Um atentado terrorista, no imaginário social, é uma ação irracional e sem propósito, um ato bárbaro no qual seus praticantes não estariam dispostos a negociar para resolver determinada situação. No entanto, o pesquisador da Unicamp Alcides Eduardo dos Reis Peron explica que não é bem assim. “Não é uma ação desprovida de propósito. A estratégia terrorista é produzir efeitos políticos sobre os demais”, explica ele, que apresentou a FORBES as características do terrorismo a partir dos dados do Global Terrorism Database (GTD), um grupo de pesquisa ligado à Universidade de Maryland que cataloga atentados terroristas desde 1970.
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O GTD qualifica o terrorismo como ameaça ou real uso de força ilegal e violência por um ator não-estatal para atingir um objetivo político, econômico, religioso ou social por meio do medo, coerção e intimidação, e havia identificado mais de 170 mil ocorrências com esse conceito ao redor do mundo até o ano passado. “Os atentados de 2001 em solo norte-americano levaram à desestabilização política no Oriente Médio com a invasão do Iraque pelas tropas dos Estados Unidos dois anos depois”, disse o pesquisador.
Até a virada do milênio, o terrorismo era associado ao processo de descolonização da África, a grupos separatistas na Europa, à instabilidade econômica na América Latina e aos efeitos do fim da União Soviética. A invasão do Iraque estimulou o crescimento de grupos contrários à presença norte-americana, sendo que alguns participaram da Primavera Árabe, enquanto outros, que mal tinham expressão na região, ganharam terreno, como o Estado Islâmico, na Síria e no Iraque, e o Boko Haram, na Nigéria. A falência do poder de polícia do governo iraquiano pós-Saddam Hussein levou, inclusive, à contratação de grupos mercenários para garantir a segurança pública, sendo que alguns deles deram origem ao Estado Islâmico anos depois.
Peron ressalta sobre a intensificação do uso de métodos rudimentares nos atentados terroristas registrados a partir de 2010, como o uso de automóveis para atropelar pessoas em cidades europeias ou a transformação de uma panela de pressão em bomba no atentado na Maratona de Boston. “Não precisa alugar um avião, basta gerar impactos devastadores e inércia política”, explica, referindo-se à facilidade de alugar um automóvel comparado à locação de um avião. “No terrorismo, os alvos dos atentados nunca são os objetivos reais, diferentemente do crime comum, quando a relação existe.”
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Um dos efeitos do terrorismo é o aumento do controle dos governos sobre a população. “Constrói-se uma justificativa do Estado de fundamentar a necessidade de controle”, afirma o pesquisador, relembrando que, depois dos últimos atentados, houve a ideia de governos europeus, como o do francês Emannuel Macron, de fazer uma aliança com empresas de internet, como Google e Facebook, para catalogar o comportamento de grupos de usuários que possam ter uma potencialidade de provocar um ataque terrorista.
Leia abaixo os 11 atentados terroristas mais impactantes da história, ordenados pelo número de mortes.
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Getty Images 11º) Maratona de Boston (2013)
A explosão de duas bombas artesanais na linha de chegada da Maratona de Boston levou a morte de três e deixou outras 264 feridas. O atentado, conduzidos pelos irmãos Tamerlan e Dzhokhar Tsarnaev, da Chechênia (território russo), foi uma reação às guerras do Iraque e do Afeganistão. Durante a perseguição, Tamerlan foi morto. Dzhokhar foi capturado horas mais tarde e condenado à morte dois anos depois. Foi um dos primeiros atentados com método rudimentar e pontual.
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Getty Images 10º) Sequestro dos atletas israelenses durante a Olimpíada de Munique (1972)
O atentado durante a Olimpíada de Munique foi um marco para a mudança de concepção de segurança nos Jogos seguintes, tornando-a mais rígida e uma das exigências mais importantes às cidades-sede. Em Munique, terroristas do grupo Setembro Negro, ligado à Organização da Libertação da Palestina (OLP), invadiram o apartamento onde os atletas israelenses estavam hospedados. Os israelenses ficaram reféns dos terroristas, que exigiam a libertação de presos palestinos em Israel – depois, a demanda eram meios de transporte para saírem do local com segurança. A polícia alemã planejou uma emboscada aos terroristas, concedendo-lhe um helicóptero para a fuga com os reféns, mas acabou mal-sucedida. Durante a troca de tiros entre os terroristas e a polícia, 11 reféns acabaram morrendo.
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Getty Images 9º) Metrô de Londres (2005)
A Al-Qaeda foi a autora dos atentados no sistema de transporte de Londres, um protesto contra a participação da Grã-Bretanha na Guerra do Iraque. Quatro explosões – em três trens do metrô e em um ônibus – levaram à morte de 52 pessoas. O atentado foi realizado um dia depois da escolha de Londres como sede da Olimpíada de 2012.
