O Brasil tem uma das maiores e melhores porções de terras agricultáveis do planeta, o que nos colocou no centro da agenda mundial quando o tema é produção de alimentos. Sorte? Mais que isso. “Sorte é o que acontece quando a preparação encontra a oportunidade”, já disse o filósofo romano Sêneca no longínquo século 1. Há 40 anos, o país começou a se preparar. A oportunidade estava lá: bilhões de bocas famintas no mundo, além de uma demanda cada vez maior por energia e outros bens que têm sua origem na terra.
Se na década de 1970 nós importávamos alimentos para saciar 90 milhões de brasileiros, hoje alimentamos 1,5 bilhão de pessoas no globo. Segundo a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), essa condição de “celeiro do mundo” possibilitou a prática de preços mais acessíveis aos consumidores, elevou a renda e a geração de empregos e impulsionou a participação da agricultura no Produto Interno Bruto: hoje o agronegócio responde por 21,1% do PIB brasileiro.
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Em um país tropical, em que fungos, vírus, bactérias e plantas daninhas que atacam as áreas cultivadas encontram condições perfeitas para se desenvolver, a “mágica” incluiu investir em pesquisa e tecnologia. Atualmente, conseguimos produzir muito mais por hectare – enquanto a produção aumentou 4,5 vezes, a utilização de insumos avançou pouco mais de 15%.
Entre 1975 e 2015, 59% do crescimento do valor bruto da produção brasileira, o VBP, deveu-se à tecnologia, enquanto terras e trabalho explicam, respectivamente, 25% e 16%. O investimento em processos de intensificação sustentável incluiu inovações como a produção de duas safras por ano em uma mesma área, recuperação de pastagens degradadas, sistemas agroflorestais e de plantio direto, fixação biológica de nitrogênio, florestas plantadas e tratamento de dejetos animais.
A tecnologia nos fez chegar até aqui. No entanto, o amplo acesso a ela é, hoje, um dos maiores desafios do setor. Segundo Daniel Carrara, diretor-geral do Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), é isso que vai fazer a diferença para mudarmos o quadro de concentração de renda e aumentar nossa produtividade. “Temos no país 5,17 milhões de produtores rurais. Desses, por volta de 300 mil são responsáveis por quase 79% do VBP do agronegócio; 800 mil produzem 13,5%; e o restante, apenas 7,6%.”
A diferença, diz Daniel, é que os produtores do topo têm as melhores e mais sustentáveis práticas, técnicas e tecnologias – e já praticam a chamada Agricultura 4.0. “Precisamos introduzir tecnologia no médio e no pequeno produtor rural para aumentar sua produtividade. Se ele tem uma pastagem com capacidade de suporte de meio animal por hectare, por exemplo, pode, com tecnologia, subir para sete animais. Isso significa que ele não precisa abrir novas áreas”, explica o especialista, afirmando que sustentabilidade é uma preocupação central nessa equação.
“Democratizar a tecnologia é, portanto, o grande desafio. Isso se faz com assistência técnica e avaliação gerencial, porque, às vezes, a tecnologia mais avançada não é a que é necessária para determinado produtor.” Por isso, o Senar, entidade vinculada à CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), tem como uma de suas prioridades o programa de assistência técnica e gerencial para o produtor rural.
Com metodologia própria, testada por três anos, o programa conta hoje com 3 mil técnicos em campo, que já prestaram assessoria para 120 mil produtores. A meta é chegar nos próximos anos a 300 mil produtores atendidos com mais 3 mil técnicos em campo. “O país tem tecnologia disponível, mas ela precisa chegar ao produtor. E a tecnologia vai chegar ao campo por meio de assistência técnica. A assistência técnica é muito mais do que introduzir novas formas de produção”, afirma João Martins, presidente da CNA. “É, acima de tudo, qualificar os produtores para a gestão eficiente do seu negócio, fazendo melhor uso dos recursos e percebendo as oportunidades de mercado.”
Safra estável
Entre 1977 e 2017, a produção de grãos no país, que era de 47 milhões de toneladas, cresceu mais de cinco vezes, atingindo 237 milhões. Hoje, os produtos de origem animal e vegetal no meio rural ultrapassam 400 itens. O VBP do setor, segundo dados disponíveis até setembro, deve fechar este ano em R$ 609,7 bilhões, uma leve redução de 0,2% em relação a 2018, de acordo com a CNA. Como a expectativa é que o VBP agrícola diminua 4,1%, a estabilidade se deve ao crescimento do ramo pecuário, que pode chegar a 7% em 2019.
Alguns fatores são responsáveis pela baixa do setor da agricultura. O café arábica deve cair 27,4% por causa da bienalidade cafeeira, movimento comum no ciclo produtivo responsável pela alternância entre anos de maior e menor produção. Algodão e milho também tiveram queda no preço, mas elas foram compensadas com aumentos, respectivamente, de 35,9% e 24% na produção – o que deve provocar crescimento de 13,1% e 15,8% do VBP desses produtos.
As perspectivas do setor de grãos, porém, são otimistas. “O Brasil deverá ser este ano o maior produtor de soja do planeta. Mesmo com as leis ambientais mais rígidas do mundo, respeitando reservas legais e enfrentando subsídios de outros países, conseguimos esse protagonismo – isso sem retirar uma só árvore”, afirma Bartolomeu Braz Pereira, presidente da Aprosoja Brasil (Associação dos Produtores de Soja). Para Bartolomeu, dificuldades como a falta de infraestrutura de logística (para escoar a produção) e de políticas mais bem definidas de crédito e de seguro (para manter o produtor em atividade) ainda são uma realidade no universo da soja, que gera 10 milhões de empregos diretos e indiretos e responde pelo maior VBP do país: quase R$ 145 bilhões em 2019. “É preciso melhorar isso para sermos ainda maiores.”
