O dólar começou a semana em disparada, fechando acima de R$ 5 pela primeira vez na história e registrando a maior alta percentual diária em quase três anos, com o real entre os piores desempenhos globais seguindo um dia de fortes perdas nos mercados financeiros diante das dúvidas sobre a capacidade de bancos centrais e governos de lidar com a crise do coronavírus.
O câmbio doméstico foi afetado adicionalmente pelo salto nas apostas de corte mais agressivo de juros pelo Banco Central brasileiro na próxima quarta-feira, depois de o Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) em novo movimento emergencial derrubar o juro norte-americano para perto de zero no domingo.
Operadores –que poucos dias atrás quase zeraram apostas de corte de 0,25 ponto percentual da Selic nesta semana– não apenas retomaram essas posições como as intensificaram, com a curva de DI chegando a mostrar probabilidade de redução de 0,75 ponto percentual do juro básico.
Já o UBS vê corte ainda mais agressivo, de 1 ponto percentual, e diz que não há razão para o BC esperar até quarta-feira para anunciar sua decisão, que pode ser antecipada até para esta segunda, segundo o banco privado. “Também devemos esperar o anúncio de um programa de intervenção cambial mais estruturado”, disse o banco em relatório nesta segunda-feira, assinado por Tony Volpon e Fabio Ramos.
Os sucessivos cortes de juros dos últimos vários meses reduziram a diferença entre as taxas pagas pelos títulos brasileiros e os papéis norte-americanos –considerados os mais seguros do mundo. Assim, o investidor estrangeiro tem tido menos estímulo para aplicar na renda fixa local, o que tem prejudicado o fluxo cambial e jogado contra melhora na oferta de dólar no país.
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Apesar do salto do dólar e da depreciação mais forte do real que a de outras moedas nesta sessão, o Banco Central não atuou no mercado com venda de swaps, dólar à vista ou leilões de linha, diferentemente dos últimos dias, ao longo dos quais utilizou as três ferramentas. A inação do BC foi citada como componente para a alta mais forte do dólar nesta sessão.
“Talvez o BC possa carregar a mão nas intervenções diárias”, disse Rafael Panonko, chefe da área de research da Toro Investimentos. “A inflação por ora está tranquila, mas pode subir agora com a corrida das pessoas aos supermercados, e esse movimento do câmbio definitivamente não ajuda. O BC deve fazer as duas coisas: cortar juro e defender o câmbio”, acrescentou.
O dólar disparou nesta sessão frente a várias divisas emergentes, com destaque negativo para o peso mexicano, e perdia 1,8% ante o iene, considerado porto seguro, num movimento típico de um mercado avesso a risco diante dos temores sobre os efeitos econômicos do coronavírus.
A alta da moeda dos EUA acelerou no fim da tarde conforme as bolsas de valores em Wall Street aprofundaram as perdas. O S&P 500, índice de referência do mercado acionário dos EUA, desabou quase 12%, enquanto o índice visto como um “termômetro do medo” em Nova York fechou em máxima histórica.
No Brasil, o dólar à vista saltou 4,86% no fechamento, a R$ 5,0467 na venda, nova máxima recorde nominal para um encerramento de sessão. No pico intradiário, a cotação foi a R$ 5,0700.
A alta percentual é a mais intensa desde a disparada de 8,15% de 18 de maio de 2017, data que ficou conhecida como “Joesley Day”, depois de o empresário Joesley Batista ter divulgado áudios do então presidente da República Michel Temer.
Em março, o dólar acumula alta de 12,62%, enquanto em 2020 a moeda se valoriza 25,76%. O dólar futuro da B3 –em que os negócios se encerram às 18h– tinha alta de 3,95%, a R$ 5,0235.
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