Bernie Ecclestone, presidente e CEO da Fórmula 1, confirmou para FORBES que os donos de Silverstone, a casa do Grande Prêmio britânico, precisam do consentimento dele para venderem o circuito histórico.
O British Racing Drivers Club (BRDC), grupo formado por 850 corredores ilustres, incluindo o vencedor das 500 milhas de Indianápolis Mario Andretti, Roger Penske e Jackie Stewart, é o dono de Silverstone. Embora eles tenham tentado vender a pista várias vezes nos últimos cinco anos, o circuito não mudou de mãos. Mas a mudança pode ocorrer em breve.
LEIA MAIS: 10 equipes mais valiosas da Fórmula 1
Em setembro, o diretor de Silverstone, Patrick Allen, revelou a FORBES que planejava propor que o BRDC buscasse investimentos para assegurar o futuro do circuito.
Um relatório de dezembro do “Financial Times” sugeriu que um potencial investidor poderia ser a Jaguar Land Rover (JLR), a marca histórica de motor britânico, comprada pelo Tata Group, conglomerado indiano que patrocina a F-1 por meio de sua subsidiária Tata Communications.
De acordo com o “Financial Times”, Silverstone seria a casa da Jaguar Land Rover e de mais de mil funcionários da fabricante de automóveis. Além disso, também seria construído no local um hotel e um centro de patrimônio. Os dois últimos projetos apresentados no plano principal do circuito dão credibilidade ao relatório. Assim como o valor da pista.
O “Financial Times” afirmou que o consultor imobiliário Cushman & Wakefield informou que o valor de mercado da pista, das unidades industriais e do potencial de desenvolvimento dos terrenos seria de US$ 33,9 milhões. Essa informação reflete o relatório de outubro do jornal britânico “The Independent”, que revelou que Silverstone foi avaliada em US$ 34,2 milhões por Jones Lang Lasalle, expert em propriedades nomeado pela BRDC.
VEJA TAMBÉM: Simulador automobilístico mais realista do mundo custa R$ 620.000
Adquirir Silverstone aprofundaria os laços do Tata Group com a Fórmula 1 e colocaria a Jaguar como a salvadora da pista que recebeu a primeira corrida do campeonato em 1950. Seria também uma maneira de a Jaguar se redimir da desonrosa saída da F-1, em 2004, quando vendeu seu time para a companhia de bebidas energética Red Bull por apenas 1 dólar, após cinco anos de participação sem brilho na categoria.
No entanto, a situação não é tão simples como foi apresentada pelo jornal britânico. Isso porque é necessário o consentimento de Ecclestone e uma mudança de controle na cláusula de promoção da corrida do Grande Prêmio britânico. Além disso, os diretores da British Racing Drivers Club também precisam consentir que os membros do clube entrem na discussão da venda.
A BRDC confirmou a informação em um comunicado, de dezembro. Em setembro, Ecclestone expressou dúvida sobre o futuro do Grande Prêmio britânico. “Eu não sei se a corrida vai continuar”, afirmou.
Silverstone tem contrato para promover o Grande Prêmio da Grã-Bretanha até 2026, mas uma cláusula permite que a data seja antecipada. A pista vem sofrendo com perdas de renda nos últimos anos após alugar 280 acres de terra vizinha em 2013 para acabar com as dívidas. A situação de Silverstone levou ao pagamento de aproximadamente US$ 24 milhões de taxas de hospedagem pela corrida de F-1 em atraso. Isso significa que uma carta de crédito dos bancos é necessária para a corrida continuar acontecendo.
No entanto, em entrevista em 9 de setembro do ano passado, Patrick Allen revelou ao jornal britânico “Daily Telegraph” que existe o perigo de os bancos nua darem a carta de crédito. “Posso garantir o futuro? Não, não posso”, disse Allen. “Posso colocar a mão no peito e falar para o Ecclestone: ‘Não se preocupe, seu dinheiro está a salvo pelos próximos 10 anos?’ Não posso.”
LEIA MAIS: Mônaco ganhará ilha artificial com pista de Fórmula 1
O BRDC recebe receitas das taxas pagas pelos membros, pelo aluguel da pista e da venda de ingressos para o Grande Prêmio da Grã-Bratanha, assim como de outros eventos que ocorrem em Silverstone. Apesar disso, os problemas financeiros da pista continuam uma vez que não recebem financiamento governamental.
Os subsídios estatais normalmente cobrem as taxas de hospedagem enquanto os custos de funcionamento são cobertos pela venda de ingressos ou vice-versa. Como Silverstone não recebe dinheiro do governo, precisa da venda dos ingressos tanto para as taxas de hospedagem como para os custos de funcionamento. Com isso, os organizadores foram forçados a aumentar o preço dos ingressos para compensar a escalada das taxas de hospedagem. Em 2014, o preço dos bilhetes para os três dias do Grande Prêmio britânico foram os mais altos de todas as corridas. Ainda assim, houve um público de 120 mil pessoas no dia da corrida.
Patrick Allen tem conseguido ter lucro, mas advertiu que isso pode não ser suficiente se o aumento da taxa continuar. “Você tem de vender mais ingressos todos os anos e isso vai se tornar cada vez mais difícil.” É por isso que Allen sugere que o BRDC busque mais investimentos.
A pista recebeu a primeira rodada do Campeonato de Fórmula 1 em 1950 e, apesar das ameaças de Bernie Ecclestone de tirar a corrida de lá, ela se mantém no calendário. “Eles precisam de um pouco de apoio do governo porque fazem coisas boas para a Inglaterra. Uma pessoa me falou hoje: ‘A única maneira de você conseguir alguma coisa é cancelar a corrida para, talvez, as pessoas acordarem’”, afirmou Ecclestone à rede britânica Sky Sports em outubro do ano passado. Isso é impensável.
O Grande Prêmio da Alemanha deixou o calendário de 2015 pela primeira vez desde 1960 e a França não tem uma corrida de F-1 desde 2008. O Grande Prêmio da Itália no circuito de Monza é outra corrida histórica ameaçada se não conseguir pagar a F-1.
“Nós precisamos ter certeza de que o Grande Prêmio britânico vai continuar vivo e bem e não seguirá o mesmo caminho dos outros”, disse Allen a FORBES em setembro. “Nós não sabemos sobre Monza. O Grande Prêmio da França acabou e eu acho que seria uma vergonha se nós perdêssemos o Grande Prêmio da Grã-Bretanha por falta de investimentos”, completou.