Para o setor de cana, o quinto maior VBP, com R$ 45 bilhões, o otimismo é alavancado pela incorporação de um novo serviço. “Originalmente, produzíamos açúcar. Depois veio o etanol como substituto para a gasolina e, por fim, a energia elétrica, gerada com a biomassa. Surge agora um quarto grande serviço no setor sucroenergético: somos um dos principais responsáveis pela redução de emissão de gases causadores de efeito estufa no Brasil e no mundo”, diz Evandro Gussi, diretor-presidente da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar). “Somos uma das respostas mais eficientes para a principal demanda global.”
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Segundo levantamento da Unica, entre março de 2003, data de lançamento da tecnologia flex nos automóveis, até fevereiro deste ano, o consumo de etanol reduziu as emissões desses gases em 535 milhões de toneladas de CO² equivalente, como é chamada a medida usada para comparar as emissões de vários gases de efeito estufa baseada no potencial de aquecimento global de cada um. Para atingir essa economia de CO@, seria necessário plantar 4 bilhões de árvores nos próximos 20 anos. Os biocombustíveis têm potencial para reduzir em 70% as emissões globais do gás até 2050, de acordo com um estudo elaborado pela Irena (Agência Internacional de Energia Renovável).
Em relação ao mercado interno, a RenovaBio (Política Nacional de Biocombustíveis), política para a descarbonização da matriz de transportes, é considerada um importante impulso. “Alcançar a meta vai ser possível com a migração de combustíveis fósseis para os biocombustíveis”, explica Evandro. Segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), 96 unidades produtoras de biocombustíveis já estão em processo para a obtenção do Certificado da Produção Eficiente de Biocombustíveis, previsto pela RenovaBio. Já no que diz respeito ao mercado externo, apesar de haver programas de etanol em mais de 60 países, quase 90% do consumo global está concentrado no Brasil, Estados Unidos e União Europeia. É preciso ampliar isso – trabalho ao qual a liderança da Unica está se dedicando.
Responsável por 6,9% do PIB industrial do país e 1,3% do PIB total, o setor de florestas plantadas também mira no mercado externo. Ele já ocupa o terceiro lugar no ranking das exportações brasileiras, só perdendo para a soja e as carnes. “Temos procurado ocupar um espaço maior no mercado internacional, mas queremos expandi-lo. Essa é uma alternativa para quem plantou eucalipto aqui no país e não conseguiu mercado interno”, afirma o presidente da Comissão de Silvicultura da CNA, Walter Resende.
Segundo ele, o setor, “altamente rentável”, atraiu muitos produtores nos últimos anos. “O país selou o compromisso de plantar 12 milhões de hectares de floresta até 2030 para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. O problema é que já temos hoje 10 milhões de hectares plantados e não há mercado para o excedente da produção. As exportações ajudariam os produtores que não planejaram direito suas florestas a não quebrar.”
Pecuária em alta
Em 2019, a pecuária não teve do que reclamar: o setor apresentou altas tanto de preços como de produção. Em relação à carne bovina, nosso segundo maior valor bruto de produção no país, o VBP cresceu 3,6% de 2018 para 2019, alcançando R$ 105 bilhões. Ainda assim, Antônio Pitangui de Salvo, presidente da Comissão Nacional da Bovinocultura de Corte da CNA, afirma que o país tem potencial para produzir muito mais. O que falta? Mais uma vez, acesso à tecnologia. “Nos últimos 20 anos, houve um salto gigantesco no pacote tecnológico da agricultura. O país saiu de uma agricultura boa para uma de precisão, compatível com as maiores do mundo. Já a pecuária não acompanhou essa velocidade”, afirma.
As razões para isso, afirma ele, são históricas e devem-se principalmente às linhas de crédito conferidas para a agricultura. “Não podemos trabalhar com as mesmas linhas porque os ciclos agrícolas são muito mais curtos.” Outro motivo: a pecuária é muito mais pulverizada. “A agricultura procura locais de temperatura adequada, porque a parte de solo pode ser corrigida – a tecnologia para isso está muito bem dominada. Já a pecuária continua nas mais diversas regiões, de baixa, média e alta aptidão. Nós, produtores, precisamos vencer esse gargalo dos baixos índices de produtividade que também aconteceram na agricultura até os anos 80 e 90.”
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Produtores de frangos e suínos também comemoram. As produções subiram, respectivamente, 14,2% e 22,9%. A alta nos preços tem uma razão primordial: aumento da demanda por causa da peste suína africana na China. “Passamos por anos de crise, vendo empresas encolhendo, em recuperação judicial e fechando. Trabalhamos sempre muito forte para abrir o mercado internacional, mas fatos como a Operação Carne Fraca prejudicaram nossa imagem. Países reduziram compras: no epicentro da crise, cerca de 70 deles pararam de comprar conosco e tivemos que reconquistá-los”, afirma Francisco Turra, presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), que cuida dos setores de aves e suínos, referindo-se à operação da Polícia Federal, deflagrada em 2017, que investigava empresas acusadas de adulterar carne.
“Neste ano, de repente o vento veio soprar a nosso favor”, comemora Francisco. “A safra cheia foi o primeiro fator de estabilização, porque garante alimentação para as aves. Hoje somos o segundo maior produtor de milho do mundo, perdendo apenas para Estados Unidos. Mas há outro item: começou a recrudescer a peste suína africana da China, onde está metade do rebanho do planeta, responsável por 54 milhões de toneladas de uma produção mundial de 115 milhões no ano passado. Contra ela, não há vacina.”
A gripe suína africana dizimou o plantel chinês. “Como o mundo não consegue substituir quase metade do rebanho eliminado pela doença, o consumo de outras proteínas, como a bovina, de aves e pescados, tem aumentado”, afirma Charles Tang, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China. “Só na feira de importação chinesa do ano
passado, a JBS firmou contrato de venda de US$ 5 bilhões para o Ali Baba.”
