A edição 121 da Forbes Brasil, que já está disponível no aplicativo da revista, traz, pela primeira vez, a Lista Forbes Melhores CIOs.
Eles estão no centro do maior furação tecnológico da história da humanidade, enfrentando diariamente questões ligadas a inteligência artificial, cibersegurança, proteção de dados, cloud, data centers, machine learning e, mais recentemente, até um apagão cibernético que afetou, em vários países simultaneamente, empresas tão grandes quanto ou maiores do que aquelas que ajudam a pilotar.
Nesse cenário, eles são responsáveis por melhorar o fluxo de trabalho, a agilidade e a produtividade, por aperfeiçoar a comunicação interna e externa, por analisar resultados com mais rapidez e precisão e, por fim, por reduzir custos e aumentar os ganhos de suas companhias. Tudo isso para “anteontem”.
Conheça a seguir 10 heróis da heróis da tecnologia corporativa:
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Foto: Victor Affaro Alaine Charchat, CIO da Reckitt na América Latina
Com passagens por algumas das maiores empresas de bens de consumo do mundo ao longo de seus 20 anos de experiência – entre elas, Johnson & Johnson, Unilever e Diageo –, Alaine Charchat assumiu a posição de CIO do Grupo Reckitt na América Latina em novembro de 2022. Anteriormente, a executiva havia acumulado os cargos de diretora de negócios digitais e de responsável pela tecnologia na J&J. Na Reckitt, chegou com a missão de acelerar o processo de transformação digital da multinacional britânica que completou 100 anos de Brasil em 2023.
Sob sua liderança, a empresa unificou as áreas de tecnologia das três unidades de negócio – higiene, saúde e nutrição –, otimizando investimentos, elevando a eficiência operacional e reduzindo a rotatividade de profissionais que atuam para marcas como Veja, Vanish, Bom Ar e Sustagen.
“Gerencio um budget que representa 1,5% do faturamento total da companhia e tenho um time de 50 pessoas, suportado por mais alguns parceiros de desenvolvimento, suporte e data & analytics. Somos o elo entre as áreas de Cnegócio e a estrutura global de TI, buscando sinergias nas implementações das demandas e potencializando os resultados”, explica a executiva. Sobre os desafios da cadeira de um CIO, Alaine destaca que um dos primeiros é a atualização das equipes. “Em seguida, precisamos ter muita clareza e governança dos dados para identificar onde é possível aplicar a tecnologia de forma eficiente, e aí esbarramos com o alinhamento de expectativas com as áreas de negócios.”
Com relação a inovações como inteligência artificial, prioridade na agenda dos CIOs, Alaine ressalta que a tecnologia pode ser um grande acelerador de eficiência e produtividade. “A IA é uma realidade para todos nós. Globalmente, executamos um [projeto] piloto em parceria com a BCG em que ilustram como a GenAI pode melhorar a produtividade e o crescimento”, afirma.
“Na América Latina já temos produtos implementados gerando alto retorno, como a solução para a força de vendas que faz análise histórica e recomendações, que já trouxeram crescimento de 5%. Ou soluções para as áreas de marketing, como modelos de elasticidade usando IA, que já nos permitiram ter 92% de acuracidade nos modelos aplicados, além de alguns milhões de libras em benefícios financeiros, graças à prevenção de perdas e ganho de receita. Também seguimos utilizando IA para conhecer ainda mais nossos consumidores e seguir aprimorando nossa relação, com produtos para as áreas de relacionamento com clientes”, destaca.
Formada em negócios pela Fundação Getulio Vargas, Alaine tem ainda uma especialização em inovação em Harvard e outra em transformação digital na Universidade da Virgínia. (LP)
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Foto: Victor Affaro Fábio Criniti, diretor de TI Heineken Brasil
Fábio Criniti começa nossa conversa pedindo desculpas por qualquer acesso de tosse que possa interromper a entrevista – o diretor de tecnologia da Heineken Brasil está muito gripado. No cargo desde janeiro de 2021, após uma passagem de seis anos pela Unilever, Criniti vem liderando a transformação digital da empresa (e não tem gripe que possa pará-lo). “Cheguei na Heineken olhando para data & analytics com o objetivo de construir um time para tocar essa transformação. Éramos seis no início e hoje, três anos e meio depois, temos mais de 30 pessoas”, explica.
