Uma ação da professora de ioga paulistana Sophia Bisilliat, 58, recentemente estampou a capa do “The New York Times”. Não eram as aulas que ela dá para alunos particulares ou por meio do elogiado projeto social Treino na Laje, e sim a foto de uma distribuição de alimentos no centro de São Paulo. De domingo a domingo, Sophia percorre as diferentes regiões da cidade fazendo trabalho voluntário. Para dar conta disso, aproveita cada brecha que surge entre as atividades. Pode ser para comer na casa da filha, pode ser para descansar. “Se estou num lugar mais calmo, dou uma deitada e durmo 20 minutos, o que já me recompõe”, conta.
A ioga também ajuda a trazer equilíbrio. “Ela aterra, te traz de volta para o aqui e agora. É você, o tapete e pronto.” Muitas aulas ela faz junto com os alunos. Além disso, três vezes por semana, pratica com um professor. Segundo Sophia, há prazer em ver a própria evolução e a dos alunos: “É muito bom sentir como a pessoa entra e como sai da aula, essa transformação que é sutil, mas muito visível”.
No dia a dia, ela presencia outras transformações, menos sutis, por meio do trabalho social. O interesse por atuar nesse sentido vem desde a adolescência. “Eu queria entrar no Carandiru de qualquer jeito”, conta. Não sabe por que essa vontade surgiu, mas lembra que a mãe, a inglesa Maureen Bisilliat, fotografava pessoas humildes – as imagens que fez no Nordeste brasileiro entre 1967 e 1972 estão registradas no livro “Sertões: Luz & Trevas”, reeditado em 2019 pelo Instituto Moreira Salles. “Talvez eu tenha tido contato com o povo com ela. Mas ela ficava na foto, na estética. Eu vou mais fundo.”
Aos 17 anos, Sophia dançava e fazia teatro, e foi com essas atividades que conseguiu entrar no presídio. Lá desenvolveu cursos de teatro, dança, desfile, artes plásticas e literatura para os presos. Os projetos a tornaram conhecida e duraram de 1981 a 2000.
Em 2018, lançou o Treino na Laje, que oferece aulas de ioga e outras atividades para resgate da autoestima de moradores da periferia de São Paulo. Na pandemia, passou também a distribuir cestas básicas para famílias de comunidades carentes, além de refeições para moradores de rua. E se viu empregando cada vez mais tempo e dedicação na atividade. “Tudo o que eu faço é muito intenso. Nada é raso, sempre é mergulhado. O pior ou melhor é que vai dando certo: frutificando, criando mais braços, ficando cada vez maior”, diz. “Não era minha intenção fazer tudo isso. Era só dar aula de ioga. Uma coisa foi levando à outra.”
Hoje o programa distribui 1.200 cestas básicas por mês e atende 600 moradores de rua por dia. Sophia distribui a semana por zonas da cidade e conta com a ajuda de dez colaboradores. Faz ainda ações mais pontuais, como buscar livros de direito para uma estudante de uma comunidade ou tratamento dentário para outras. “Eu não ganho nada, mas ganho”, diz. “Apesar de eu acolhê-los, também me sinto acolhida e muito querida, muito respeitada.” Às vezes ela cansa, se decepciona. “Mas tenho que continuar. Vou ficar muito infeliz se parar.”
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