planejadas e, em alguns momentos, pode conter “alguns milhões de dólares”, disse uma das fontes.
Segundo elas, a investigação está analisando “uma montanha” de recibos e outros registros financeiros para ver se as compras de casas no Rio de Janeiro, Beirute e Paris, bem como despesas como admissão em clube de iatismo e doação a uma universidade, foram aprovadas e pagas corretamente.
Um dos apartamentos no Rio de Janeiro tem sido alvo de intensa disputa jurídica entre a Nissan e Ghosn. A montadora perdeu uma das batalhas para evitar que a família do executivo acessasse o imóvel. A Nissan receia que o acesso possa resultar em destruição de evidências de crimes.