O dólar voltou a subir forte ante o real hoje (23), fechando no maior patamar em quase um ano, acima de R$ 4,12, com o mercado doméstico sob intensa pressão decorrente do arisco ambiente externo e de reveses do lado da agenda de reformas do governo.
O dólar à vista fechou em alta de 1,15%, a R$ 4,1244 na venda. É o maior patamar para um encerramento desde 18 de setembro de 2018 (R$ 4,1422 na venda). O dólar terminou a sessão a 1,73% do recorde de fechamento do Plano Real (R$ 4,1957, de 13 de setembro de 2018).
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No pico intradia, a moeda bateu R$ 4,1330 na venda. Na compra, a cotação máxima deste pregão foi de R$ 4,1318, patamar mais elevado desde 25 de setembro do ano passado (R$ 4,1413 na compra).
O mercado já acordou com a China tendo anunciado tarifas retaliatórias contra bens norte-americanos. Posteriormente, declarações do chairman do Federal Reserve, Jerome Powell, ajudaram a acalmar os mercados e a levar o dólar à mínima do dia (de R$ 4,0510, queda de 0,65% no dia).
Mas, na sequência, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse, em tom de ameaça, que até o fim da tarde anunciaria resposta às tarifas chinesas, reavivando temores de uma intensificação do embate comercial entre as duas maiores economias do mundo, que tem prejudicado a demanda por ativos de risco e elevado receios de recessão.
Como resultado, o dólar acelerou os ganhos frente a moedas emergentes e aprofundou as quedas contra divisas consideradas refúgio, sobretudo iene e franco suíço.
Aqui, o salto da cotação do dólar, que fez a moeda rapidamente deixar para trás níveis de resistência técnica, começa a levantar no mercado discussões sobre se o Banco Central deveria ser mais agressivo a fim de conter distorções no mercado, uma vez que o real mais uma vez esteve entre as divisas de pior desempenho na sessão.
Entre as distorções, a taxa do casado (cupom cambial de curtíssimo prazo) disparou para 6%, contra patamares mais usuais em torno de 2,5%. É justamente para aliviar essa taxa -vista como juro em dólar e termômetro da percepção de liquidez no mercado à vista- que o BC começou a fazer leilões de venda direta de dólares no mercado à vista, depois de uma década sem recorrer a esse instrumento.
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“Não me surpreenderia se no fim da sessão de hoje o BC anunciasse um reforço desses volumes”, disse Thiago Silencio, operador de câmbio da CM Capital Markets, acrescentando que o mercado também reagia ao risco de eventuais barreiras comerciais aos produtos agrícolas brasileiros na esteira da repercussão das queimadas na Amazônia.
Silencio lembrou, contudo, que o mercado já se encontra na última semana do mês, geralmente marcada por mais volatilidade e distorções nas taxas de cupom cambial.
“O real tem sido a pior moeda quase todos os dias. O mercado de câmbio está claramente desequilibrado”, disse um gestor em São Paulo. “Se ele (BC) não entrar hoje (com reforço nas atuações), acho que tudo piora”, completou, acrescentando que o mercado está “testando” a disposição do BC em intervir.
Pela manhã, o Banco Central vendeu todos os US$ 550 milhões ofertados no mercado à vista. Receios de atraso na tramitação da reforma da Previdência no Senado também preocupavam o mercado. Na véspera, o relator da reforma da Previdência na Casa, Tasso Jereissati (PSDB-CE), informou que não apresentaria seu parecer sobre a proposta nesta sexta-feira, como previsto, o que pode atrasar a tramitação em quatro ou cinco dias.
Em agosto, o real acumula desvalorização de 7,45%, o que deixa a moeda brasileira na vice-liderança das maiores perdas no mês nos mercados de câmbio, atrás apenas do tombo de 20,6% do peso argentino.
Mas alguns analistas veem esse movimento como exagerado. “Após desvalorizar 7,5% no mês, vemos o real muito defasado dos pares e ainda cremos que o Brasil tem bons fundamentos para outperformar [ter performance melhor que seus pares]”, disse Vicente Matheus Zuffo, diretor de investimentos da SRM Asset.
“Mantemos nossa visão pessimista com short [posição vendida em] S&P 500, mas entendemos que a carteira fica equilibrada com o short de dólar nesses níveis”, finalizou.
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