Desde então, Criniti e sua equipe pensam constantemente em como utilizar dados para responder a perguntas de negócios, ou em como os dados podem servir para tomadas de decisão, ou ainda em como tornar a empresa mais data driven, mais direcionada aos dados. Tudo pensado para otimizar processos internos. “Mas não adianta nada você implementar alguma coisa se você não consegue mapear quais são os riscos, quem são as pessoas impactadas e tudo o mais. E, desde que cheguei, tinha muito na cabeça a importância de a gente fazer algo para todas as áreas da Heineken. Se eu for colocar em termos de prioridade, vendas sempre vão ser a número 1. Mas finanças é importante, jurídico é importante, RH é importante, o time de manufatura é importante.”
Junto ao time de RH, eles conseguiram resolver o problema de turnover que incomodava a empresa. Com a área da manufatura, seguiram garantindo a qualidade da cerveja. Com vendas, otimizaram rotas e transportes, evitando assim negociações de última hora a preços maiores e até fraudes. Nessas e em outras iniciativas, a empresa teve ganhos financeiros significativos. “Ter envolvido outras áreas de negócio engajou mais pessoas e nos deu poder para conseguir mais investimentos. Foi assim que chegamos a lugares que talvez nunca tivessem recebido atenção de outra forma.”
Algumas dessas iniciativas criadas pelo time capitaneado por Criniti foram premiadas em evento na matriz da Heineken, em Amsterdã, e foram adotadas globalmente. “Hoje vejo que a área de tecnologia realmente faz a diferença e pode até ajudar a ditar os rumos dentro da companhia por conta da otimização, da automatização, da inteligência. Lá atrás, a gente via muito a área de tecnologia dentro da estrutura de finanças, por exemplo. Na Heineken, já não é assim há uns bons cinco anos. E isso também possibilitou que as pessoas dentro de tecnologia saibam o propósito, entendam a estratégia e façam parte das batalhas da companhia.” Membro ativo das comunidades Data Circle Leaders e Open Mind Brazil, Criniti faz questão de se manter atualizado: neste ano, mal acabou de fazer um curso da Columbia University (Digital Strategies for Business Transformation) e já engatou outro na Harvard Business School (Program for Leadership Development). “Temos que ter foco na inovação e explorar, explorar cada vez mais. Também ocasionalmente errar, consertar rápido e recomeçar.” (DS)
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Foto: Victor Affaro Gustavo França, CIO global da Gerdau
A vida de Gustavo França está totalmente entrelaçada aos últimos 25 anos dos 123 da Gerdau. Foi na maior empresa brasileira produtora de aço e uma das principais fornecedoras de aços longos nas Américas e de aços especiais no mundo que ele começou como estagiário, em 1999. Exatos 20 anos depois, assumiu o cargo de CDO/CIO global da companhia. “A mudança mais profunda que vi nesse tempo todo foi que a área de tecnologia deixou de ser suporte para ser habilitadora. Deixou de ser a área que cuida do cabo de rede, do computador, para ser a que conduz modelos de negócio, que ajuda a habilitar na construção de processos. Então, é uma capacidade empresarial, não é mais o suporte da internet”, analisa.
Baiano de nascimento, França se considera um “curioso por definição”, e foi no campo da tecnologia que se encontrou e onde colocou sua curiosidade para trabalhar. Deu aulas de informática e computação básica, foi monitor de matemática e cálculo na faculdade, tentou estatística e se apaixonou por ciência de dados, área em que viu que poderia associar ciências exatas ao uso e adoção de tecnologia, programas de desenvolvimento e software. “Sempre busquei me jogar muito no novo; testava coisas diferentes que pudessem exercitar uma nova competência ou me ajudar no desenvolvimento de uma nova. Eu diria que curiosidade deixou de ser traço de personalidade e passou a ser habilidade.”
