Até alguns anos atrás, tratava-se de uma tendência; agora, não. Isto porque hoje, quando o assunto é computação em nuvem, não se está falando sobre algo que tende a acontecer, mas sim sobre o presente do setor nacional de tecnologia da informação (TI). As empresas brasileiras aderiram, em grande número, à prática. O chamado cloud computing consiste no uso da memória e da capacidade de processamento de computadores e servidores remotos, via internet, por empresas e indivíduos. E não se trata de nuvem passageira, pois há vantagens evidentes no processo: com ele, economiza-se equipamentos, espaço físico e mão-de-obra. A companhia fica ainda liberada para focar esforços em sua atividade-fim, e não em TI. Mas há também, ao menos, uma desvantagem: o risco de que informações, senhas e até mesmo capital sejam acessados (e roubados). Em resposta, o investimento em segurança de dados vem crescendo; na verdade, isto sim é que pode ser chamado de uma tendência do setor.
“A computação em nuvem, hoje, é uma sólida realidade da TI brasileira. É algo que faz sentido para as empresas, tanto em termos de contenção de custos quanto na otimização de operações. Em síntese, gasta-se menos e sente-se o trabalho render mais ao aderir ao cloud computing”, afirma Maurício Cascão, CEO da Mandic Cloud Solutions. A empresa, fundada por Aleksandar Mandić, nome emblemático da internet brasileira, foi uma das primeiras do país a se dedicar à prática. Já em 2002 ela fornecia um email personalizado que podia ser acessado de qualquer local. De lá para cá a companhia mergulhou fundo no cloud computing — com êxito, frisa Cascão. Tanto que foi comprada em 2012 pelo fundo de investimento Riverwood Capital por R$ 100 milhões e recebeu, no ano seguinte, um aporte da Intel Capital, tornando-se com isso uma das maiores organizações brasileiras do setor de tecnologia da informação.
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Mas o fato é que, se os dados estão em bancos de memória localizados fora das instalações da corporação, há um risco maior de que sejam acessados por hackers interessados em capturar e vender informações a quem queira pagar por elas. As empresas que operam no país estão protegidas contra isso? “O Brasil situa-se na vanguarda no que tange à segurança de dados, não deixando nada a desejar em relação a quaisquer outros países”, acredita Gil Torquato, CEO do UOL Diveo, que oferece soluções em outsourcing (terceirização) de TI. “Além dos recursos oferecidos por grandes grupos especializados no segmento, acrescentamos aqui medidas adicionais que tornam as soluções aplicadas localmente bastante avançadas.” Alguns exemplos: apenas o UOL Diveo, conta ele, monitora mais de dois bilhões de eventos de segurança correlacionados em tempo real; bloqueia diariamente 300 milhões de spams e phishings (tentativas de fraude); e tem mais de 14 mil firewalls (bloqueios de segurança) sob sua gerência.
Para tanto, a organização conta com uma das maiores infraestruturas de data center do Brasil. Mas, antes de prosseguir, convém perguntar: como a indústria local de tecnologia da informação vem se saindo em 2015, um ano sabidamente difícil? A resposta: bem melhor que quase todo o restante da economia. “Seguimos com alta demanda por profissionais. Épocas de adversidade trazem a busca por maior eficiência, e nosso negócio é justamente este. Em suma, o setor de TI se expande mesmo em momentos de crise”, garante Cristina Palmaka, CEO da SAP Brasil. “Acredito, portanto, que temos muito a contribuir para a volta do crescimento. Várias empresas vêm aproveitando esse ano para investir em TI. Querem estar melhor preparadas para a futura retomada da economia. Então, há muitas chances para organizações como a SAP.”
