Apertem os cintos, os lucros sumiram: a Gol, maior aérea brasileira em passageiros transportados (em 2015, foram 35 milhões) terá de renegociar suas dívidas para não se ver obrigada a entrar em concordata (recuperação judicial). Seu presidente, Paulo Kakinoff, informou ao mercado que a empresa teve prejuízo de R$ 4,3 bilhões no balanço de 2015. É o maior prejuízo líquido da história da Gol. Há muitos culpados por tal resultado, mas um dos principais são as dívidas da companhia; para pagá-las, a Gol tira até R$ 4 milhões por dia de seus cofres, que já andam magros.
“O prejuízo apurado pela Gol assusta pela dimensão, mas não se pode dizer que é uma completa surpresa. São múltiplos os fatores que o geraram”, afirma Christian Majczak, especialista em aviação da Consultoria de Negócios Go4. “A desvalorização cambial, que potencializa o efeito dos juros e da dívida da empresa, boa parte da qual é dolarizada; a pressão inflacionária, com aumentos verificados em custos e despesas; a dificuldade em se praticar reajustes tarifários nos níveis necessários devido à pressão exercida pela redução da demanda. As organizações estão cortando gastos, inclusive com viagens, e o turismo não vem apresentando mais os níveis de entusiasmo de outrora”.
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Algo, portanto, terá de ser feito. Kakinoff mesmo admitiu isso: “Com os atuais níveis de tarifa, demanda e câmbio, não há como reverter os maus resultados da empresa sem um ajuste em sua estrutura de capital”. Para tanto a Gol já contratou duas consultorias financeiras – SkyWorks Capital e PJT Partners – para ajudá-la a cortar despesas e elevar receitas. A empresa deve cortar até 18% de seus voos, retirar 20 aviões de sua frota nesse ano e deixar de voar para 8 destinos. E não poderá contar com novos aportes de seus sócios para ajudá-la a manter-se: no ano passado tanto a família Constantino quanto a aérea americana já colocaram na empresa, juntos, US$ 150 milhões – e não se mostram dispostos a repetir a dose.
Agora, é hora de voar atrás do prejuízo, literalmente falando. “A empresa anunciou medidas acertadas para a recuperação de sua saúde financeira: redução da oferta de assentos, redução de investimentos (aquisição de novas aeronaves, por exemplo) para este exercício, corte de gastos”, observa Majczak. “Certamente seus clientes serão prejudicados, mas tais ajustes são inevitáveis. É bastante difícil resolver um dos seus principais fatores de risco, a variação cambial. Para equilibrá-lo seria necessário que a companhia aumentasse expressivamente as receitas em dólar. O mercado aéreo internacional, no entanto, é altamente competitivo e o setor sofre com seus resultados no mundo todo. Como alento e esperança, ao final deste trimestre o dólar parece apontar para uma trégua temporária, trazendo mais alívio para os custos das companhias aéreas. Já a recuperação da demanda… depende do que sobrar do furacão em Brasília”, finaliza o consultor.
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