Foi assim, obstinadamente, que cresceu na empresa até se tornar responsável pela estruturação do Office de Inovação da Gerdau no Vale do Silício. Quando voltou ao Brasil, em 2019, tornou-se CIO global – e novos desafios lhe foram entregues. Coube a ele viabilizar o modelo de anywhere office durante a pandemia, monitorar quase mil fornos e motores com a ajuda de IA para que o fluxo industrial não fosse interrompido, criar uma plataforma autônoma de compras (a Gerdau Autonomous Buying Intelligence, ou Gabi), e implementar uma rede privativa 5G em sua smart factory de Ouro Branco, em Minas Gerais (é a primeira indústria do aço na América Latina que possui uma do tipo), entre outras iniciativas.
“Hoje mais de 60% da arquitetura da Gerdau é on cloud. Isso significa agilidade, inovação, capacidade de experimentação e também estabilidade e otimização do ponto de vista de custo. Queremos ainda nos próximos anos intensificar o uso da IA, seja para gerar e proporcionar a melhor experiência para os nossos clientes, seja para ampliar nossa competitividade industrial, reduzindo falhas e interrupções, aumentando previsibilidade de processo e rendimento na produção dos nossos produtos”, explica o CIO – que diz que, antes de ser líder de tecnologia, é um líder de negócio. (DS)
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Foto: Victor Affaro Joel Santiago, CIO da Marfrig para América do Sul
o cargo há mais de cinco anos, Joel Santiago é responsável por todo o escopo de TI da Marfrig no Brasil, Argentina, Uruguai e Chile. Anteriormente, acumulou 23 anos de experiência na Liberty Seguros, de onde saiu como superintendente de desenvolvimento de sistemas. Com mais de 30 anos de experiência em tecnologia no currículo, é graduado em administração de empresas, tem MBA em gestão empresarial e formação como conselheiro de administração pelo IBGC. Atualmente, um de seus principais focos profissionais e de estudos é a cibersegurança, tema que ganhou ainda mais urgência com o chamado apagão cibernético que atingiu vários países no dia 19 de julho.
“Minha paixão pela tecnologia da informação começou na adolescência, quando eu passava horas programando nos primeiros computadores pessoais lançados no Brasil. A verdadeira motivação para transformar esse hobby em carreira veio por meio do relacionamento com a minha irmã mais velha, que já atuava na área e me mostrou que aquilo que eu via apenas como diversão poderia se tornar uma profissão gratificante e lucrativa. Percebi que a tecnologia não só oferecia um futuro promissor, mas também tinha o poder de transformar vidas, desde ajudar indivíduos a organizar suas rotinas até otimizar processos complexos em grandes corporações, como aqueles nos que tive o privilégio de trabalhar ao longo da minha trajetória”, relata Joel.
Na Marfrig, ele lidera pilares importantes da área de tecnologia da informação, que incluem: governança de TI; segurança da informação; gestão de infraestrutura e operações de TI; desenvolvimento e manutenção de sistemas; gestão de projetos de TI; suporte aos usuários finais; e inovação e transformação digital. “Na minha visão, os desafios enfrentados por um CTO/CIO diante de novas transformações digitais, como a inteligência artificial, são numerosos. Em primeiro lugar, a segurança da informação é uma prioridade: é crucial proteger dados sensíveis contra ameaças cibernéticas, especialmente diante de novas vulnerabilidades que essas tecnologias podem introduzir”, destaca.