O setor nacional de tecnologia da informação não é uma indústria pequena. Pelo contrário: segundo a consultoria IDC, somos hoje o quinto maior mercado de TIC (tecnologia da informação mais comunicação) do planeta. Em todo o mundo a atividade movimentou cerca de US$ 3,8 trilhões em 2014. “Os cinco maiores mercados em TIC são, pela ordem, Estados Unidos, China, Japão, Reino Unido e Brasil. O sexto é a Alemanha”, revela Renato Rosa, analista de Pesquisa e Consultoria na IDC. No Brasil, no ano passado, o setor gerou US$ 158 bilhões. Neste ano a previsão é que gere US$ 165,6 bilhões. Rodrigo Dienstmann, presidente no Brasil da fabricante de equipamentos de rede Cisco Systems, pondera: “O mercado digital tem um aspecto contra-cíclico interessante. Na medida em que os governos e as empresas buscam mais eficiência, procurando produzir mais com um orçamento menor, a tecnologia passa a ser uma chave. Ela permite otimizar processos, reduzir gastos, ampliar ofertas e melhorar a qualidade de produtos e serviços. A tecnologia é um dos pilares do aumento da produtividade em um país e, nesse momento, sua adoção entre nós é ainda mais imprescindível”.
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Se estamos falando de computação, estamos falando de capacidade de processamento de dados. Nada melhor, portanto, do que consultar a maior fabricante de processadores do mundo, a Intel, e sua histórica concorrente, a AMD. Ambas operam no país. “A Intel lançou em 2015 a 5ª geração da família de processadores Intel Core, entregando mais desempenho com menor consumo de energia. A 5ª geração é a primeira com a arquitetura de 14 nanômetros, e apresenta 2,5 vezes mais desempenho em relação a um processador lançado há quatro anos. Isso se traduz em dispositivos com mais do que o dobro do tempo de duração de bateria e oito vezes o desempenho em vídeo”, conta David González, diretor-geral da companhia no Brasil. Quanto a nosso mercado de TI, ele observa: “A falta de mão-de-obra pode se tornar um problema por aqui. Mas não considero que o Brasil esteja em desvantagem comparado a outros mercados emergentes. Se a indústria local caminhar no sentido da transformação dos setores de saúde e educação, e paralelamente se mantiver forte nos demais segmentos, creio que exista potencial para um crescimento na casa dos dois dígitos em nossa TI neste ano”.
Roberto Brandão, diretor-geral da AMD para o Brasil, segue a mesma linha. “O mercado local passa por uma transição bastante interessante”, observa. “No passado, o brasileiro tinha o hábito de comprar muitos PCs de baixo custo, com pouco valor agregado. Agora, adquirem um número menor de máquinas, mas de maior valor agregado e qualidade.” Brandão conta que, para a AMD, os consumidores domésticos e as pequenas empresas são a maior parte dos clientes no Brasil. Indústria e comércio compõem a demanda por máquinas de alto valor agregado, como estações de trabalho e servidores. E o governo (federal, estaduais e municipais) também contribui com uma boa fatia da procura por TI no país.
Mas, voltando ao tema da segurança de dados, o que todos estes atores precisam fazer para torná-la cada vez mais efetiva? “Eu vejo a segurança hoje nas pautas prioritárias de todos os países e empresas, principalmente após os vazamentos recentes de informação mundo afora, que impactaram nações, companhias e cidadãos”, responde Maurício de Paula, consultor da Teradata, uma agência de pesquisa e desenvolvimento do setor. “O fato é que a segurança está diretamente ligada às pessoas. E este é o elo fraco da corrente. Alguém tem a senha e a guarda de forma insegura, alguém esqueceu de mudar uma configuração padrão do sistema, e pronto — uma brecha de segurança foi aberta e é explorada por indivíduos mal-intencionados. Os colaboradores precisam ter clareza acerca de suas responsabilidades e dos impactos que a falta de segurança no universo informacional acarreta.”
Jun Endo, presidente no Brasil da Avanade, uma provedora global de eficiência em tecnologia da informação, afirma que, no passado, havia dúvidas em relação à segurança no ambiente digital, principalmente quando relacionada à cloud computing. “Hoje, porém, a computação em nuvem, que é cada vez mais adotada por empresas no mundo inteiro, já está consolidada e possui um alto nível de proteção às informações que transitam neste ambiente, tanto no Brasil quanto no resto do mundo”, diz.
