A BRF e Marfrig anunciaram o início de discussões para uma possível fusão, abrindo caminho para formar um dos maiores grupos de carnes do mundo, numa empresa avaliada em cerca de R$ 28 bilhões. As empresas definiram período de 90 dias para as discussões exclusivas, prazo que pode ser estendido por outros 30 dias. A composição acionária pode deixar atuais acionistas da BRF com 84,98% da nova empresa, enquanto os 15,02% restantes serão da Marfrig. Considerando a cotação de fechamento desta quinta-feira, o valor de mercado da BRF era de R$ 23,6 bilhões, enquanto o da Marfrig somava R$ 4,22 bilhões. A capitalização bursátil da líder JBS era de R$ 60,9 bilhões.
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O negócio, que pode unir a maior exportadora de frango (BRF) e a segunda maior produtora de carne bovina do mundo (Marfrig), vem a público no momento em que a fraqueza econômica do Brasil tem pesado no desempenho de ambas, que têm apostado cada vez mais em mercados internacionais para ampliar receitas e reduzir dívidas.
A BRF também é uma grande produtora de carne suína, que vem tendo grande demanda global após a peste suína africana devastar criações na China. A companhia é uma das maiores exportadoras do país, que tem ampliado seus embarques ao país asiático. De janeiro a março, a BRF teve o terceiro trimestre seguido de prejuízo, uma vez que aumentos de preço que elevaram a receita não conseguiram compensar os custos maiores com ração. Já a Marfrig teve melhora no primeiro trimestre, refletindo aumento de receitas na América do Norte e a depreciação do real em relação ao dólar, “que compensou a menor receita líquida na operação América do Sul”.
As conversas também ocorrem em meio ao esforço das companhias para reduzir o peso de dívidas elevadas, trabalho que vem sendo mais bem executado pela Marfrig. A companhia fechou março passado com índice de alavancagem medido pela relação entre dívida liquida e Ebitda de 2,76 vezes, após ter chegado a ficar perto de 4 vezes, depois de ter recebido US$ 1,4 bilhão da venda da Keystone para a norte-americana Tyson Foods. Já a BRF não tem conseguido deslanchar um ciclo de desinvestimentos e tinha seu nível de alavancagem em 5,64 vezes no fim de março.
Também enfrentando os efeitos de políticas mal sucedidas na compra de insumos, como milho, a BRF tem enfrentado recentemente trocas de seus principais executivos. Lorival Luz Jr., anunciado em março como sucessor de Pedro Parente na presidência-executiva, acumulou no mês passado a vice-presidência de finanças, com a saída repentina de Ivan Monteiro.
Se concluída a operação, essa será a segunda fusão de grande porte envolvendo ativos da BRF, fruto da união da Perdigão com a Sadia, há exatos 10 anos, na esteira de um prejuízo multimilionário desta última devido a operações mal sucedidas com derivativos financeiros.
Os ganhos prometidos de sinergias e fortalecimento da posição de mercado, com a união de Sadia e Perdigão, jamais se confirmaram plenamente. Em meio ao elevado peso de dívidas e a equívocos operacionais, as ações da BRF hoje valem menos da metade do que há três anos, período no qual o valor de mercado da JBS subiu mais de 50%.