A Vale registrou prejuízo líquido de US$ 1,64 bilhão no primeiro trimestre, contra lucro de US$ 1,59 bilhão no mesmo período de 2018, com impactos do desastre de Brumadinho, que provocou ainda seu primeiro Ebitda ajustado negativo de sua história. Maior produtora global de minério de ferro, a empresa teve um resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado negativo em US$ 652 milhões nos três primeiros meses do ano, contra US$ 3,93 bilhões positivo no primeiro trimestre do ano passado. O impacto financeiro da ruptura da barragem de Brumadinho (MG), em 25 de janeiro, foi de US$ 4,954 bilhões, de acordo com a empresa, devido a provisões, volumes perdidos, despesas de paradas, dentre outros.
LEIA MAIS: Vale sabia dos riscos de barragem de Brumadinho (MG)
Excluindo o impacto financeiro do Ebitda, o lucro líquido pró-forma da companhia teria atingido US$ 3,312 bilhões no primeiro trimestre, sendo US$ 500 milhões abaixo do quarto trimestre de 2018, devido, principalmente, a menores volumes de venda. Teria mais que dobrado na comparação anual, com preços do minério de ferro mais altos. Mas, devido ao desastre de Brumadinho, foram feitas provisões de US$ 2,423 bilhões para os programas e acordos de compensação e remediação e de US$ 1,855 bilhão para descomissionamento ou descaracterização de barragens de rejeito. Os volumes perdidos impactaram o resultado em US$ 290 milhões e despesas com paradas somaram US$ 160 milhões.
“Trabalharemos incansavelmente para garantir a segurança das pessoas e das operações da empresa. Nós nunca esqueceremos Brumadinho e não pouparemos esforços para aliviar o sofrimento e reparar as perdas das comunidades impactadas”, afirmou o diretor-presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo, no relatório financeiro.
O executivo foi confirmado na liderança da Vale pelo Conselho de Administração na semana passada. Ele estava como interino desde que seu antecessor, Fabio Schvartsman, renunciou atendendo a recomendações de autoridades, incluindo o Ministério Público Federal. A auditora do balanço PwC chamou a atenção para a possibilidade de ajustes significativos nas provisões pelo desastre, “à medida que novos fatos e circunstâncias sejam conhecidos”.
O rompimento da barragem da mina de ferro Córrego do Feijão em Brumadinho (MG), com capacidade para armazenar mais de 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração, liberou uma onda de lama que atingiu instalações da empresa, mata, comunidades e rios da região, incluindo o importante rio Paraopeba. Foram confirmados, até o momento, 237 vítimas fatais, grande parte de funcionários da própria Vale, e outras 33 pessoas estão desaparecidas. Após o ocorrido, a empresa foi levada a paralisar atividades em diversas localidades de Minas Gerais, em meio a uma revisão de segurança.
O Ebitda ajustado da Vale também foi impactado por fortes chuvas de verão, que afetaram as operações no Terminal Marítimo de Ponta da Madeira, no Sistema Norte, e aumentou o impacto da usual sazonalidade climática. Mudanças gerenciais nos estoques de minério em portos chineses também causaram perdas. Isso porque a empresa, a partir de agora, apenas reconhece a receita de minério vendido mediante a retirada de carga. Anteriormente, o reconhecimento era feito independentemente da retirada do produto pelo cliente.
VEJA TAMBÉM: Justiça manda prender, de novo, funcionários da Vale
Com isso, as vendas de minério de ferro e pelotas da Vale caíram 20% no primeiro trimestre ante mesmo período de 2018, apesar de forte alta nas atividades da mega mina S11D, no Pará. Mas tais efeitos foram parcialmente compensados por maiores preços realizados. A receita operacional líquida da empresa somou US$ 8,2 bilhões no primeiro trimestre, ante US$ 8,6 bilhões no mesmo período de 2018.
Alívio nos preços
O resultado da empresa poderia ter sido pior, não fossem os efeitos de uma melhora nos preços realizados, que responderam à maior produção de aço na China e a um gargalo na oferta global de minério de ferro, incluindo as paradas de produção da Vale. Os preços médios de minério de ferro realizados pela Vale somaram US$ 81,1 por tonelada entre janeiro e março, ante US$ 66,4 no mesmo período de 2018 e US$ 68,4 nos últimos três meses do ano passado.
O Ebitda ajustado de finos minério de ferro foi de US$ 2,644 bilhões no primeiro trimestre, ficando 13% abaixo do quarto trimestre, principalmente devido a menores volumes e maiores despesas, parcialmente compensados por maiores preços. A receita líquida de finos de minério de ferro, excluindo pelotas e ROM (minério bruto), por sua vez, diminuiu para US$ 4,477 bilhões, contra US$ 5,487 bilhões no trimestre anterior.
Em meio aos impactos do desastre de Brumadinho, a empresa também viu seu endividamento aumentar. A dívida líquida cresceu US$ 2,381 bilhões em comparação com o quatro trimestre, totalizando US$ 12,031 bilhões, principalmente como resultado de fundos bloqueados no valor de US$ 3,490 bilhões, que foram separados da posição de caixa disponível.
Os investimentos totalizaram US$ 611 milhões no primeiro trimestre, sendo US$ 99 milhões em execução de projetos e US$ 512 milhões na manutenção das operações. No mesmo trimestre de 2018 os investimentos haviam somado US$ 890 milhões.