Quando mergulhou em direção à falência em 2009, a General Motors Co. foi criticada por sua relutância em mudar. Agora, com a indústria automotiva indo em direção a um ponto onde carros dirigem sozinhos, a montadora está tentando se colocar na frente da curva.
Na última sexta-feira (11), a GM disse que adquiriu a Cruise Automation, uma empresa de software de São Francisco que tem desenvolvido tecnologia de veículos autônomos, de acordo com o “Los Angeles Times”. A GM planeja usar a tecnologia da Cruise para dar capacidade de autonomia a seus veículos, porém, provavelmente, não a seus veículos existentes. A empresa ainda não anunciou quando a tecnologia será integrada aos veículos da montadora, apenas que será “o mais rápido possível”, disse Kevin Kelly, porta-voz da GM, ao jornal.
O acordo marca a mais recente investida de Detroit no Vale do Silício. Também na sexta-feira, a Ford Motor Co. anunciou a criação da Ford Smart Mobility, uma subsidiária focada em desenhar, criar e investir em coisas como veículos conectados e tecnologia autônoma.
Há dois meses, a GM comprou as ações da Sidecar Technologies Inc., uma empresa de caronas pagas de São Francisco, e investiu US$ 500 milhões no serviço de caronas pagas Lyft. A GM e a Lyft planejam colaborar em um serviço que irá permitir que usuários reservem um carro autônomo.
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Fundada em 2013, a Cruise Automation é mais conhecida por seu software que deu capacidade de piloto automático a carros convencionais, disse Kyle Vogt, fundador e CEO da empresa, ao “Los Angeles Times”. Há cerca de um ano e meio, a empresa mudou seu foco para tecnologias totalmente autônomas. Cruise disse que é uma das poucas empresas com permissão do California Department of Motor Vehicles para testar carros autônomos em vias públicas. “Nós compartilhamos uma visão com a GM sobre como veículos autônomos vai mudar o mundo”, disse Vogt. “Nós já estávamos nesse caminho, e permanecemos nele.”
Os termos financeiros do acordo não foram divulgados, e Vogt e Kelly disseram que não iriam comentar “especulações” sobre valores. O “ReCode” e a “Fortune” citaram fontes anônimas que disseram que o valor foi de, no mínimo, US$ 1 bilhão. A GM disse que a Cruise vai continuar a operar em São Francisco, mas funcionará como uma unidade independente dentro do recentemente formado time de desenvolvimento de veículos autônomos da montadora.
“A Cruise fornece à nossa empresa uma vantagem tecnológica única que é incomparável em nossa indústria”, disse Mark Reuss, vice-presidente executivo da GM. “Nós pretendemos investir significativamente para aumentar o case de talentos e de capacidades que já foram estabelecidos pelo time da Cruise.”
Os investimentos da Sidecar e Lyft – e o lançamento em janeiro do serviço de compartilhamento de carro da GM, o Maven, que permite que usuários reservem e destravem veículos com seu smartphone – indicam que a empresa quer integrar novas tecnologias rapidamente.
“A GM está, na verdade, investindo em produtos que já foram desenvolvidos, então eles não estão inventando do zero”, disse Rebecca Lindland, uma analista sênior da Kelley Blue Book, empresa norte-americana de avaliação e pesquisas automotivas, ao jornal. “Isso faz sentido, economiza dinheiro e potencialmente acelera a taxa de adoção e a tecnologia e integração.”
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Tecnologia é, agora, a maior diferença entre os veículos, pois sua qualidade, durabilidade e confiabilidade são muito parecidas, disse Ed Kim, vice-presidente da indústria de análise e pesquisa de mercado AutoPacific. O melhor exemplo de combinação perfeita entre tecnologia e automóveis é a Tesla Motors Inc., afirmou. “Em qualquer outro lugar da indústria automotiva, as montadoras estão tentando interagir com empresas de tecnologia, mas a Tesla é, por sua natureza, as duas coisas”, disse Kim. “É certamente uma força motriz no sentido de obter as montadoras tradicionais realmente pensando sobre o futuro e… como a tecnologia se encaixa no futuro do automóvel.”
Esse futuro representa uma ameaça ao modelo de vendas das montadoras tradicionais. “Ao passo que os veículos autônomos se tornam mais e mais difundidos, especialmente em áreas urbanas… nós olhamos para um futuro potencial onde a propriedade de carros pode diminuir”, disse Kim. “Isso tem um potencial muito grande e vastas implicações no sentido em que isso definitivamente vai ter um impacto no futuro do volume de vendas de automóveis.”
A GM e a Ford têm incrementado sua presença no Vale do Silício. A Ford disse que sua nova subsidiária Smart Mobility funcionará como uma startup e terá operações em Palo Alto e Dearborn, no Michigan. Em janeiro de 2015, a montadora abriu um centro de pesquisa em Palo Alto dedicado a tecnologias automotivas avançadas, como veículos autônomos e pilotados remotamente. Em dezembro, a Ford recebeu uma permissão para começar a operar carros autônomos em vias públicas.
Em comparação ao morno interesse da Ford e da GM no desenvolvimento de veículos de energia alternativa nos anos 2000, agora parece diferente, disse Jessica Caldwell, analista sênior da Edmunds.com. “Há mais visibilidade nessa questão”, afirmou. “Tudo isso vale o ruído. Fazer um esforço em direção a melhorar a eficiência de combustível não era tão interessante em 2007. Eu acho que eles estão sendo mais proativos nessa questão.”
GM e Lyft vão alugar carros de graça
Será que os aluguéis baratos de carro são o futuro das caronas compartilhadas? É nessa visão que a Lyft e a General Motors estão apostando. Dois meses após a GM ter investido US$ 500 milhões no aplicativo de caronas pagas Lyft, as duas empresas estão se associando para lançar a Express Drive, serviço de aluguel de carros para motoristas da Lyft que começará em Chicago e irá para Boston, Baltimore e Washington D.C. em breve.
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Os detalhes: por US$ 99 por semana, incluindo seguro e manutenção, além de US$ 0,20 por milha, os motoristas de Chicago podem alugar crossovers Chevrolet Equinox por até oito semanas. No entanto, o custo diminui ao passo que os motoristas completam mais viagens da Lyft. Se um inquilino completar 40 viagens em uma semana, a Lyft vai pagar a GM suas taxas por milha. Com 65 viagens por semana, a Lyft cobrirá a taxa total de US$ 99, o que torna o aluguel efetivamente grátis para o motorista.
A curto prazo, a Lyft espera que esse programa a ajude a ganhar mais motoristas exclusivos para sua plataforma nas ruas nos Estados Unidos. A empresa diz que 60.000 pessoas em Chicago se inscreveram para dirigir para a Lyft, mas não tinha um carro que se adequasse às exigências (ano do modelo, quatro portas etc.). Essa parceria de aluguel é similar aos que a Lyft já oferece com a Hertz em Denver e Las Vegas, assim como uma parceria entre a Uber e a Enterprise em seis cidades norte-americanas.
A principal diferença aqui é o que isso sinaliza em relação ao relacionamento próximo entre a GM e a Lyft. A gigante automotiva de 107 anos está tentando gerenciar uma mudança no compartilhamento de caronas e nos veículos autônomos, enquanto a startup de quatro anos de idade está travando uma batalha conta a líder do mercado, a Uber. As duas empresas estão trabalhando juntas a longo prazo para integrar a tecnologia de veículos autônomos em seus modelos de negócios.