Segundo ele, o agronegócio brasileiro também se beneficia da guerra comercial entre Estados Unidos e China. “Os agricultores americanos dedicaram décadas para conquistar a confiança do maior mercado do mundo. Chegaram a ser os maiores exportadores de soja, grãos, algodão, proteínas bovinas, suínas e aves”, explica ele. “Em um minuto, a confiança foi quebrada com a guerra comercial. O avanço econômico e tecnológico da China incomodou a maior economia do mundo”, analisa Charles.
Como compara o presidente da entidade, a confiança é como um vaso: uma vez quebrada, é difícil colar novamente. “Mesmo com um acordo entre EUA e China, que deverá ser feito, o benefício para o Brasil deverá permanecer no longo prazo. A China precisa de fornecedores de confiança.” Charles afirma também que as economias do Brasil e da China são complementares, enquanto a nossa e a dos americanos são concorrentes. “Quando a China compra menos dos EUA, compra mais do Brasil. Na safra passada, o Brasil exportou quase 90% da soja para a China.”
A preparação, mais uma vez, contou com a oportunidade. Sêneca diria que é sorte nossa.
Veja, na galeria de fotos a seguir, empresas brasileiras do agro:
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Getty Images ÁGUA SANTA/ BEM BRASIL ALIMENTOS
Se você mora no Brasil e adora batata frita, é de quase 100% a chance de que tenha levado à boca um produto da Bem Brasil
Setor: batata, milho, soja, trigo, cevada
Sede: Minas GeraisConsiderando que cada brasileiro ingere, em média, 14 quilos do tubérculo por ano – e que a empresa é a única processadora industrial do alimento no país (abastecendo 42% do mercado) –, a probabilidade indicada acima se confirma.
Atualmente, duas empresas do grupo – Água Santa e Bem Brasil – são responsáveis, respectivamente, pela produção de 500 mil toneladas de batata in natura por ano e pelo processamento, pré-fritura e congelamento de 250 mil toneladas anuais. Cerca de 20% da produção é vendida sob as marcas das gigantes do varejo nacional.
A empresa foi iniciada por três irmãos que, em 1998, compraram uma área de reflorestamento em Perdizes (MG). Enquanto cortavam e vendiam a madeira, os irmãos Rocheto – Celso, José Paulo e João Emilio – iam preparando o solo para o plantio de batatas e cereais, para, assim, promover a rotação de culturas, com a terra renovada.
Em 2006, ampliaram os negócios com a implementação da Divisão Industrial Bem Brasil Alimentos, na cidade
de Araxá (MG). Foi quando o grupo deu seu grande salto: investiu em plantadeiras, colheitadeiras e lavadoras até então inexistentes no Brasil para o processamento do produto e, assim, tornou-se líder nacional em batatas pré-fritas e congeladas.Hoje, além dos 9.500 hectares onde produz batatas das espécies asterix, challenger, markies e innovator, o grupo ainda planta e comercializa soja, milho, trigo, cevada, feijão e sorgo em nove fazendas (três em cada estado) no interior de São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso.
As empresas Bem Brasil e Água Santa empregam, juntas, 990 colaboradores diretos e preveem um crescimento de 70% na área plantada de batatas até 2023. Faturaram R$ 950 milhões em 2018, e a previsão é de fecharem 2019 em R$ 1,6 bilhão. (CCL)
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Terá capacidade para produção anual de 210 mil metros cúbicos do biocombustível
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Divulgação FAZENDA RONCADOR
Referência em sustentabilidade, o grupo adotou o sistema integração lavoura-pecuária, multiplicando a produção de alimentos em uma década
Setor: gado de corte
Sede: Mato GrossoCom 152 mil hectares, metade dos quais matas nativas e áreas de preservação permanente, a Fazenda Roncador, uma das maiores do país, encontrou uma solução inteligente e lucrativa para a prática da sustentabilidade no agronegócio: o
sistema integração lavoura-pecuária. Dos 76 mil hectares produtivos, 26 mil são de pecuária e 30 mil do sistema integrado soja-boi, em que durante cinco meses vigora a agricultura e nos sete meses restantes, a pecuária, com capim plantado nessa mesma área. Os outros 20 mil hectares são dedicados a uma joint venture para a produção de soja e milho. Nessas terras, também se começa a praticar a integração entre plantio e gado.A rotatividade soja-boi surgiu há uma década na Roncador, como uma alternativa para equacionar um problema comum aos fazendeiros: o esgotamento da terra e a consequente perda de lucratividade. A implantação do modelo na fazenda foi se dando aos poucos, como explica à Forbes Pelerson Penido Dalla Vecchia, CEO do grupo e neto de Pelerson Soares Penido, que deu início à fazenda em 1978. “Subimos degrau por degrau, de olho nos resultados e corrigindo a rota”, diz ele. Um percurso que fez a Roncador saltar em 25% a produção de carne, saindo de 4.150 toneladas em 2009 para 5.200 toneladas em 2019. Já a colheita de soja passou de 45 mil toneladas em 2014 para as atuais 166 mil toneladas.
Para alcançar esses resultados, Pelerson Penido investiu em dois pilares de seu negócio: gestão e altíssima tecnologia, com monitoramento de tratores e colheitadeiras conectadas, além do uso de imagens de satélite. A fazenda também pratica o manejo humanizado, utilizando apenas linguagem corporal e bandeiras para movimentação do gado. Todo o rebanho é criado no pasto. Dos animais destinados ao abate, somente 40% passam três meses em confinamento. O grupo ainda é responsável por um dos maiores programas de inseminação da raça rubia gallega do mundo (com 28 mil inseminações anuais).