O executivo reforça que outro desafio significativo em sua área de atuação é a mudança cultural. “Implementar novas tecnologias exige que toda a organização se adapte a novas formas de trabalhar. O custo e o retorno dos investimentos também é um fator crítico. Nem toda inovação é adequada para qualquer negócio, e é essencial avaliar cuidadosamente o retorno sobre o investimento em novas tecnologias. Enfrentar esses desafios de forma eficaz requer uma abordagem estratégica e integrada, combinando tecnologia, pessoas e processos para alcançar uma transformação bem- -sucedida”, conclui. (LP)
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Foto: Victor Affaro Josilda Saad, CIO/CDO da Suzano
Em tempos de transformações tecnológicas cada vez mais velozes e disruptivas, uma qualidade como “experiência” pode soar coisa do passado. Não para a Suzano, a maior fabricante de celulose do mundo, e muito menos para Josilda Saad. Foi justamente por causa das três décadas de profundo conhecimento no setor de tecnologia que a Suzano chamou Josilda para ser sua CIO em setembro de 2023. “Nos 15 anos em que estive na empresa anterior, a Vale, fiz grandes movimentos de integrações, participei de toda a internacionalização e já estava liderando a frente de transformação de negócio. Então, essa visão da unificação, de já ter sentado na cadeira de tecnologia e de estar rodando programas de transformação, unir esses dois, entrou em sintonia com o projeto da Suzano.”
O convite a pegou de surpresa, mas a mudança de setor a deixou empolgada. “Você vê o brilho nos olhos de todo mundo aqui, não só pela questão das florestas plantadas, mas também porque é uma indústria completamente clean e humanizada. Fora isso, a Suzano chegou para mim com um plano de crescimento, de internacionalização, e com a necessidade de ter um executivo experiente sentado na cadeira, liderando a digital tech, que nada mais é que a união do movimento de transformação digital com tecnologia da informação. Porque, muito acertadamente, a Suzano percebeu que, para acelerar, é preciso unificar.”
Unindo esses dois mundos, Josilda vem liderando sua área em projetos dos mais variados. Em janeiro deste ano, foi lançada a primeira etapa do SupriJá, marketplace digital cujo objetivo é conectar consumidores a comerciantes de pequeno e médio portes quando o assunto é material de escritório. “Nós acreditamos fortemente em inteligência artificial aplicada para produtividade e queremos usá-la para disponibilizar ferramentas que aumentem a produtividade dos nossos usuários e colaboradores, que transformem seu modo de trabalho.”
Outro uso de IA é Ana Maria, assistente virtual criada para auxiliar em um dos processos mais importantes da fábrica, o cozimento da madeira. “A Ana Maria acessa todos os manuais e conecta com os dados de processo; é muita informação. O operador pode interagir com a assistente e vai perguntando coisas como ‘o que vai acontecer se mudar essa temperatura’? Como a Ana Maria acessou todos os documentos, ela diz a ele qual é o tipo de resposta que o equipamento vai dar e recomenda ações de como ele fazer o setup da máquina. Tudo em tempo real.”
A transformação digital na Suzano ocorre em todas as áreas, mas nada disso se sustentaria sem uma estrutura tecnológica forte. “Essa estrutura reforça nosso processo de internacionalização, ou seja, cria o jeito Suzano de operar cada linha de negócio em diferentes regiões, ainda mais agora, que compramos duas fábricas nos Estados Unidos e elas precisam se conectar a todo o resto da empresa. Precisamos combinar inovação com estrutura sem tirar a velocidade da companhia.” (DS)
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Foto: Daniel Berman Leandro de Paula, diretor de tecnologia Latam da Amazon
Baseado em Seattle, nos EUA, onde fica a sede da Amazon, Leandro acumula mais de 25 anos de experiência na área. Ele está na companhia há 10 anos e ocupa o cargo de líder Latam há três, depois de quatro anos chefiando a área de tecnologia da Amazon Brasil. Foi o primeiro funcionário de tecnologia da Amazon.com no Brasil e liderou momentos-chave da empresa no país.
