Apesar de um pequeno alívio na última sexta-feira (2), quando recuou para perto de R$ 5,70, o dólar surpreende pela volatilidade neste início de agosto. A moeda norte-americana chegou aos maiores níveis desde dezembro de 2021, e promete tempos turbulentos.
Como explicar isso?
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A justificativa está fortemente ligada à incerteza no cenário à frente, diz Enrico Cozzolino, sócio e head de análises da Levante Investimentos. “Os fundamentos macroeconômicos indicam que os juros dos Estados Unidos reduzidos. E os resultados do payroll de julho, que vieram muito abaixo do esperado, reforçam a tese de que o corte poderá ser mais intenso do que o esperado anteriormente.”
Essa perspectiva de cortes mais acentuados nas taxas de juros nos EUA, após dados econômicos decepcionantes, contrasta com a situação de 2022. Na ocasião, o real estava mais forte.
O resultado do emprego de julho ajudou a pressionar o dólar. Segundo Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos, há um movimento mais claro de perda de força da moeda norte-americana em relação a outras moedas de referência, como o euro e iene.
Porém, a aversão generalizada ao risco está impedindo que o dólar se deprecie em relação às moedas de países emergentes. “O real não está se desvalorizando tanto porque já acumula uma queda significativa”, diz Beyruti.
No Brasil, a manutenção da taxa Selic em 10,50% ao ano e o crescimento do PIB melhor do que o esperado sugeririam, em condições normais, um dólar menos valorizado em relação ao real. No entanto, o que está direcionando o mercado é o estresse com a incerteza futura, especialmente em relação ao equilíbrio das contas públicas, observa Cozzolino.
Jefferson Laatus, estrategista-chefe da Laatus, afirma que o efeito se amplificou pela insuficiência dos esforços fiscais por parte do Executivo. “O governo precisa se posicionar de maneira mais austera e focar no centro da meta de inflação”, diz ele. O resultado mais recente do IPCA-15 mostrou um aumento de preços de 4,45% no acumulado em 12 meses até julho, o que é pouco abaixo do teto da meta de inflação.
Tempestade perfeita
A queda nos preços das commodities, das quais o Brasil é um dos maiores exportadores, também contribui para a valorização do dólar. E fatores internacionais influenciam esse cenário. “Estamos presenciando no mercado o desmonte de posições no iene devido à mudança na política monetária do Japão e à saída de divisas do Brasil”, aponta Laatus.
A combinação desses fatores cria o que André Colares, CEO da Smart House Investments, chama de “tempestade perfeita”. Segundo ele, a incerteza provocada pela perspectiva de uma troca de orientação no Banco Central brasileiro a partir de 2025 – com o fim do mandato de Roberto Campos Neto em dezembro deste ano – é apenas mais um componente para a volatilidade.
“O descontrole fiscal, o risco do conflito entre Israel e Palestina se alastrar no Oriente Médio após a morte do líder do Hamas. Tudo isso fez a moeda americana se valorizar sobre diversos países emergentes”, enumera Colares. “Os problemas internos amplificaram esse efeito sobre o real”, diz.
A tensão no Oriente Médio adiciona uma camada de volatilidade ao mercado cambial. Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, diz que “a combinação de incertezas geopolíticas no Oriente Médio e os movimentos técnicos relacionados às ordens de zeragem de posições vendidas formam um cenário que favorece a alta do dólar.” A validação de líderes incentivando retaliações a Israel tem trazido muita instabilidade ao contexto mundial, resultando em quedas intensas das bolsas globais.
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Esse ambiente de incerteza global leva investidores a buscarem segurança no dólar, considerado um porto seguro em tempos de volatilidade. A aversão ao risco se manifesta na venda de moedas de mercados emergentes, como o Brasil, e na compra de dólares. No fim, tem-se uma pressão adicional de valorização da moeda norte-americana.