Como parte da estratégia de aprimoramento, a Roncador também passou a investir na profissionalização e qualificação de seus funcionários, para que todos pudessem trabalhar tanto na pecuária quanto na agricultura. “O pessoal do gado também colhe soja. Está todo mundo de braço dado”, diz Pelerson. Em 2009, eram cerca de 70 colaboradores; hoje são 426. Outra iniciativa importante foi reduzir o uso de defensivos agrícolas, com a utilização de controle biológico de pragas. Graças a essas diversas iniciativas, entre as certificações recebidas pela Fazenda Roncador está a “Produzindo Certo” da Aliança da Terra, que atesta o equilíbrio entre a produção, o respeito às pessoas e ao meio ambiente. (KM)
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Getty Images GRUPO BOM JESUS
Um dos maiores produtores de sementes de soja do país deve chegar a 304 mil hectares cultivados em 2030
Setor: algodão, soja, milho
Sede: Mato GrossoA história do Grupo Bom Jesus se assemelha à de muitas empresas do agronegócio fundadas por famílias sulistas que chegaram ao Mato Grosso para desbravar o estado na década de 1970. Em 1976, o agricultor paranaense Luiz Vigolo comprou a Fazenda Bom Jesus, de 483 hectares, para o cultivo de arroz. Uma década depois, fundava com os filhos
Nelson e Geraldo a Bom Jesus Sementes – hoje um dos maiores centros de produção de sementes de soja do país, além das plantações de milho e algodão (que só no Mato Grosso ocupam uma área de cerca de 250 mil hectares). Com acesso às principais rodovias do MT e realizando novos arrendamentos e parcerias, o grupo projeta chegar a 304 mil hectares de plantio em 2030. Praticamente a produção inteira de algodão é exportada para a Ásia, enquanto a soja e o milho são escoados para o mercado interno.O grupo também está presente no segmento de transportes, comercialização de insumos (fertilizantes, defensivos), pecuária, suinocultura e varejo de combustíveis. Com sede em Rondonópolis (MT), seu faturamento deverá chegar na casa dos R$ 2 bilhões em 2019. Composto pelas empresas BJ Agropecuária, BJ Transportes e ABJ Comércio, emprega cerca de 3.600 pessoas (número que varia conforme a época de safras).
O CEO é Nelson Vigolo – responsável, como ele conta à Forbes, pelas áreas comercial, financeira e estratégica da empresa. O irmão Geraldo, instalado em uma sala vizinha à de Nelson, cuida da produção e do operacional das fazendas, incluindo a compra de maquinário. As principais decisões sobre o grupo são discutidas conjuntamente pelos irmãos. Assim foi em 2014, por exemplo, quando decidiram investir em governança corporativa, implementando sistemas de gestão que pudessem garantir um crescimento sustentável.
Em um ambiente de competitividade cada vez mais acirrado no mundo do agronegócio, os irmãos Vigolo entenderam que essa era uma estratégia importante para alavancar seus negócios. “Não basta ter dinheiro ou belas fazendas. O segredo do sucesso é ter um bom time de pessoas”, diz Nelson. O CEO relata que prefere formar seus funcionários e deslocá-los para as diferentes áreas da companhia a ter que buscar talentos fora.
Mas nem todo esse investimento em gestão evitou a entrada da empresa em recuperação judicial, em 2016, deflagrada pela somatória de alguns fatores: a escalada do dólar em relação ao real, aumentando a dívida da empresa; a inadimplência de clientes; e a estiagem que atingiu em cheio os plantios da soja. No mês de novembro, a empresa deverá sair da etapa de reestruturação e voltar a fazer planos. A ideia é que a produção de sementes aumente em nada menos do que 50% nos próximos cinco anos. (KM)
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Getty Images GRUPO MANTIQUEIRA
Com um sistema inovador de criar galinhas soltas, o maior produtor de ovos do país consegue abastecer 20 estados brasileiros e ainda exportar para três continentes
Setor: ovos
Sede: Minas GeraisO Grupo Mantiqueira, o maior produtor de ovos do Brasil e da América do Sul, e que está entre as 12 maiores granjas no mundo, tornou-se sinônimo de inovação ao transformar o cenário da avicultura no país com uma linha de ovos totalmente produzidos através do sistema chamado cage-free, em que as aves são criadas livres, longe de gaiolas. A iniciativa, que já é uma tendência nos Estados Unidos e na Europa, atende ao conceito de bem-estar da Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) e levou a empresa a ganhar o selo Certified Humane, da Humane Farm Animal Care (HFAC). As quatro produtoras da companhia, instaladas nos estados de Minas Gerais, Mato Grosso e Rio de Janeiro, abastecem mais de 20 estados brasileiros. Anualmente, são 2 bilhões de ovos destinados ao consumo interno e às exportações para países na África, na Ásia e no Oriente Médio.
O grupo surgiu há 30 anos, na cidade mineira de Itanhandu, incrustada na Serra da Mantiqueira. Depois de ter fechada sua fábrica de carroças, quebrado, Leandro Pinto, hoje CEO da empresa, resolveu vender seu caminhão financiado e seu carro para alugar uma granja e comprar 30 mil galinhas. À Forbes, ele confessa que não entendia nada do negócio e que, por vezes, passou por apertos. Certa ocasião, lembra ele, as galinhas pararam de botar em razão de um milho contaminado. Leandro não teve dúvidas: “Fui pedir 5 mil toneladas de milho emprestadas a um vizinho”.