Atualmente, lidera um time de especialistas (cerca de 400 pessoas) no desenvolvimento de diversas soluções inovadoras aplicadas ao e-commerce que resultaram na expansão internacional do negócio. Foi ele o responsável por lançar as verticais Marketplace, Retail, Prime, Fulfillment by Amazon e Amazon Logistics, entre outros programas hoje replicados em vários países nos quais a Amazon está presente. “São mais de 50 equipes de engenharia de sistemas, produto e dados distribuídas pelo Brasil, México, Estados Unidos e Canadá, que atuam em todos os aspectos do e-commerce: no sistemas de logística, transportes, eficiência operacional dos nossos centros de distribuição, conformidade com as regulamentações dos países, geração de notas fiscais, controle de inventário, integração com fornecedores, experiência dos nossos clientes no site e no app e interação com nossos vendedores parceiros”, explica o executivo.
Leandro afirma que a Amazon realiza mais de 100 projetos por ano, que vão desde a criação de novos modelos de aprendizado de máquina até grandes lançamentos. “Ter equipes de tecnologia autônomas e responsáveis pela estratégia nos diversos países possibilita que a empresa possa ter tecnologia e soluções moldadas pelas necessidades e especificidades locais, como diferentes malhas logísticas, regimes tributários, categorias de produtos, meios de pagamento, entre outros. Embora haja um alto grau de autonomia, isso não significa isolamento, pelo contrário. Nossa equipe atua de forma bastante conectada com as outras equipes de tecnologia ao redor do mundo, para garantir que, além da troca de conhecimento, as inovações criadas em uma região possam ser adotadas em países onde elas façam sentido”, reforça.
Sobre os desafios de um CIO, Leandro afirma que entre eles está o ato de filtrar quais tecnologias realmente trarão valor para os clientes e para o negócio. “É preciso definir o momento certo de adotá-las e preparar a empresa para as mudanças. Sabemos que novas tecnologias estão surgindo em um ritmo cada vez mais acelerado, e os ciclos de inovação estão cada vez mais curtos. Nesse ambiente, é fundamental a habilidade de CTOs/CIOs de discernir quais tecnologias resolvem um problema real da empresa ou abrem novas oportunidades e quais tecnologias e movimentos serão passageiros.” (LP)
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Foto: Victor Affaro Odercio Claro, diretor de TI da Klabin
Apesar dos 30 anos de experiência nas áreas de tecnologia da informação, transformação digital e inovação, Odercio Reginaldo Claro é um novato empolgado na Klabin. É que o paulista de Santo André – com passagens pela Mercedes-Benz, Braskem e Yara – assumiu há pouco mais de dois anos o cargo de CIO da maior produtora e exportadora de papéis para embalagens do Brasil. “A Klabin estava na iminência de fazer um projeto de SAP, que é o principal software que cuida do planejamento dos recursos da empresa. E eu já tinha feito algo em torno de 16 projetos assim. Eles estavam procurando alguém com senioridade, e achei interessante que tenham visto em mim esse perfil. Trazer um pouquinho da experiência de outras empresas para a Klabin é muito bacana, porque oferece a oportunidade de trazer coisas novas e, ao mesmo tempo, uma imensidão de coisas para aprender.”
Odercio também estava procurando mais autonomia e agilidade, afinal, em seu trabalho anterior (na norueguesa Yara, de fertilizantes), ele precisava sempre se reportar para o CIO global, e todas as tomadas de decisão levavam mais tempo para serem implementadas. O convite da Klabin, uma gigante brasileira, caiu como uma luva para seu desejo de fazer a tecnologia chegar mais rápido em todas as áreas da empresa.
“Vou dar um exemplo de um projeto interno. Como a gente precisava trazer uma fundação para criar uma plataforma para a TI continuar crescendo nos próximos anos, redesenhamos todo o modelo que tínhamos, porque era um modelo muito descentralizado. Na Klabin, conseguimos fazer muito rapidamente a centralização da governança para organizar as demandas de TI. Por que isso é importante? Se você não tiver uma governança em cima das ferramentas que você vai usar, o custo fica completamente inviável. Sem fazer essa fundação, essa centralização, não consigo crescer, não consigo propor coisas novas, porque o dinheiro vai ser finito”, explica.
