O executivo Carlos Ghosn recebeu indevidamente US$ 9 milhões de uma joint venture montada entre a Nissan e a Mitsubishi, afirmaram hoje (18) as montadoras japonesas, elevando a possibilidade de que o ex-presidente de seus conselhos de administração enfrente novas acusações de fraude financeira.
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Na mais recente reviravolta na saga do declínio do antes respeitado executivo, as montadoras descobriram que Ghosn foi pago pela joint venture sem o conhecimento dos dois outros diretores da unidade – Hiroto Saikawa, presidente executivo da Nissan Motor, e Osamu Masuko, presidente executivo da Mitsubishi Motor.
Ghosn, preso em Tóquio há cerca de dois meses, já foi indiciado por ocultar parte de sua renda na Nissan durante oito anos até março de 2018, e por temporariamente transferir perdas pessoais com investimentos para a montadora durante a crise financeira global.
“Que tal irregularidade também tenha ocorrido em nossa afiliada é mais do que chocante, é triste”, disse Masuko a repórteres, em referência aos pagamentos feitos a Ghosn pela Nissan-Mitsubishi B.V., registrada na Holanda em 2017.
Tanto a Mitsubishi quanto a Nissan disseram que irão considerar maneiras de recuperar o dinheiro de Ghosn, enquanto o advogado da Mitsubishi, Kei Umebayashi, disse que acusações penais são uma possibilidade. “A acusação mais provável para isso seria de fraude”, disse o advogado a repórteres durante coletiva de imprensa.
De acordo com a equipe jurídica da Mitsubishi, de abril a novembro de 2018 Ghosn recebeu cerca de € 5,8 milhões (US$ 6,61 milhões) em pagamento anual por seu papel como diretor-executivo da companhia, uma taxa contratual de € 1,4 milhão e um incentivo não divulgado da joint venture.
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No início desta semana, a Reuters reportou o suposto pagamento indevido feito a Ghosn pela joint venture e que a Nissan estava considerando abrir um processo legal, citando fonte.
A joint venture tinha como objetivo financiar gastos da parceria incluindo taxas de consultoria, atividades promocionais conjuntas, uso de áreas de trabalho e jatos corporativos, disse Masuko.
“Do momento em que a unidade foi estabelecida até quando eu fui informado sobre os pagamentos, eu não tinha absolutamente nenhuma ideia de que a unidade estava sendo usada para pagamentos do tipo”, acrescentou.
O advogado de Ghosn, Motonari Otsuru, não pôde ser encontrado de imediato hoje para comentar o assunto. Ghosn tem negado todas as acusações anteriores contra ele.
A prisão do executivo que liderou a recuperação da Nissan duas décadas atrás – e a lista de acusações contra ele – têm chocado a indústria automotiva, ao mesmo tempo em que abala as perspectivas para a aliança tríplice da Nissan com a Mitsubishi e a francesa Renault.
Nos últimos dias, a Renault tem sofrido grande pressão de seu maior acionista, o governo francês, para substituir Ghosn como presidente-executivo e de seu conselho de administração. A montadora tem mantido o executivo no comando, mesmo quando a Nissan e a Mitsubishi agiram rapidamente para removê-lo como presidente do conselho após a prisão.