Em 2000, com a chegada do sócio Carlos Cunha e após passar por um processo de automatização, a Mantiqueira ampliou seu mercado e não parou mais de inovar. De olho nos consumidores alérgicos a ovo e atento ao público seguidor de dietas, o grupo lançou recentemente seu primeiro substituto do insumo para o preparo de receitas: o N.ovo. O produto é uma versão plant based do ovo, tendo como principais ingredientes a ervilha, a linhaça dourada integral e um mix de fermentos, eliminando a origem animal. A nova área na companhia é tocada pela filha de Leandro, Amanda.
A empresa também abriu o leque para o segmento de fertilizantes organominerais, criando a marca própria Solobom. Os investimentos em tecnologia fizeram dela a planta mais moderna e tecnológica do país no tratamento de resíduos
de aves poedeiras e produção de condicionador de solo de alto valor agronômico, rico em NPK (nitrogênio, fósforo
e potássio). Entre as vantagens desse produto está aumentar a capacidade de retenção de água no solo, tornando as plantas mais resistentes aos períodos de estresse hídrico – uma boa saída para enfrentar as secas. A meta da empresa é que esse braço de negócios represente até 12% do faturamento do grupo nos próximos dois anos. (KM) -
Divulgação NUTRIBRAS
Praticante de primeira hora da suinocultura autossustentável, empresário catarinense confia na força das exportações
Setor: suínos
Sede: Mato GrossoO empresário Paulo Cézar Lucion se orgulha de ser pioneiro em introduzir no Brasil o modelo de suinocultura autossustentável. Com 30 anos de experiência no ramo e à frente da Nutribras Alimentos desde 2011, cria porcos nos municípios de Vera e Sorriso (MT), em um sistema em que todas as partes da cadeia frigorífica e suinocultora se retroalimentam, num ciclo dentro dos preceitos da economia circular. Os dejetos dos suínos são armazenados em biodigestores que produzem biogás, cuja energia elétrica gerada ilumina as granjas e faz funcionar algumas máquinas, além do biofertilizante que nutre as lavouras de soja e milho – sem a necessidade de aditivos químicos – que, por sua vez, viram a ração que alimenta os suínos.
“O mundo está migrando para a autossustentabilidade, e a Nutribras já produz alimentos sem comprometer o planeta para as futuras gerações. Isso nos torna muito atrativos junto ao consumidor – afinal, ele busca, além de sabor e qualidade, produtos que sejam autossustentáveis”, conta o empresário, nascido em Xanxerê (SC).
O negócio emprega diretamente 1.400 funcionários e gera em torno de 5 mil empregos indiretos. O frigorífico abate 2.300 suínos diariamente dentro de suas 17 mil matrizes e 400 mil animais, produzindo, além da carne que abastece 3 mil clientes, também um mix de 90 produtos entre linguiças, cortes premium, presuntos, mortadelas, bacon, defumados e outros.
Segundo a empresa, a exportação hoje corresponde a 13% da produção da Nutribras, que comercializa seus produtos para países do Leste Europeu, Hong Kong, Uruguai e Argentina. Ainda assim, em setembro deste ano, Lucion esteve com a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, para pedir que habilitasse mais plantas frigoríficas para a exportação de proteína animal para novos mercados – em especial a China, maior consumidora de carne suína no mundo e que lida atualmente com a dramática redução de seu rebanho pelo surto de peste suína.
Recentemente, um anúncio da ministra de que mais cinco frigoríficos estavam habilitados a exportar para o país asiático não contemplou a Nutribras. O empresário, otimista, afirma que a empresa se beneficia disso indiretamente – a exportação dos concorrentes aquece o mercado interno, explicou. “Nossa perspectiva de aumento de faturamento para o ano que vem é de 25% devido às exportações”, declara, confiante.
O faturamento da empresa no ano passado foi de R$ 280 milhões, e a previsão para 2019 é de um resultado R$ 100 milhões maior. (CB)
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Divulgação TERRA SANTA
Sofisticação na comercialização de commodities e startup interna fazem parte da estratégia de uma das maiores produtoras de grãos e oleaginosas do país
Setor: algodão, soja, milho
Sede: Mato GrossoUma das maiores produtoras de grãos e oleaginosas do país, a Terra Santa Agro é uma jovem com espírito velho – no bom sentido. Nascida em 2011, ela é resultado da incorporação de três empresas mais antigas: a Brasil Ecodiesel (criada em 2003), a Maeda Agroindustrial (que nasceu em 1940 e foi incorporada em dezembro de 2010) e a Vanguarda Participações (de 1983 e incorporada em setembro de 2011).
O DNA agrícola, herdado das duas últimas empresas, falou mais alto: assim que foi batizada, a Terra Santa consolidou a estratégia de focar seu modelo de negócio na produção de grãos e fibras e desinvestir os ativos ligados ao biodiesel. No fim de 2012, a empresa fez um aumento de capital: a gestora de private equity Gávea Investimentos, do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, adquiriu parte da empresa.
O processo de turnaround operacional teve início em 2013, com o objetivo de buscar rentabilidade e eficiência operacional. Investimentos em máquinas, no solo e na criação de uma cultura organizacional eficiente foram os caminhos escolhidos pela Terra Santa. Os resultados começaram a aparecer na safra seguinte, quando a companhia conseguiu produtividade recorde nas culturas de soja, algodão e milho.
Era esse o cenário quando o CEO José Humberto Prata Teodoro Júnior assumiu seu cargo, vindo da BRF, no início do ano passado. “Nossos colaboradores vinham de cinco anos de redução de quadros e estavam sempre esperando quando viria o próximo corte. Minha missão, ao chegar, foi tranquilizá-los e mudar a cultura da empresa”, afirma ele. “Tínhamos muitos desafios, nossa dívida era muito grande, mas já estamos entre as melhores do agronegócio no país.”
