Nos games, a sigla NPC remete a Non Playable Character. Em tradução literal para o português: Personagem Não Jogável. Geralmente, esse elemento está ali apenas como figurante de uma história ou para interações muito limitadas. Uma onda no TikTok, que começou em meados de julho, tem se espalhado e preocupa especialistas. Naquele mês, a tiktoker canadense PinkyDoll começou a publicar vídeos nos quais interpreta personagens e reage a presentes e recompensas de quem acompanha as lives.
O vídeo “Ice Cream So Good”, de 20 de julho, é o mais popular e ultrapassou 100 milhões de visualizações. Nele, PinkyDoll recebe sorvetes virtuais como presente e reage com a frase que dá nome ao vídeo. As lives, inclusive, se tornaram fonte de renda para muitos influenciadores – alguns chegaram a faturar cerca de R$ 50 mil por dia.
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Questionado e criticado por permitir a prática, o TikTok afirmou, em nota, que “apoia a liberdade de expressão e a diversidade de conteúdo na plataforma”. A empresa reforçou que “está comprometida em fornecer aos nossos usuários uma experiência segura e inclusiva.”
4 tendências do TikTok que influenciam outras redes sociais:
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Getty Images Disseminação do social health
Os conteúdos sobre a ‘vida real e sem filtros’ estão ganhando força nas mídias e isso é uma consequência do aumento da ansiedade entre os jovens. “70% das pessoas disseram que o Instagram fez com que eles se sentissem pior em relação à própria imagem. Apenas esse dado mostra o quanto as plataformas têm um poder gigante sobre a percepção da realidade dos indivíduos e o debate ganha novas camadas quando entramos em problemas de ordem psicológica. O social health vem como uma saída para mostrar que o que é apresentado é apenas um recorte de um todo que, como tudo na vida, não é perfeito”, explica Caio.
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Getty Images Consolidação das plataformas de conteúdo
Segundo o executivo, as redes sociais deixaram de assumir o papel de conexão e passaram a ser plataformas de consumo de informação e conteúdo. “Essa tendência pode ser entendida como uma adaptação das mídias digitais ao comportamento da Geração Z. Por serem nativos digitais, eles desejam consumir informações de uma forma mais rápida e olhar para conteúdos que estão de acordo com a sua realidade. As marcas, como propulsoras das principais pautas presentes na sociedade, devem se adaptar a essa característica e não usar as redes sociais apenas como vitrines de seus produtos e soluções, mas estarem a serviço de algo bem maior”, conta Machado.
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Getty Images Ampliação da creator economy
Para garantir a influência, nada melhor do que apostar no engajamento de pessoas que já estão, de certa forma, consolidadas entre o público potencial que as empresas desejam atingir. “Mais de 80% das pessoas já comprou algo indicado por influenciadores e 63% confiam muito mais quando essas personalidades dizem algo sobre uma marca. As empresas já não podem mais ignorar o poder da economia dos criadores de conteúdo e devem adotar estratégias, de acordo com os objetivos de negócio, que atendam a ações nesse sentido”, complementa o executivo.
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Getty Images Plataformas assumindo papel de buscadores
Caio explica que essa tendência tem relação direta com a expansão da creator economy e que, cada vez mais, as pessoas vão recorrer às redes sociais para buscar por produtos, reviews e dicas. “87% dos consumidores já fazem compras online e outros 75% usam as plataformas para buscar produtos. O papel que antes era assumido pelas próprias ferramentas de busca, hoje é incorporado pelas mídias. Isso se reflete, inclusive, na mudança das interfaces das plataformas e surgimento de termos e políticas para empresas que realizam vendas diretamente por esses meios”, finaliza.
Disseminação do social health
Os conteúdos sobre a ‘vida real e sem filtros’ estão ganhando força nas mídias e isso é uma consequência do aumento da ansiedade entre os jovens. “70% das pessoas disseram que o Instagram fez com que eles se sentissem pior em relação à própria imagem. Apenas esse dado mostra o quanto as plataformas têm um poder gigante sobre a percepção da realidade dos indivíduos e o debate ganha novas camadas quando entramos em problemas de ordem psicológica. O social health vem como uma saída para mostrar que o que é apresentado é apenas um recorte de um todo que, como tudo na vida, não é perfeito”, explica Caio.
“Os jovens estão focados no elemento divertido das lives NPC, só que considerar isso como piada é só a ponta do iceberg dessa violência à qual as pessoas estão se prestando no ambiente digital. É um direito constitucional? Sim. Eticamente e legalmente não é um problema fazer esse tipo de live, mas o argumento de ganho financeiro rápido é o ponto da discussão. A autonomia de quem se presta à humilhação no ecossistema digital passa a ser lucrativa. Quando as pessoas pagam para assistir essas exposições, é preciso olhar com cuidado para as justificativas, porque isso passa a ser humilhação domesticada, o que não quer dizer que não seja um tipo de violência”, pontua Ana Paula Passarelli, cofundadora e COO da Brunch, ecossistema de negócios com foco em creator economy.
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Issaaf Karhawi, pesquisadora em comunicação digital do Com+, núcleo de pesquisa de comunicação e mídias digitais da USP, chama a atenção para outras problemáticas envolvendo o tema. “Muita gente tem apontado para a ‘fetichização’ de corpos femininos e sexualização de meninas nas live de NPC, especialmente por conta do controle sobre o corpo do outro. Da minha perspectiva, outro ponto de atenção é o ecossistema do mercado de criadores de conteúdo e os aspectos de monetização. Quais são os limites para monetizar-se a si mesmo, numa lógica do ‘sujeito como mercadoria’? Parece que estamos testemunhando novos acordos morais em jogo, bastante alinhados às demandas das plataformas e às promessas de dinheiro fácil em um momento em que o país se recupera de diversas crises econômicas”, destaca.
“O TikTok deveria conter essa onda, pois estrategicamente esse tipo de conteúdo é ruim para a imagem da plataforma. Principalmente em um momento em que alguns países estão preocupados sobre os efeitos da rede para crianças e adolescentes. Enquanto a plataforma se esforça para mostrar aos anunciantes que não é só uma rede de ‘dancinhas’, essa moda vem como um soco no estômago desse trabalho de marca”, destaca Ricardo Cavallini, da Singularity e autor do livro “Para os seus próximos mil anos: um manual para as profissões que ainda não existem”.