O presidente-executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, questionou a prática empresarial de fornecer a milhões de desenvolvedores de software acesso amplo aos dados dos usuários antes de endossar a prática em 2012, segundo e-mails internos publicados ontem (6).
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A decisão tornou possível que um aplicativo de questionários coletasse dados de cerca de 87 milhões de usuários do Facebook no ano seguinte, e depois compartilhasse as informações com a agora extinta consultoria britânica Cambridge Analytica, que trabalhou na campanha presidencial de Donald Trump.
Zuckerberg lamentou a sua escolha em uma publicação no Facebook na quarta-feira (5), dizendo que reprimir o acesso aos dados um ano antes poderia ter ajudado a empresa a evitar um escândalo de privacidade que manchou sua reputação.
Os e-mails de 2012 do executivo, obtidos por um painel do governo britânico que investiga o Facebook, trazem luz sobre as deliberações internas relativas à questão estratégica sobre o compartilhamento de dados de usuários da rede social.
Quando os e-mails foram enviados, o Facebook havia recentemente aberto seu capital e contava com aplicativos de terceiros, como jogos, para ajudar a impulsionar o crescimento da rede social.
Mas Zuckerberg questionou se tais aplicativos e os dados que eles enviaram de volta ao Facebook estavam produzindo aumentos suficientes no uso e na receita da rede social.
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“Em teoria, queremos informações, mas as publicações que os desenvolvedores estão nos dando são realmente valiosos?” Zuckerberg escreveu em resposta a um longo e-mail de outro executivo. “Eles não parecem ter (conteúdo) direcionado e eu duvido que eles também aumentem significativamente o engajamento.”
Uma alternativa proposta era cobrar os aplicativos pelo acesso aos dados dos usuários do Facebook, embora tal movimento provavelmente tivesse limitado o número de aplicativos que funcionam com o Facebook, escreveu Zuckerberg em uma mensagem.
O Facebook manteve o rumo, com Zuckerberg rejeitando as taxas no final de 2012. O Facebook não respondeu a um pedido de entrevista.
ENGRENAGENS DE TRANSFORMAÇÃO
As deliberações nos e-mails do final de 2012 se concentravam no lucro e não na privacidade.
Zuckerberg e os líderes seniores debateram como os acordos de troca de dados com empresas como o Spotify e o Pinterest poderiam gerar receita, acreditando que o Facebook estava obtendo menos benefícios do acordo do que seus parceiros.
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Por fim, Zuckerberg manteve o objetivo que havia estabelecido ao lançar as ferramentas para desenvolvedores anos antes: fazer com que as pessoas compartilhem mais itens no Facebook.
“O objetivo da plataforma é unir o universo de todos os aplicativos sociais para que possamos permitir muito mais compartilhamento e ainda continuar sendo a plataforma central”, disse ele em um e-mail para vários altos executivos. “Isso encontra o equilíbrio certo entre onipresença, reciprocidade e lucro.”
Em sua oferta pública inicial (IPO), a empresa disse que trabalhar com outros aplicativos era “fundamental” para aumentar o uso do Facebook e melhorou sua capacidade de personalizar feeds de notícias.