Resumo:
- Parada do Orgulho LGBTQ+ de 2019 coincide com o 50 anos da Manifestação Stonewall, quando a comunidade LGBTQ+ foi às ruas contra as invasões policiais em Nova York;
- Em protesto contra a participação das grandes corporações na Marcha do Orgulho LGBTQ+, a Reclaim Pride Coalition organizou a Queer Liberation March (Marcha da Libertação Queer, em tradução livre);
- Segundo dados do Popular Information, 66% da comunidade LGBTQ+ seriam muito ou um tanto suscetível a permanecerem leais a uma empresa ou marca que acreditam ser a favor da comunidade gay;
- Juntas as nove corporações doaram quase US$ 15 milhões contra a causa LGBTQ+.
Os maiores empecilhos para a gigantesca celebração deste último fim de semana do WorldPride em Nova York, que coincidiu com o 50º aniversário da Manifestação Stonewall – quando a comunidade gay se manifestou contra as invasões policiais em Nova York em 1969 -, não foram os ativistas antiLGBTQ ou as forças religiosas. Foram os membros da própria comunidade LGBTQ+ que são contra a participação corporativa na Marcha do Orgulho, e organizaram uma contra-marcha em protesto.
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A Queer Liberation March (Marcha da Libertação Queer, em tradução livre), que será realizada no próximo domingo (30) e organizada pela Reclaim Pride Coalition, não contará com carros alegóricos de empresas. Ontem, eles saíram de Sheridan Square, em Greenwich Village, e seguiram para o Central Park. Não há estimativa oficial de quantos participaram da caminhada, em contraste com os milhões previstos para ver os mais de 400 grupos e 100 carros alegóricos na oficial NYC Pride March (Marcha do Orgulho NYC, em tradução livre) daqui alguns dias. O protesto começou ao meio-dia na Quinta Avenida, no Madison Square Park, com uma rota bem diferente do centro da cidade, do Village para o Chelsea.
Entre os carros alegóricos e grupos da marcha oficial estarão vários patrocinadores corporativos bem conhecidos. Durante todo o mês do Orgulho LGBTQ+, os consumidores veem suas marcas favoritas adicionando listras coloridas aos seus logotipos, com bandeiras em seus escritórios centrais e a presença de casais da comunidade gay em seus anúncios.
Mas será que os consumidores são tão crédulos a ponto de optar por gastar seu dinheiro em uma marca com o logotipo em arco-íris?
Segundo informações da plataforma Popular Information, uma pesquisa da Harris Interactive descobriu que “aproximadamente dois terços da comunidade LGBTQ+, ou cerca de 66%, seriam muito ou um tanto suscetíveis a permanecerem leais a uma empresa ou marca que acreditam ser a favor da comunidade, mesmo quando concorrentes menos favoráveis oferecem preços mais baixos ou mais vantagens”.
Claro que, com o fim de junho, se vai toda a representatividade, arco-íris brilhantes e bandeiras corajosamente coloridas adotadas pelas grandes empresas ao longo do mês.
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Tudo isso pode ser desfeito alguns dias antes do previsto, assim que reverberar o novo relatório da Popular Information em parceria com o Progressive Shopper. Segundo o levantamento, nove das maiores e mais favoráveis corporações LGBTQ+ dos Estados Unidos destinaram cerca de US$ 1 milhão ou mais a políticos antigays no último período eleitoral.
Os nomes incluem companhias conhecidas como AT&T, UPS, Comcast, Home Depot e General Electric. Somadas, as doações chegam a quase US$ 15 milhões.
O Popular Information vasculhou duas listas anuais compiladas pela Human Rights Campaign (HRC): o Índice de Igualdade Corporativa e o Placar Congressional. O índice classifica mais de 1 mil empresas com base em suas políticas para funcionários LGBTQ+ e defesa pública da causa. E, no Placar, a HRC atribuiu a 228 membros do Congresso a pior pontuação possível – um zero -, o que significa que todos eles votaram a favor de membros antigays do gabinete do presidente Donald Trump, negaram cuidados com a saúde às tropas transexuais e não patrocinaram ou copatrocinaram qualquer legislação em apoio aos direitos da comunidade LGBTQ+.
O cruzamentos dos dois levantamentos rendeu ao Popular Information o nome das nove corporações – todas haviam recebido pontuação perfeita no índice de igualdade da HRC. Cada uma dessas nove empresas também doou cerca de US$ 1 milhão ou mais no último período eleitoral para políticos que receberam zero no Placar Congressional da HRC. As doações foram todas de comitês de ação política corporativa para políticos ou para suas lideranças do PAC (Comitê de Ação Política).
Como a HRC não percebeu isso antes?
“Embora o CEI (Índice de Igualdade Corporativa) capture políticas, práticas e benefícios de inclusão LGBTQ+, não há uma métrica única para avaliar consistentemente as empresas quanto ao escopo e impacto de suas doações políticas”, disse a secretária de imprensa nacional da HRC Sarah McBride em uma declaração ao Popular Information. “É importante ter relatórios como este, que questionam de forma complexa as corporações e trazem essas doações à discussão pública. O Índice de Igualdade Corporativa é uma ferramenta crítica para promover a igualdade LGBTQ+ no local de trabalho, mas também não é a único recurso.”
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Veja, a seguir, as nove corporações com pontuações perfeitas que fizeram doações a políticos antigays entre 2017 a 2018:
1. A AT&T doou US$ 2,75 milhões a 193 políticos antigays;
2. A UPS doou US$ 2,36 milhões para 159 políticos antigays;
3. A Comcast doou US$ 2,11 milhões para 154 políticos antigays;
4. A Home Depot doou US$ 1,82 milhão para 111 políticos antigays;
5. A General Electric doou US$ 1,38 milhão para 97 políticos antigays;
6. A FedEx doou US$ 1,26 milhão para 75 políticos antigays;
7. A UBS doou US$ 1,09 milhão para 72 políticos antigays;
8. A Verizon doou US$ 1,02 milhão para 74 políticos antigays;
9. A Pfizer doou US$ 959 mil para 52 políticos antigays.
O total geral de todas essas doações, segundo o Popular Information e a Progressive Shopper, foi de US$ 14.891.413. O que as empresas dirão em defesa própria? Como o famoso contador mafioso Otto “Abbadabba” Berman dizia, talvez elas apenas nos digam: “Nada pessoal, são apenas negócios”.