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Getty Images 8º) Estação central de trem em Bolonha, Itália (1980)
Durante as férias de verão na Europa, um grupo armado de extrema-direita batizado de Núcleo Armado Revolucionário deixou 23 quilos de explosivos em uma estação de trem lotada em Bolonha, na Itália. A explosão destruiu parte do prédio da estação, 30 metros de plataforma e danificou um trem, deixando 85 mortos e mais de 200 feridos.
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Getty Images 7º) Explosão do prédio federal em Oklahoma, EUA (1995)
O ex-militar americano Timothy McVeigh estacionou um caminhão com 2.500 quilos de explosivos em frente ao prédio federal Alfred P. Murrah, em Oklahoma City. A explosão deixou 168 mortos e 500 feridos, sendo o atentado mais letal até o 11 de setembro. McVeigh praticou o ato como resposta ao desfecho trágico do cerco de um grupo religioso, no Texas, pelo governo norte-americano. McVeigh tinha simpatia pelo neonazismo.
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Getty Images 6º) Sistema de trens de Madri (2004)
A Espanha foi palco de atentados terroristas perpetrados, durante o século 20, pelo grupo nacionalista basco ETA, que reivindicava a independência de uma região do norte da Espanha, o País Basco. Em 2004, entretanto, os muçulmanos da Al-Qaeda explodiram 13 bombas simultaneamente em quatro trens que chegavam a Madri, matando 191 pessoas e deixando 2.050 feridos. O atentado ocorreu três dias antes das eleições gerais no país, que levou à derrota da situação, até então favorita a vencer o pleito. A participação da Espanha na Guerra do Iraque foi o motivo do atentado.
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Getty Images 5º) Ataques às embaixadas norte-americanas na África (1998)
A Al-Qaeda também reivindicou o ataque aos prédios da Embaixada dos EUA no Quênia e na Tanzânia. Os atentados deixaram 224 mortos e mais de 1.000 feridos. Dias depois do ocorrido, os Estados Unidos realizaram um ataque de mísseis em campos de treinamento da Al-Qaeda no Afeganistão.
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Getty Images 4º) Voo da PanAm (1988)
Um Boeing 747, da PanAm, explodiu no ar sobre a cidade de Lockerbie, no Reino Unido. O voo saiu de Frankfurt com direção a Nova York, com escala em Londres. Até hoje há mais questionamentos do que conclusões sobre o atentado, que foi creditado ao regime de Muamar Kadafi, da Líbia. O atentado teve 270 mortes – 259 no avião e 11 em terra, de vítimas atingidas por destroços do avião.
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Reprodução 3º) Massacre na Escola de Beslan, Rússia (2004)
Rebeldes da Chechênia – região separatista da Rússia – invadiram uma escola em Beslan e fizeram mais de 1.200 reféns entre crianças e adultos por três dias. Além disso, instalaram explosivos pela escola. No terceiro dia, forças de segurança do governo russo invadiram o local e atacaram os sequestradores, que acabaram matando os reféns e detonando os explosivos. O confronto entre os rebeldes e as forças de segurança deixaram 372 pessoas mortas – a maioria delas crianças – e 747 feridos.
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Reprodução 2º) Incêndio no cinema Rex, Irã (1978)
Inicialmente creditado ao xá Mohammad Reza Pahlevi, monarca do Irã na época, o incêndio no cinema Rex deixou 400 mortos depois que quatro homens bloquearam as portas do local e atearam fogo logo em seguida. Anos depois, descobriu-se que militantes islâmicos perpetraram o ato, que acabou levando à eclosão da Revolução Iraniana em 1979.
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Reprodução 1º) Atentados de 11 de setembro às Torres Gêmeas e ao Pentágono (2001)
Terroristas da Al-Qaeda sequestraram quatro aviões comerciais, sendo que dois deles atingiram as Torres Gêmeas, em Nova York, e um terceiro foi derrubado sobre o prédio do Pentágono. O quarto caiu em uma bucólica região da Pensilvânia depois que, segundo relatos da época, os passageiros e tripulantes tentaram reassumir o controle do avião. Morreram 2.993 pessoas e 8.900 ficaram feridas. O evento modificou a agenda anti-terrorismo nas relações internacionais, implicando em modificações legislativas sobre o tema em vários países, além de levar à intervenção militar dos EUA no Afeganistão e no Iraque.
11º) Maratona de Boston (2013)
A explosão de duas bombas artesanais na linha de chegada da Maratona de Boston levou a morte de três e deixou outras 264 feridas. O atentado, conduzidos pelos irmãos Tamerlan e Dzhokhar Tsarnaev, da Chechênia (território russo), foi uma reação às guerras do Iraque e do Afeganistão. Durante a perseguição, Tamerlan foi morto. Dzhokhar foi capturado horas mais tarde e condenado à morte dois anos depois. Foi um dos primeiros atentados com método rudimentar e pontual.