Algumas das principais medidas tomadas pelo executivo incluíram a descentralização das decisões e a transparência,
além da criação de um comitê de inovação – a empresa está apostando inclusive em uma startup de data science nascida dentro de suas paredes. “Ela está desenvolvendo um algoritmo com base em todo o conhecimento da Terra Santa do agronegócio. Temos um time que decide onde vai plantar, o que vai ser plantado, qual o pacote tecnológico necessário. Meu objetivo é, com esse projeto, conseguir ajudar esse time a enxergar mais coisas do que o cérebro humano é capaz. E, já que vamos fornecer dados para nossa companhia, por que também não fazer isso para nossos vizinhos? O comitê vem num plano muito amplo de mudar cultura da companhia numa cultura de inovação.”José Humberto conta ainda que o comercial da Terra Santa também foi sofisticado em sua gestão. “A comercialização começou a adotar derivativos para ajudar a obter melhores preços.” Em vez de vender algodão em dólar por arroba, explica o CEO, a Terra Santa passou a negociar seus componentes separadamente. A receita líquida da companhia da safra 2018/19 totalizou R$ 639 milhões. “Montamos uma estratégia que nos protege contra variação de preço. E começamos a gerar caixa. O principal objetivo disso é reduzir dívida. Mas já começamos a falar em crescer. Como temos custo muito baixo de produção, num ano igual a este, em que a área está estável no país ou crescendo muito pouco, estamos imprimindo um crescimento de mais de 10% no algodão. E vamos expandir mais ainda”, comemora o executivo. (CCL)
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Divulgação VERACEL CELULOSE
A mudança da cultura organizacional foi essencial para impactar nos resultados da empresa, que produz 1,1 milhão de toneladas de celulose branqueada por ano
Setor: eucalipto
Sede: BahiaQuando, no início do ano passado, o executivo Andreas Birmoser assumiu como CEO da Veracel, ele tinha quatro objetivos principais. O primeiro era recuperar as florestas plantadas da indústria de produção de celulose instalada em Eunápolis, no sul da Bahia, desde 1991, que havia enfrentado problemas com a seca. O segundo, manter a produtividade da empresa em patamares altos.
Andreas também pretendia focar no ecossistema da empresa para manter um ambiente de negócios mais favorável com os stakeholders e, por fim, mas não menos importante, mudar a cultura organizacional. “Sabia que só alcançaríamos melhores resultados se alinhássemos objetivos e o propósito de ser responsável, inspirar as pessoas e valorizar a vida, tanto de nossos colaboradores quanto da fauna e da flora”, diz ele.
Hoje, pouco menos de dois anos depois de o CEO assumir esses compromissos, a Veracel – fruto de uma parceria de duas líderes do setor, a brasileira Suzano e a sueco-filandesa Stora Enso – comemora os resultados (receita líquida de R$ 1,19 bilhão). “No ano passado alcançamos os melhores resultados de nossa história tanto em relação à produção quanto ao meio ambiente, e mudamos o que era preciso em termos de eficiência”, afirma Andreas. “Investimos muito em segurança e chegamos à marca de 700 dias sem afastamento por acidente. E mudamos a cultura da empresa, que está mais aberta ao diálogo, mais inclusiva.”
A empresa, que produz 1,1 milhão de toneladas de celulose branqueada de eucalipto por ano, afirma que sustentabilidade “é um valor transversal para todas as ações”. Para causar o menor impacto ambiental possível, usa técnicas como cultivo mínimo de solo e uso consciente de agrotóxicos – e mantém um hectare de área protegida para cada hectare de plantio comercial. Além disso, a indústria, que é capaz de gerar toda a energia elétrica de que precisa para suas atividades, passou a usar o bagaço de cana para também exportar o excedente energético para o Sistema Interligado Nacional.
“Um de nossos focos é contribuir para o desenvolvimento territorial, para impactar o mínimo possível as comunidades ao nosso redor”, conta o CEO. Nos municípios em que atua, a Veracel participa de fóruns de discussão para entender as preocupações das comunidades e construir soluções conjuntas, além de apoiar a agricultura familiar.
A empresa fez um acordo inédito com um movimento social que envolveu iniciativa privada, uma instituição de ensino pública e a Secretaria de Direitos Humanos. Um grupo de 345 famílias ocupava uma área de 3.319 hectares da empresa, pelos quais a Veracel decidiu não mais brigar na Justiça. Pelo acordo, a Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) dá apoio técnico para que as famílias tenham assistência, por cinco anos, para cultivar a terra de forma adequada e, com isso, gerar o próprio sustento. (CCL)
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Divulgação AGRÍCOLA FAMOSA
Setor: frutas
Sede: Rio Grande do NorteEm 2018, a Agrícola Famosa faturou R$ 620 milhões, sendo 60% desse valor resultado das exportações. Nos períodos de
safra, a companhia emprega quase 9 mil trabalhadores, que cultivam uma área de mais de 30 mil hectares, situados no Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Pernambuco.A Famosa é a maior produtora do Brasil (e uma das maiores do mundo) de melão e melancia – mamão e banana são outras frutas que ocupam boa parte de suas terras. Nascida em 1995, com sede em Icapuí, cidade na fronteira do Rio Grande do Norte com o Ceará, a Famosa tornou-se competitiva como resultado dos investimentos em novas tecnologias e do respeito ao meio ambiente.
A assinatura do tratado de livre-comércio entre Mercosul e Europa foi comemorada pela companhia, que espera aumentar as exportações para os países do Velho Continente. As vendas para os EUA estão crescendo, e esse movimento ascendente é esperado também para o mercado chinês, após o recente acordo bilateral de livre-comércio de melão fechado entre Brasil e China.
A empresa reforça sua participação no mercado interno, diversificando a oferta de produtos nobres, como os melões amarelo redinha, dino e meluna – variedades exclusivas desenvolvidas pela Famosa em parceria com organizações estrangeiras. (TN)
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Getty Images CAFÉ FRANCISCHINI
Setor: café
Sede: ParanáNo início, era apenas uma modesta torrefadora e distribuidora de café, localizada em Apucarana, região centro-norte do Paraná. Hoje é uma pequena potência na indústria cafeeira nacional.