E já que o assunto é tecnologia nada mais conveniente do que falar sobre o futuro. No caso, o futuro da TI. Um bom palpite a respeito quem traz é Marcelo Porto, presidente da IBM Brasil. “A grande novidade para esse ano e para os próximos são os sistemas e serviços que usam computação cognitiva. Esses sistemas na nuvem aprendem de uma forma muito semelhante a do ser humano, via compreensão da linguagem natural, gerando hipóteses baseadas em evidências e dando respostas de caráter probabilístico”, explica. “Eles assimilam dados continuamente, crescendo em valor e conhecimento ao longo do tempo a partir de suas interações com o entorno. Quanto mais velhos, mais eficientes e valiosos. Podem extrair informações importantes de um vasto conjunto de dados, com inúmeras possibilidades combinatórias, e que exigiriam um tempo muito longo para serem analisados com os métodos tradicionais de tratamento da informação”. Porto observa que a IBM possui seu próprio sistema cognitivo na nuvem, o Watson. O produto é muito empregado na área de saúde nos EUA e, no Brasil, está sendo usado pelo Bradesco.
E especificamente a TI nacional, para onde vai? “Entendemos que o país possui condições e potencial de se tornar um líder global entre as economias conectadas, oferecendo oportunidades de transformação digital a todos os tipos de empresa, e inclusive se destacando como um polo de criação de startups”, responde Pan Chulin, presidente da Huawei para a região sul da América do Sul. A companhia é uma das gigantes chinesas da tecnologia da informação. “No Brasil, iniciativas como o Programa Nacional de Banda Larga e, mais especialmente, o Banda Larga para Todos têm tido êxito na ampliação do acesso à internet. Com eles o país pretende fornecer a mais de 90% de seu povo banda larga de alta velocidade e levar fibra óptica a 45% da população urbana. Porém, para se consolidar como destaque global neste campo, é preciso que iniciativas de promoção da indústria local de TIC proliferem. O Brasil tem de ampliar a conectividade e participar do debate acerca da indústria 4.0 se quiser manter-se competitivo”.
Na mesma linha segue Marco Stefanini, CEO da Stefanini, fabricante nacional de softwares industriais. Sua empresa vai crescer este ano, absorvendo concorrentes. “A estratégia de ir às compras em 2015 vai fortalecer nossa atuação dentro e fora do País e contribuir para que alcancemos as metas propostas. Vamos investir fortemente na internacionalização e em negócios não só no Brasil, mas também em outras nações. No ano passado estivemos mais tranquilos nesse sentido, mas agora vamos retomar as aquisições”. Ele detalha: “Até agora, tivemos quatro movimentações importantes em 2015. Anunciamos a incorporação parcial da IHM Engenharia; nos unimos à Tema Sistemas, presente no mercado financeiro há 30 anos, para criar a joint venture Stefanini Capital Market; e lançamos a Inspiring, braço de telecom do Grupo Stefanini. Por último, divulgamos em junho a abertura de um escritório em Ontário, no Canadá, considerado o 2º maior pólo de tecnologia da informação da América do Norte”. Ele conclui que, embora os números da economia brasileira não sejam os desejados, a Stefanini acredita que o mercado de TI precisa reagir. “Certamente 2015 e 2016 serão anos mais difíceis, mas teremos que enfrentá-los com maior eficiência operacional e com a oferta de soluções que realmente impactem positivamente no negócio do cliente”, aposta.
Aliás, por falar em crise, Aleksandar Mandić tem uma boa história a respeito. Ele hoje se dedica integralmente ao aplicativo que criou no início de 2013, o MandicMagic. O que é este app? Trata-se de uma rede social de compartilhamento de senhas wi-fi de locais de circulação pública. O MandicMagic fornece senhas de restaurantes, cafés, clínicas e outros estabelecimentos onde é comum que haja acesso livre à internet. Cerca de 35 mil pessoas por dia fazem download do app. Quanto à história, é o próprio Mandić quem a conta. “A TI tende a crescer nos maus momentos, pois traz corte de custos e aumento da produtividade”, começa ele. ”Então, recentemente, estava conversando com um amigo, executivo do setor, e perguntei como iam os negócios. Ele me respondeu: veja, até há pouco tempo atrás não iam bem; mas agora, com a crise, tudo melhorou”. Um fecho brilhante, dado pelo maior pioneiro de nossa internet, a um debate sobre o presente — e o futuro — da TI brasileira.