Mas os olhos de Odercio brilham mesmo ao falar de dois projetos futuros. Um deles é o AI Office, um escritório de inteligência artificial cujos grandes objetivos são governar, suportar e capacitar para que todas as áreas da empresa possam tirar o melhor proveito de seus recursos, sempre pensando em uma base de dados confiável para alimentar a IA, nos cuidados com cibersegurança e nos custos.
O outro é chamado de Floresta Digital. “A Klabin tem 900 mil hectares de florestas. São áreas enormes, com densidade populacional quase nula e sem conectividade nenhuma. Se tiver conectividade, posso desbloquear muitas possibilidades naquela área. Posso ter máquinas autônomas trabalhando e posso fazer a manutenção dessas máquinas a distância. Floresta Digital é entregar conectividade a lugares remotos via satélite de baixa órbita. Esse projeto é nossa menina dos olhos.” (DS)
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Foto: Victor Affaro Paulo Celso Pires, CIO da Vale
Formado em engenharia metalúrgica, Paulo Celso Pires, CIO da Vale, iniciou a carreira na área de pesquisa e desenvolvimento de materiais, fez mestrado em engenharia e, depois, entrou na indústria aeroespacial, onde ficou por 21 anos, cinco deles sendo responsável por um Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia da Embraer nos Estados Unidos.
“Não venho de uma trajetória vivenciada em tecnologia, mas acredito que aí está justamente um diferencial. Passei por diversas áreas, desde a estratégia do negócio, produção, P&D e engenharia. Essa experiência multifacetada me permitiu ter uma visão holística dos processos empresariais que acredito ser fundamental para abordar a tecnologia de uma forma menos limitada e tradicional. Minha trajetória, portanto, me fez ver a tecnologia como uma grande alavancadora de qualidade, segurança e competitividade nas empresas”, avalia o executivo.
Dentro da Vale, Paulo enxerga a tecnologia como uma disciplina que conecta várias áreas. “No ano passado, assumi a posição de CIO na mineradora e sigo focado em posicionar a tecnologia como uma alavancadora da competitividade, da segurança e da qualidade, como disse antes. Buscamos soluções de tecnologia para o negócio como um todo, desde a otimização de processos de compras por meio de automatização, do desenvolvimento de ferramentas de suporte para atividades da área de pessoas, por exemplo, até a implantação de inteligência artificial – que utilizamos e desenvolvemos há mais de 10 anos – para aprimorar a cadeia logística de transporte do minério, com aplicações específicas para mina, ferrovia, porto e navegação”, explica o executivo.
Para ele, são quatro os desafios principais do CIO. “O primeiro é lidar com a escalada de tecnologias novas, como inteligência artificial, e garantir que elas sejam aplicadas de forma correta, segura e eficiente. O segundo é democratizar o uso da tecnologia, dando liberdade e agilidade para os usuários finais criarem soluções e aplicações com ferramentas disponibilizadas pela TI. No caso da Vale, temos um programa de democratização da TI que tem esse objetivo e que acreditamos ter potencial de tornar a Vale referência em inovação. Um terceiro e igualmente importante desafio é proteger o ambiente de TI da Vale contra os ciberataques, que são frequentes. Temos um time de segurança da informação muito competente e que trabalha intensamente nessa frente. Finalizo com um desafio básico, mas que não poderia deixar de citar, que é o de nos manter sempre atualizados e acompanhando as tendências e oportunidades que a tecnologia pode trazer para o negócio.” (LP)
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Foto: Victor Affaro Renata Marques, CIO Latam da Natura &CO
Renata Marques assumiu a posição de CIO da Natura &Co em fevereiro de 2020, com o desafio de habilitar, por meio da tecnologia, a integração, a expansão e a inovação do negócio. Um trabalho um tanto complexo, em um contexto temporal instável. O novo passo foi dado poucas semanas antes de ser decretada a pandemia, ainda no período de transformação da empresa, de expansão com a compra da Avon e de integração entre The Body Shop e Aesop.