O crescimento do grupo Francischini, proprietário da fazenda e da marca de café de mesmo nome, ocorreu graças ao empenho dos empresários (e irmãos) João Baptista e Antônio Baptista Francischini, que fundaram a empresa em 1950. Poucos anos depois, a Francischini já havia se expandido para regiões em outros estados, como Minas Gerais.
Um dos segredos é a produção de grãos de café “saborosos e versáteis”, que caíram no gosto primeiro dos paranaenses e, depois, dos demais estados e dos estrangeiros. A Francischini mantém sua sede em Apucarana, mas atualmente possui propriedades em Minas Gerais, Mato Grosso e Bahia.
Além do café, cultiva também a soja. Boa parte da produção é comercializada no mercado interno, mas a companhia passou a atuar também com foco de venda para o exterior, para países como Egito, Arábia Saudita, Kuait e Líbano, entre outros.
Fábio Francischini, neto dos fundadores, continua com a administração dos negócios. O grupo conta com o trabalho de 12 mil colaboradores. (TN)
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Divulgação GENESEAS
Setor: peixe
Sede: Mato Grosso do SulA maior produtora de tilápias do país elegeu o mercado externo como sua prioridade nos próximos anos – sem negligenciar o mercado interno, claro. Isso porque o maior desafio da companhia é “continuar crescendo no ritmo em que estamos”, de acordo com Roberto Haag, 48 anos, CEO da GeneSeas. “Para isso, é importante manter a capacidade de exportação, porque o mercado doméstico não vai conseguir absorver esse crescimento.”
Fundada em 2001, a GeneSeas produziu, em 2015, 4 mil toneladas de tilápia. No ano passado, subiu para 12 mil toneladas. Em 2019, deve chegar a 15 mil. E, em 2020, o executivo espera produzir o recorde de 20 mil toneladas.
Os EUA são o principal comprador da GeneSeas, que envia para lá peixes ainda frescos, por via aérea. Mas, para Haag, o setor de aquacultura no Brasil também é promissor. Isso porque a proteína mais consumida do planeta é a de peixe e frutos do mar (graças, principalmente, a países asiáticos, como Japão, China e Indonésia). No mundo, a média de consumo de peixe é de 20 quilos por pessoa por ano. No Brasil, está abaixo de 10 quilos por pessoa. Além disso, diz o executivo, “o Brasil tem ótimas condições para a produção de peixe, pela quantidade de reservas de água, pela extensão da costa marítima e pelo clima”.
O Brasil produziu 720 mil toneladas de peixes de aquacultura (criados em cativeiro) em 2018. Dessas, 400 mil toneladas foram de tilápia. “A taxa de conversão da tilápia (o quanto damos de ração e o quanto ela se transforma em carne) é muito alta. Tem ciclo de produção de apenas sete meses (desde que o ovo é recolhido até o abate), bem mais curto que o do salmão ou o do atum. Tem pouco teor de gordura, é rica em ômega-3 e ainda tem um sabor mais versátil na preparação das receitas”, afirma o produtor.
A produção da GeneSeas está concentrada na Ilha Solteira, em São Paulo. A empresa investiu R$ 25 milhões em frigoríficos e na importação de equipamentos estrangeiros. “Inovamos nas técnicas de criação e de manejo, que praticamente criamos do zero aqui no Brasil”, diz Haag. (TN)
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Getty Images GRANJAS KLEIN
Setor: frango de corte
Sede: Espírito SantoNas granjas de terminação do avicultor Ivan Klein, o otimismo paira no ar. Sócio de duas propriedades com o irmão Ricardo, uma em Palmeiras de Goiás (GO) e outra em Dourados, no Mato Grosso do Sul, o avicultor comemora o bom momento de seu negócio. Na granja goiana, mais de 5 milhões de aves são entregues para abate todos os anos. A outra trabalha com quase 3,4 milhões.
Na avicultura, “integrado” é a pessoa ou empresa executora de uma parte das atividades da cadeia produtiva. Integração é, portanto, o sistema de parceria entre uma empresa, que é a integradora, e os produtores rurais, os integrados. Eles têm área própria para a criação de aves e são remunerados de acordo com a produtividade e com o preço de mercado da ave no momento da venda.
Amplamente usado no setor avícola do Brasil, o modelo de produção permite que a granja consiga índices de desempenho bastante competitivos, além de expansão das parcerias. Os negócios que Ivan Klein mantém com Ricardo são assim. “Trabalhamos com planilhas, com valor ajustado à indústria, e a perspectiva é que o cenário melhore para nós como está melhorando para a exportação”, afirma Ivan. Segundo ele, o setor avícola vive um momento único de “expansão violenta e com baixo risco”, diz.
A responsável por isso é a peste suína africana (PSA), patologia fatal para os porcos que acometeu a criação chinesa desde agosto do ano passado e reduziu pela metade seu rebanho – a produção anual deve recuar em 20 milhões de toneladas. Como a China é a maior consumidora de carne de porco do mundo, o país elevou a importação não só de carne de porco, mas de todas as outras proteínas animais.
