Takeo Kimura escreveu a história da sua vida em 400 páginas, em japonês, e entregou nas mãos da filha Cristina, a que melhor entende o idioma entre seus oito filhos. É ela quem traduz a trajetória inspiradora dele à lista Forbes 50+, desde quando deixou o Japão em busca de uma vida melhor e escolheu o Brasil para trabalhar como agricultor ao lado da esposa, Nobue, até a luta por um sonho em pleno sertão nordestino, prestes a completarem 89 e 90 anos, respectivamente.
Na década de 1950, aos 25 anos, Takeo ficou sabendo sobre a possibilidade de imigrar para o Brasil e se inscreveu na associação Rikkoukai, que preparava os futuros viajantes com aulas de idioma, cultura, geografia e costumes dos países para onde embarcariam. Durante os três meses de curso, conheceu Nobue, uma das únicas mulheres a frequentar a instituição. Apesar de terem bons empregos em sua terra natal, ambos tinham o sonho de conquistar a América e possuir as próprias terras, algo impossível no Japão.
Depois de muito bater o pé e conseguir convencer os responsáveis pela imigração a deixar uma mulher solteira, sem família, partir rumo a um novo país, Nobue embarcou no navio Brazil Maru dois meses antes do noivo, com a promessa de que se reencontrariam e se casariam. No dia de sua partida, Takeo ouviu o discurso que levaria como lema pelo resto da vida. “Não embarque para ter apenas sucesso financeiro, juntar dinheiro e propriedades. Vocês são pessoas de valor, transformem o lugar, transformem vidas, honrem o nome do Japão”, disse o veterano. Quando chegaram aqui, Takeo e Nobue assumiram os novos nomes, abrasileirados: Antônio e Vitória.
O casal passou por dificuldades e trabalhou em várias fazendas, plantando de tudo um pouco, até que conseguiu adquirir um sítio de sete hectares em Taubaté, no interior de São Paulo. Curioso, Takeo plantou uma série de coisas. Produziu uva, abacaxi, melancia, laranja, banana. Trouxe kiwi da Nova Zelândia e tentou por dez anos fazer funcionar, até que resolveu plantar aspargos e figos e conseguiu sucesso.
Mas o discurso da partida continuava vivo dentro dele. Decidiu que, depois dos 50, quando os filhos já estivessem criados, iria para o Nordeste brasileiro plantar figos, replicando as condições meteorológicas do semiárido encontrado no Oriente Médio. Viajou para o Ceará sozinho para conhecer mais a região e encontrar o lugar perfeito para iniciar a sua plantação. Como os herdeiros ainda estavam na fase de formar família e seguir o próprio caminho, precisou voltar para Taubaté e deixar o sonho em stand-by.
Passaram-se 22 anos, mas Takeo não esqueceu. Às vésperas de completar 87 anos, relembrou o projeto e pediu aos filhos que embarcassem na ideia. Ele tinha uma enorme sensação de gratidão pela terra que recebeu tantos imigrantes japoneses de braços abertos e queria retribuir de alguma forma. Os filhos juravam que aquilo não passava de um delírio e chegaram a tentar convencê-lo de desistir da ideia, mas Takeo pegou o dinheiro da previdência privada e partiu rumo a Tabuleiro do Norte, no Ceará, a mais de 200 quilômetros de distância da capital Fortaleza.
A filha Cristina brinca que não tem como barrar o samurai. Afirma que a garra está no sangue, assim como a coragem. Com 10 mil pés de figos plantados, Takeo aposta na temperatura e na luminosidade o ano todo para, em breve, saltar para 60 mil pés, produzindo toneladas da fruta por ano. Pela localização estratégica, vai conseguir produzir mesmo na entressafra do Sudeste, maior produtor atualmente.
Esperançoso, Takeo tem vontade de exportar os frutos e tornar o seu figo conhecido em nível mundial. “Ele quer deixar o povo do Nordeste orgulhoso e transformar a região toda. O sonho é atrair investimento, criar uma cooperativa e virar referência para que o dinheiro chegue também para estruturar a região e gerar empregos”, conta a filha.
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