Em sua jornada de liderança, Renata valoriza a diversidade como fonte de inspiração e inovação, promovendo, diz ela, “uma forma de fazer negócios na qual a tecnologia está a serviço das soluções para as pessoas e para o meio ambiente”. “A tecnologia humanizada pode ser usada para melhorar a vida das pessoas e das organizações”, afirma a CIO, ciente de ser uma liderança feminina em meio a um mercado ainda dominado pelo gênero masculino.
Formada em processamento de dados pelo Mackenzie, com pós-graduação em administração de empresas pela Faap e MBA executivo pela Universidade de Pittsburgh-Katz, Renata lidera e apoia movimentos de mulheres na tecnologia, além de iniciativas que promovem a formação de jovens nessa área. É membro da MCIO (Mulheres CIO), Cionet (CIOs Europa e Latam) e T200 (Global Women Network). Também é cofundadora da trilha C2T da Gonew Community, que atua na formação de membros de conselhos especializados em tecnologia. Na Natura &Co, criou o MulTIplas, um grupo de trabalho para que mulheres em tecnologia sejam referência para outras.
Filha de pai contador e mãe professora, na adolescência seu sonho era estudar odontologia. Moradora de Mogi das Cruzes (SP), porém, aos 15 anos foi levada pelos pais para fazer um curso de computação em São Paulo. Desde então, explora o universo da tecnologia da informação. Formou-se em processamento de dados e ficou 23 anos na Monsanto, onde entrou como estagiária e saiu gerente. Passou por outras empresas, como Whirlpool e ABB. Durante sua trajetória, trabalhou em transformação digital, inovação, estratégia de dados e de cloud, alavancas culturais por meio de plataformas de colaboração, ERP e governança corporativa.
Com receita de R$ 26,7 bilhões (2023), a Natura tem atualmente 1,8 milhão de consultoras no Brasil e 3,5 milhões na América Latina, sendo que a venda pela chamada Consultoria de Beleza representa 80% do total. Portanto, as soluções tecnológicas estão muito voltadas a esse exército, que Renata bem conhece. “Eu acredito que simplicidade é o maior grau da sofisticação”, diz.
Nessa jornada de simplificação, a Natura acelerou e aperfeiçoou as soluções digitais – como o aplicativo Consultoria, que consolida todas as atividades e ferramentas de uso para a consultora.
Segundo Renata, a inteligência artificial vem para ampliar o repertório da consultora. “Nunca vamos tirar a relação humana da equação.” (PC)
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Foto: Victor Affaro Ricardo Guerra, CIO do Itaú Unibanco
Com quase 32 anos de casa e desde fevereiro de 2016 no cargo de CIO, Ricardo Guerra está focado em adaptar o Itaú Unibanco às “necessidades do cliente, no tempo do cliente”. Para ele, velocidade é o nome do jogo no mundo digital. “Tivemos de reescrever um complexo legado, mas não é mais sobre transformação digital. É um jogo constante, uma vez que a tecnologia muda rápido, para nos habilitar a ser cada vez mais competitivos”, afirma. O executivo é hoje o responsável por toda a plataforma tecnológica do Itaú Unibanco e também pela adoção de novas, como inteligência artificial.
Guerra é graduado em engenharia civil pela Escola Politécnica da USP e em administração de empresas pela FEA-USP e obteve o MBA pela Kellogg School of Management, Northwestern University. Antes de se tornar CIO, foi diretor-executivo de sistemas e arquitetura, de canais e de dados. “Atuei em diferentes frentes, passei por experiência do cliente, risco, crédito, produto e voltei para tecnologia. Mais do que conhecimento técnico, é importante entender o negócio, basear as mudanças no modelo de negócio”, afirma.
