O FBI defendeu a contratação de terceiros para quebrar o sigilo do iPhone usado por um dos atiradores no massacre de San Bernardino, na Califórnia, no ano passado. O argumento é que a agência norte-americana precisou se juntar a hackers pagos já que as empresas de tecnologia resistem cada vez mais às demandas sobre informações dos clientes.
Nesta quinta-feira (21), o Congresso norte-americano reuniu autoridades relacionadas à segurança e executivos do Vale do Silício para discutir uma potencial legislação de criptografia, assunto que tem gerado polêmica sobre privacidade. A audiência vem depois de uma disputa judicial entre o FBI e a Apple pelo destravamento dos seus dispositivos.
Na audiência, Amy Hess, assistente executiva da área de ciência e tecnologia do FBI, não deu detalhes de como a agência conseguiu ter acesso ao iPhone do atirador da Califórnia, mas que usou terceiros para isso sob a justificativa de que, embora isso não seja comum, era a única solução. “Essas soluções, que nós talvez possamos adotar, necessitam de recursos altamente especializados que muitas vezes não estão diretamente disponíveis para nós”, explicou Amy.
“Eu não acho que confiar em terceiros seja um bom modelo”, afirmou a deputada democrata Diana DeGette, do Colorado. Ela questionou se a atitude era ética e se isso não poderia abrir precedentes para riscos de seguranças maiores. Amy não respondeu à pergunta diretamente, mas assumiu que a agência tem de revisar a operação para garantir que eles têm ciência de todos os riscos e benefícios.
Já Bruce Sewell, conselheiro geral da Apple, afirmou na audiência que a criptografia não ajudou as autoridades a resolver crimes. Ele defendeu as práticas de segurança da empresa e argumentou que, nos últimos dois anos, o governo chinês também tem pedido seu código e eles têm negado.
De acordo com um relatório publicado na segunda-feira (18), o governo norte-americano fez 4.000 pedidos de dados de clientes à Apple. Se considerar desde a segunda metade do ano passado, o número sobe para mais de 16.000.
O FBI alega que o número de dispositivos criptografados tem aumentado. Segundo Amy, 13% dos aparelhos capturados desde outubro são impenetráveis. Quando questionada se o FBI e as empresas de tecnologia estavam em caminhos oposto, a executiva respondeu: “espero que não”.
Um grupo de empresas de tecnologia, incluindo Apple, Facebook, Google e Microsoft, enviaram uma carta aos senadores que criaram a emenda da criptografia. “Qualquer requerimento de criptografia, como este incluso na discussão que a emenda vocês levantou, irá levar a consequências não intencionais”, argumenta o grupo.