“Em função do problema da China com a PSA, nossa produção tem colocação com valor agregado maior que o histórico normal”, comemora Ivan. “O mercado de carnes se mostra promissor, com perspectivas boas para os próximos três anos.” O otimismo nas granjas Klein, portanto, tem tudo para continuar em alta. (CCL)
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Divulgação SAMARIA CAMARÕES
Setor: camarão
Sede: Rio Grande do NorteAs imagens aéreas das lâminas d’água de cultivo impressionam. Maior empresa produtora do crustáceo no país, a Samaria desenvolve a carcinicultura desde 2002 – só na fazenda Potiporã, no município de Pendências (RN), são 303 viveiros em 1.180 hectares e mais de mil toneladas de camarões submersos. Mas foi após o investimento em um moderno laboratório de biologia molecular em Touros (RN), adquirido em 2016, e um contrato com pesquisadores australianos e equatorianos com expertise em melhoramento genético que a empresa saltou para o patamar que ostenta hoje. Só a comercialização do camarão nesse primeiro estágio de desenvolvimento (preponderante para garantir o sucesso do produto final) ultrapassa 500 milhões de unidades por mês.
O “rei do camarão” é o empresário cearense Cristiano Maia. Ele detém uma estrutura que emprega 1.175 funcionários e cobre toda a cadeia: reprodução, engorda (é também dono de outras duas fazendas de 656 hectares e 161 viveiros em Paraipaba-CE) e indústria de beneficiamento capaz de preparar o animal para o consumo final: inteiro, sem cabeça, descascado, eviscerado, cru ou cozido. O camarão processado, cuja marca fantasia é Potiporã, é a maior fonte de renda do grupo: a comercialização de cerca de 600 toneladas por mês representa 20% da produção anual do estado potiguar e 10% a 15% das vendas totais no país. (CB)
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Getty Images SCHMIDT AGRÍCOLA
Setor: fibras, grãos, frutas
Sede: BahiaQuatro irmãos que tocam o sonho do pai e têm como objetivo manter os mesmos valores e princípios, mas com modernos modelos de gestão e novas tecnologias. Esse é o retrato atual da família Schmidt, que administra desde a década de 1980 um grupo agrícola que leva seu sobrenome na antiga Vila Rio Grande, hoje conhecida como Placas, na cidade baiana de Barreiras.
Há mais de três décadas, foi para o oeste da Bahia que o patriarca Paulo Ambrósio Schmidt e sua esposa, Helena, se mudaram, vindos do Rio Grande do Sul. Atraído pela terra barata, o casal comprou 6 mil hectares de terra e foi um dos pioneiros a cultivar na região. Em 2009, com a morte do pai, os filhos assumiram a gestão da fazenda. Paulo Almeida é o diretor de produção; Moisés, de relações institucionais; Tobias, do jurídico, e David, do administrativo e financeiro.
Com experiência de 40 anos na agricultura, a Schmidt produz fibras, grãos e frutas. Hoje, a empresa administra propriedades rurais próprias, arrendadas e de reserva legal, num total de 25.400 hectares. A companhia projeta para 2021 um acréscimo de mais 7 mil hectares em área plantada. Na safra 2017/18, a companhia, que fatura em torno de R$ 200 milhões por safra, produziu 71 sacas de soja por hectare. Na seguinte, algumas áreas chegaram a 81 sacas por hectare. Isso é quase quatro vezes o que a fazenda produzia no começo.
Lá, produtividade anda lado a lado com tecnologia. O parque de máquinas da produção de grãos e fibras atua com georreferenciamento via piloto automático. A fruticultura usa drones para combater pragas e doenças e cabeamento aéreo para transporte da produção. A Schmidt, aliás, de olho na inovação, acaba de criar um departamento para o desenvolvimento de aplicativos para gerar dados sobre a lavoura. Tudo para continuar fazendo o sonho do patriarca dar bons frutos. (CCL)
ÁGUA SANTA/ BEM BRASIL ALIMENTOS
Se você mora no Brasil e adora batata frita, é de quase 100% a chance de que tenha levado à boca um produto da Bem Brasil
Setor: batata, milho, soja, trigo, cevada
Sede: Minas Gerais
Considerando que cada brasileiro ingere, em média, 14 quilos do tubérculo por ano – e que a empresa é a única processadora industrial do alimento no país (abastecendo 42% do mercado) –, a probabilidade indicada acima se confirma.
Atualmente, duas empresas do grupo – Água Santa e Bem Brasil – são responsáveis, respectivamente, pela produção de 500 mil toneladas de batata in natura por ano e pelo processamento, pré-fritura e congelamento de 250 mil toneladas anuais. Cerca de 20% da produção é vendida sob as marcas das gigantes do varejo nacional.
A empresa foi iniciada por três irmãos que, em 1998, compraram uma área de reflorestamento em Perdizes (MG). Enquanto cortavam e vendiam a madeira, os irmãos Rocheto – Celso, José Paulo e João Emilio – iam preparando o solo para o plantio de batatas e cereais, para, assim, promover a rotação de culturas, com a terra renovada.
Em 2006, ampliaram os negócios com a implementação da Divisão Industrial Bem Brasil Alimentos, na cidade
de Araxá (MG). Foi quando o grupo deu seu grande salto: investiu em plantadeiras, colheitadeiras e lavadoras até então inexistentes no Brasil para o processamento do produto e, assim, tornou-se líder nacional em batatas pré-fritas e congeladas.
Hoje, além dos 9.500 hectares onde produz batatas das espécies asterix, challenger, markies e innovator, o grupo ainda planta e comercializa soja, milho, trigo, cevada, feijão e sorgo em nove fazendas (três em cada estado) no interior de São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso.
As empresas Bem Brasil e Água Santa empregam, juntas, 990 colaboradores diretos e preveem um crescimento de 70% na área plantada de batatas até 2023. Faturaram R$ 950 milhões em 2018, e a previsão é de fecharem 2019 em R$ 1,6 bilhão. (CCL)
FORBES AGRO 100
Lista elaborada em parceria com CNA – Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil
*PARTICIPARAM DESTE ESPECIAL: Amanda Tucci, Clarissa Beretz, Kátia Mello e Thiago Ney
Reportagem publicada na edição 73, lançada em dezembro de 2019
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