O Itaú Unibanco é considerado o maior banco da América Latina em total de ativos (R$ 2,78 trilhões) e valor de mercado (US$ 67,9 bilhões), com base em dados de março de 2024. Com operações de varejo na América Latina, conta com quase 96 mil funcionários no Brasil e no exterior. Um de seus primeiros e principais marcos tecnológicos se deu em 1970, com a criação de uma das quatro principais centrais de processamento de dados do país. Em 1979, foi inaugurada a Itautec e, quatro anos depois, foi lançado o primeiro caixa eletrônico do país. Em 2008, houve a fusão do Banco Itaú e do Unibanco, dando origem ao maior banco privado brasileiro. Também foi nesse ano o lançamento do primeiro app bancário.
Hoje, segundo Guerra, a maior aposta de disrupção está na inteligência artificial generativa, que, entre outras oportunidades, promoverá hiperpersonalização, valorizando ainda mais os perfis comportamentais dos clientes. “O maior desafio são as pessoas. Ao longo do tempo, aprendi o quanto é importante ter um time talentoso, que faz provocação em escala para gerar fluxo de informação”, afirma o executivo. Para ele, as lideranças em tecnologia não podem ficar atrás do computador. “É preciso encarar diferentes realidades, e a capacidade de troca é fundamental. Precisamos ter conexões com esse mundo efervescente.” (PC)
Alaine Charchat, CIO da Reckitt na América Latina
Com passagens por algumas das maiores empresas de bens de consumo do mundo ao longo de seus 20 anos de experiência – entre elas, Johnson & Johnson, Unilever e Diageo –, Alaine Charchat assumiu a posição de CIO do Grupo Reckitt na América Latina em novembro de 2022. Anteriormente, a executiva havia acumulado os cargos de diretora de negócios digitais e de responsável pela tecnologia na J&J. Na Reckitt, chegou com a missão de acelerar o processo de transformação digital da multinacional britânica que completou 100 anos de Brasil em 2023.
Sob sua liderança, a empresa unificou as áreas de tecnologia das três unidades de negócio – higiene, saúde e nutrição –, otimizando investimentos, elevando a eficiência operacional e reduzindo a rotatividade de profissionais que atuam para marcas como Veja, Vanish, Bom Ar e Sustagen.
“Gerencio um budget que representa 1,5% do faturamento total da companhia e tenho um time de 50 pessoas, suportado por mais alguns parceiros de desenvolvimento, suporte e data & analytics. Somos o elo entre as áreas de Cnegócio e a estrutura global de TI, buscando sinergias nas implementações das demandas e potencializando os resultados”, explica a executiva. Sobre os desafios da cadeira de um CIO, Alaine destaca que um dos primeiros é a atualização das equipes. “Em seguida, precisamos ter muita clareza e governança dos dados para identificar onde é possível aplicar a tecnologia de forma eficiente, e aí esbarramos com o alinhamento de expectativas com as áreas de negócios.”
Com relação a inovações como inteligência artificial, prioridade na agenda dos CIOs, Alaine ressalta que a tecnologia pode ser um grande acelerador de eficiência e produtividade. “A IA é uma realidade para todos nós. Globalmente, executamos um [projeto] piloto em parceria com a BCG em que ilustram como a GenAI pode melhorar a produtividade e o crescimento”, afirma.
“Na América Latina já temos produtos implementados gerando alto retorno, como a solução para a força de vendas que faz análise histórica e recomendações, que já trouxeram crescimento de 5%. Ou soluções para as áreas de marketing, como modelos de elasticidade usando IA, que já nos permitiram ter 92% de acuracidade nos modelos aplicados, além de alguns milhões de libras em benefícios financeiros, graças à prevenção de perdas e ganho de receita. Também seguimos utilizando IA para conhecer ainda mais nossos consumidores e seguir aprimorando nossa relação, com produtos para as áreas de relacionamento com clientes”, destaca.
Formada em negócios pela Fundação Getulio Vargas, Alaine tem ainda uma especialização em inovação em Harvard e outra em transformação digital na Universidade da Virgínia. (LP)
*Colaboraram Dafne Sampaio e Paola Carvalho