Algumas vezes, é preciso que se recue um passo para poder, depois, caminhar dois para a frente. Eis um caso assim: por volta de 2003, um jovem executivo de finanças decidiu sair da empresa onde trabalhava. Para tanto, submeteu-se a algumas entrevistas de emprego. Em uma delas, um headhunter lhe disse que seu inglês não era tão bom e que deveria naquele momento, ao invés de buscar trabalho, aprimorar o domínio da língua.
Luis Rezende fez exatamente isto: pediu demissão na Maxxium (uma importadora de bebidas onde era analista financeiro) e viajou para Londres. Lá, durante sete meses, foi barman, auxiliar de cozinha e, mais que tudo, estudou incansavelmente o idioma local. “Foi uma das melhores coisas que fiz. Quando voltei, fui recontratado pela Maxxium para auxiliar o presidente da companhia em uma transição. Ele era francês, não falava inglês. Resultado: o responsável por tocar o processo acabou sendo eu. Não conseguiria isso se antes não tivesse vivido na exterior.”
Dos vários pontos de inflexão que a carreira do atual presidente da subsidiária brasileira da Volvo Cars teve, esse foi o mais significativo. Hoje, Rezende, aos 34 anos, comanda uma operação que vende cerca de 3 mil carros de luxo ao ano, com 28 concessionárias espalhadas pelo Brasil. Entrou na empresa em outubro de 2008 e é seu presidente desde janeiro deste ano.
Embora sua especialidade seja o setor de finanças (ele é formado em economia e possui um MBA pela Fundação Getulio Vargas), Rezende foi indicado pela matriz da Volvo (que fica em Gotemburgo, na Suécia) para liderar a companhia no país principalmente porque conhecia todos os aspectos da operação: “Nunca me contentei em lidar apenas com números. Sempre estive presente nas decisões sobre marketing, vendas, gestão. Fui um dos que lutaram para que a Volvo Cars brasileira existisse – havia a dúvida, quando entrei, se seríamos uma subsidiária ou se a importação de nossos carros seria delegada a terceiros”.
Atualmente, a montadora tem fábricas na própria Suécia, na Bélgica e na China (a Volvo Cars pertence a uma empresa chinesa, a Geely). É possível que surja uma fábrica da companhia no Brasil? “É possível. Mas, no curto prazo, isso não está sendo tratado ainda”, responde Rezende, cauteloso. Bem, se há alguém capaz de convencer os suecos de que vale a pena produzir por aqui, essa pessoa é ele. Esperemos.