“Todo dia eu torço para que o real fique mais forte; hoje, excepcionalmente, torci para que ficasse mais fraco, porque embolsei US$ 100 milhões” – foi com esta brincadeira que John Rodgerson, diretor financeiro da Azul Linhas Aéreas, participou do anúncio nesta sexta-feira, 26/06, da entrada da United Airlines no capital da empresa brasileira. A companhia americana adquiriu 5% das ações da Azul, e com isto passa a ter um assento no conselho de administração da empresa. Os US$ 100 milhões entram nos cofres da Azul em uma época na qual o setor aéreo brasileiro se ressente dos impactos da crise econômica que aflige o país.
“Todo mundo gosta de dinheiro, mas esse não foi o principal motivo da operação”, ressalta David Neeleman, criador e CEO da Azul. Ele observa ainda que as negociações entre as companhias começaram há vários meses, antes do acirramento da crise na economia local.
Segundo a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), a ocupação dos voos domésticos em maio recuou 0,4%, caindo para 78,21%. Já a taxa de ocupação dos voos internacionais recuou 0,44%, caindo para 82,58%. Já o preço das passagens caiu em média 20% em maio. Além disso, as companhias provavelmente terão de suportar em breve uma elevação da alíquota sobre suas folhas de pagamentos de 1% para 1,5%, o que acarretará um aumento nos custos para o conjunto das aéreas de cerca de R$ 200 milhões.
O montante aportado na Azul pela United inclui um acordo de compartilhamento de voos (codeshare) em rotas entre o Brasil e os EUA, e também em outros destinos. “O Brasil é um mercado importante em nossa malha de voos internacionais, e esta parceria reforça nossa presença no País”, afirma o vice-chairman da United, Jim Compton. Neeleman permanece como controlador da empresa, sendo dono pessoalmente de 67% do capital da Azul. Embora o acordo ainda demande aprovação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Antonoaldo Neves, presidente da Azul, adiantou que a integração dos sistemas entre as aéreas já se encontra em andamento e que o compartilhamento da malha de ambas vá se materializar em 30 ou 45 dias. Juntas as empresas terão condições de oferecer ligações para mais de 450 destinos e mais de 6 mil voos diários. “Isso será muito bom para nossos clientes. Com essa parceria, eles poderão ir do aeroporto Santos Dumont, no Rio, para Chicago ou de Porto Alegra para Las Vegas, por exemplo”, afirma Neeleman.
A entrada da United no capital da Azul reforça o recente movimento de internacionalização levado adiante por Neeleman, o qual no início deste mês comprou – em caráter pessoal e em parceria com o empresário português Humberto Pedrosa e fundos de investimento – a aérea portuguesa TAP. Neeleman frisa que a capilaridade da Azul é fator fundamental para o sucesso da companhia, e que este é um dos motivos de seus recentes movimentos. Com a operação, espera-se que a TAP abra mais voos diretos ao Brasil, da mesma forma que a United a partir de agora deverá incrementar sua atuação no País.
Em entrevista a FORBES Brasil, há dois anos, Neeleman revelou seu projeto de transformar a Azul na maior companhia de aviação do Brasil até 2023. Passo-a-passo, ele segue neste caminho: atualmente a empresa é dona de 17,15% do setor no País, ainda atrás da Gol (36,87%) e da TAM (36,46%), mas bem à frente da 4ª colocada no ranking, a Avianca (9,52%).