O Brasil entrou, definitivamente, no mercado e no circuito de shows de música eletrônica. Tanto nomes consagrados do gênero quanto grandes festivais que nunca tinham chegado por aqui, como o TomorrowLand e o EDC, já têm agenda garantida no país – os DJs pretendem voltar sempre que possível e os festivais devem manter edições anuais. Mas bem antes disso se estabelecer – ou estar a caminho de –, uma rave, que já dura 20 anos, fazia bastante barulho por aqui: a XXXperience.
Fundada em 1996 pelos DJs Feio e Rica Amaral, a festa pegou o espírito das grandes raves europeias e garantia quase 24 horas de música. A estrutura era simples: um palco, um DJ por vez e um público que chegava a 400 pessoas – já bastante expressivo para uma primeira edição.
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“Entre 2008 e 2009 houve uma transformação. Entrou a pluralidade, com várias pistas simultâneas e a tentativa de trazer o que tinha de mais novo no mercado da música eletrônica. Aí deixamos de ser uma rave para virar um festival”, diz Érick Dias, sócio e diretor-artístico do evento. Por meio da internet e de viagens para diversos festivais em todo o mundo, ele é o responsável por fechar as programações e entregar o lineup para o público. Dias está na organização do festival desde 1998 e também é responsável pela cenografia.
Edson Bolinha, sócio e diretor-financeiro do XXXperience, explica a escolha pela mudança de perfil da festa: “O mercado foi crescendo, a música eletrônica deixou de ser uma tendência e virou realidade, virou mainstream. A molecada de hoje, que está com 18 anos, já nasceu com a música eletrônica bombando. Então foi uma aposta pra virar um canal relevante e não envelhecer”. Bolinha garante que o festival é rentável desde os primeiros anos: “Quando entramos na sociedade, em 1998, o XXXperience já deu dinheiro. Claro que às vezes tem um evento ou outro que tem menos público, que não acontece da forma planejada. Mas é rentável”.
Festivais que vão e vêm
O Brasil já viu dezenas de festivais nascerem e morrerem, não só de música eletrônica: Skol Beats, CloseUp Planet, TIM Festival, o clássico Free Jazz Festival… Então, qual é o segredo para um evento desse porte sobreviver por duas décadas? Os sócios têm opiniões parecidas e valorizam a independência: “Somos 100% independentes. Temos patrocinadores, mas não estamos vinculados a nenhuma marca. Assim, a gente consegue ter uma flexibilidade maior. Tem uma base, uma linha guia pra trabalhar, mas sempre de forma independente”, afirma Dias. Bolinha reforça essa característica e acrescenta outros pontos: “Nunca precisamos de um patrocinador para o nome. Ele é bem-vindo, claro. Se tem patrocínio, tem mais produção. Acho que durar 20 anos é acertar mais do que errar pelo caminho. E a XXXperience é sempre experimentação. Planejamos sempre um ano na frente, não existe festa pra daqui um mês”.
Mas e a crise?
Se Dias tem a difícil missão de escolher artistas para o festival, Bolinha, como diretor-financeiro, tem que lidar com os humores do mercado – especialmente num evento que conta com muitas atrações de fora do Brasil, com cachês e despesas em dólar. “Ficou muito mais difícil fechar a conta. Por sorte estamos com uma safra de brasileiros muito boa e isso acaba nos ajudando. Os artistas internacionais têm que se sujeitar a cachês… A gente faz a oferta e ele nos diz se aceita a negociação”, conta o diretor.
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Com 2016 já planejado, a organização começa agora a pensar em 2017. Mas o cenário ainda é bastante nebuloso: “Tenho 41 anos, sou engenheiro civil, tenho empresas há 20 anos… Uma das minhas funções é decifrar o futuro próximo. E eu nunca tive tanta dificuldade. Nosso objetivo era fazer mais eventos por conta da comemoração de 20 anos… É bacana como negócio e pessoalmente é muito bacana fazer 20 anos. Independentemente da cotação, eu trabalho com dólar sempre a R$ 4,70 e vejo a viabilidade… Trabalho com a pior perspectiva para não errar”.
Festas e lançamentos comemorativos
A XXXperience terá seis edições em 2016, com locais já confirmados: Porto Alegre (19/03), Curitiba (14/05), Belo Horizonte (data a definir), Brasília (28/05), Rio de Janeiro (11/06) e Itu (12/11), na Arena Maeda. Além disso, um livro fotográfico e um documentário vão contar os 20 anos do festival. “Com o photobook estamos tendo mais dificuldade, principalmente para arrumar algumas imagens do começo, não tinha esse cuidado que temos hoje, de registrar e guardar tudo. Já o documentário vai mostrar que o tempo de vida do festival se confunde com o tempo da cena eletrônica no Brasil e com o seu crescimento”, afirma Dias.